Estudo bíblico 26
Pastora: Juliana Alonso Pomposo
Professora: Seminario Luterano Augsburgo, del programa de Con perspectiva de Género SEMLA.
1 Crônicas 7. 20-24
20 Os filhos de Efraim: Sutela, de quem foi filho Berede, de quem foi filho Taate, de quem foi filho Eleadá, de quem foi filho Taate,
21 de quem foi filho Zabade, de quem foi filho Sutela; e Ezer e Eleade, aos quais os homens de Tate, naturais da terra, mataram, por terem descido para tomar o seu gado.
22 E Efraim, seu pai, os pranteou por muitos dias, pelo que seus irmãos vieram para o consolar.
23 Depois juntou-se com sua mulher, e concebendo ela, teve um filho, ao qual ele deu o nome de Berias, porque as coisas iam mal na sua casa.
24 Sua filha foi Seerá, que edificou a Bete-Horom, a baixa e a alta, como também a Uzem-Seerá.
Aproximando-se do texto
O texto conta a história de uma família que vive pelo menos três momentos interessantes. Primeiro, os filhos de Efraim roubam gado e por isso eles são mortos. A família enfrenta a perda dos filhos, o que nesse contexto implicava não só a perda de filhos, mas a possível perda de bens e honra.
Efraim passa por um profundo processo de tristeza por não ter filhos e, portanto, não ter descendentes. O texto menciona que há pessoas que o acompanham na sua tristeza, no entanto, ele é incapaz de superar a dor, até que ele e sua esposa tenham outro filho a quem nomeiam Berias, o que significa desgraça.
Este filho desgraça, tem uma filha chamada Seerá. Ela é uma mulher que nasce em um contexto familiar que foi atormentado pela morte, tristeza e desespero. Mas ela também enfrenta uma realidade patriarcal na qual o que se possui (se alguém tem alguma coisa) corre o risco de ser perdido se não há nenhum homem descendente. A história do texto não conta sobre o nascimento de crianças do sexo masculino, refere-se apenas ao fato de que Berias tem uma filha e com ela a possibilidade de perda de propriedade. No entanto, o texto dá uma virada quando menciona que Seerá construiu três cidades.
Um olhar feminino
O texto não dá mais detalhes sobre a vida dessa mulher, mas olhando para a hermenêutica da suspeita1, pode-se pensar que em um contexto tão patriarcal e com uma história familiar tão complexa, essa mulher teve que fazer um esforço para deixar de lado todos os preconceitos que a cercavam (morte, tristeza, depressão, desesperança, e assim por diante) para dar lugar a um processo de transformação que salvaguardasse sua vida e a de muitas outras pessoas.
A partir dessa abordagem pode-se dizer que Seerá rompe com os padrões de seu tempo, uma vez que é notório que ela luta para que sua voz seja ouvida, seu trabalho seja reconhecido, e para desenvolver sua liderança em um contexto onde os homens foram os que exerceram esse tipo de atividade.
Também é importante pensar sobre os desafios que Seerá enfrentou a nível familiar, os esquemas que ela teve que quebrar para se situar como mulher que conseguiu estabelecer cidades, que fez seu caminho através de desgraças familiares e posicionou-se como uma mulher autônoma, determinada, trabalhadora, estrategista, forte, resiliente, ou seja, uma grande líder.
Da mesma forma, é importante perceber que as três cidades que esta mulher construiu tornam-se comunidades importantes para o povo de Israel em mais de uma ocasião, livrando da morte e dando vitória àqueles que buscaram o bem-estar das famílias, particularmente mulheres e crianças.2
Um olhar para nossa realidade
Hoje, em meio a situações tão complexas como violência, opressão, silenciamento, intimidação e diminuição das mulheres, é interessante retomar a história dessa mulher que não permitiu o passado de sua família (morte, depressão, desespero) e sua própria história (ser mulher em um contexto patriarcal) limitá-la ou pará-la, ao contrário, ela tomou medidas para criar espaços onde a desgraça foi transformada em oportunidade de melhorar a qualidade de vida de outras mulheres e suas famílias.
Observamos também uma mulher que, a partir da realidade de casa e família, converte momentos de dor e dificuldade em força para construir espaços seguros, de proteção e crescimento para outras mulheres, meninas e meninos.3 A capacidade de resiliência à qual o texto nos convida a refletir é extremamente esperançosa nos momentos de dificuldades pessoais, familiares e sociais que as mulheres enfrentam em seu cotidiano.
O texto também nos leva a pensar sobre as formas de construir espaços seguros para nós e outras mulheres, a partir de laços fraternos de escuta, empatia, solidariedade, esperança e fé, onde nossas experiências de dor, perda e desespero são motores de força que abraçam e acompanham os processos de transformação e libertação de outras mulheres.
Em uma sociedade onde a violência, a agressão e a falta de empatia reinam, há a possibilidade de construir comunidades sororais, de encontro, onde as mulheres possam construir em conjunto espaços seguros para todas.
Para refletir e dialogar:
Como minhas experiências de vida podem fortalecer a vida de outra mulher?
Que forças e espaços podemos construir a partir de nossas experiências?
Como podemos trabalhar nossa resiliência na comunidade?
Compartilhem testemunhos de transformação e libertação pessoal, familiar e/ou comunitária.
Notas:
1. Abordagem aos textos bíblicos, analisando o que o texto diz e o que não diz, ou seja, lendo nas entrelinhas cuidando do que o texto esconde, tentando buscar o porquê e encontrar neles linhas de libertação e igualdade.
2. 1 de Maccabees 3: 13-24 Narra a batalha entre Seron, o comandante do exército da Síria e suas tropas, enfrentando Judas e alguns homens do povo de Israel. Nesta história é enfatizado que é na cidade de (baixo) Beth-Horon onde a batalha acontece, deixando Judas e seus homens como vencedores. Uma das frases marcantes é que Judas obtém a vitória por sua confiança em Deus e seu senso de proteção para com as mulheres e crianças da cidade.
3. Considera-se que (alto) Bet-horon constituiu um lugar estratégico antes das possíveis invasões, enquanto Bet-hor baja, foi um lugar de comércio que fortaleceu a economia da cidade.