Confessar e Celebrar juntos

04/10/2010


Depoimentos do Pastor Sinodal

Tive o privilégio de participar como representante da IECLB de participar do 29º Congresso Internacional Ecumênico, de 08 a 13 de setembro, em Castel Gandolfo, nas imediações de Roma. O evento reuniu bispos da Igreja Católica, Igreja Luterana, de Igrejas Orientais, Anglicanas, Metodistas. São líderes das igrejas vinculados ou amigos do Movimento dos Focolares. O termo Focolare lembra fogão. o Movimento começou na Itália, na cidade de Trento, durante a 2ª Guerra Mundial. Sua fundadora, Chiara Lubich, falecida em março de 2008, empenhou-se para ajudar as vítimas da guerra que devastou a sua cidade natal. Iniciou com pequenos encontros de reflexão e de organização para servir e fomentar ações diaconais, em torno do fogão doméstico. Desde os primórdios do Movimento, a espiritualidade bíblica foi uma das premissas para ações práticas. Acrescido à vivência de uma profunda espiritualidade, Chiara manteve aberto o horizonte ecumênico, em favor da unidade das igrejas, conforme a exigência bíblica que “todos sejam um, para que o mundo creia” (João 17. 21).

A comunhão de líderes eclesiais, no Congresso Internacional anual, na perspectiva da unidade em Cristo, está firmado na espiritualidade que nasce e se alimenta no Evangelho de Jesus Cristo. O Cristo que se sente abandonado na cruz e se entrega em confiança nas mãos de Deus e a convicção de que Jesus está no meio da sua família de fé é o grande indicativo do Movimento dos Focolares. Em torno deste fundamento existe uma grande possibilidade de diálogo fraterno e uma comunhão de irmãos e de irmãs que firmam laços de amor recíproco e respiram a brisa do espírito ecumênco. A própria Constituição da IECLB define a sua natureza ecumênica. Embora a IECLB tenha e mantenha a sua individualidade confessional, nos sentimos vinculados aos irmãos e às irmãs em todo o mundo, que confessam Jesus Cristo, Senhor e Salvador, sempre na perspectiva do triúno Deus. No mundo dividido somos chamados pelo Evangelho a sermos instrumentos da reconciliação valorizando o diálogo inter confessional e inter religioso. Por causa da fé em Jesus Cristo, nos empenhamos pela paz no mundo.

Foi neste clima de comunhão fraterna que 35 bispos e similares, de 12 nacionalidades reuniram-se em Castel Gandolofo/Roma. O Congresso teve como lema orientador: “A vontade de Deus na vida dos cristãos”. A vontade de Deus, em favor da qual oramos no Pai Nosso, une céu e terra. A vontade de Deus tem como exemplo e inspiração o agir bondoso de Jesus Cristo. No mundo tão dividido, em questões religiosas, políticas, culturais, econômicas a Palavra de Deus nos anima à missão e ao testemunho comum. Ser perfeito como perfeito é o Pai e que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade, são fundamentos comuns que aproximam mundos e igrejas diferentes.

Além de uma agenda carregada de palestras expositivas, de diálogos e também de celebrações, tivemos, durante o Congresso, a oportunidade de ouvir testemunhos vivos sobre a realidade comunitária em bairros periféricos de Roma; sinais interessantes da missão e edificação comunitária naquela metrópole européia. Assim como acontece em todos os países da Europa, também na Itália, o fenômeno da descristianização e da secularização se faz presente. Visitamos, na cidade de Roma, uma casa onde se reuniam cristãos e cristãs, no primeiro século do cristianismo. Posteriormente, foram construídas sobre aquela casa de reuniões duas outras igrejas, ainda hoje existentes.

No domingo, dia 12.09.2010, o programa previa um breve encontro com o primaz da Igreja Católica, o Papa Bento XVI.

Poucos dias, após o meu retorno da Itália, aconteceu o Seminário de Estudos sobre “Eclesiologia Ecumênica”, na Casa Matriz das Diaconisas, em São Leopoldo, RS. Sendo um dos coordenadores da atual Comissão Bilateral de Diálogo, entre a IECLB e a Igreja Católica Apostólica Romana, participei junto com outros 27 representantes das duas igrejas, ativamente, dessa jornada de diálogo e de aprofundamento de um tema muito importante enquanto convívio ecumênico. Falamos do Mandato das Igrejas e da sua Identidade, da Auto-compreensão da Igreja, sua relação com o pluralismo social e religioso em nosso país. Debatemos sobre a Dimensão ecumênica a serviço da Missão de Deus; avaliamos as Possibilidades e os Limites de uma doutrina de Igreja ecumênica. No final do Seminário, emitimos uma carta às comunidades católicas e luteranas, bem como um posicionamento aprofundado para as direções das nossas Igrejas. O texto na íntegra está disponível no portal luteranos da IECLB.

O seminário destacou que “é preciso construir laços de confiança e de comunhão a partir do respeito mútuo, do ouvir, do aprender, do questionar, sem imediatamente julgar”. Destacou um dos assessores que “a confiança em Deus é que possibilita renovado ânimo para buscar dar expressão à comunhão e à unidade”. Falar da Igreja é falar em ecumenismo!

Enfim, sou grato a Deus pelas várias oportunidades de cooperar na IECLB, tendo consequências em nosso Sínodo, numa matéria sensível e complexa, mas muito relevante para a vida das comunidades e para a Missão de Deus, na sociedade brasileira.

Pastor Sinodal Manfredo Siegle
Sínodo Norte Catarinense

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