CARTA PASTORAL DAS ELEIÇÕES 2022
“No sentido bíblico, a paz não se caracteriza somente
pela ausência de guerras e conflitos.
Paz acontece quando há bem-estar espiritual, físico,
social, político e econômico. Infelizmente, a sociedade brasileira
não se destaca pela vivência dessa paz.
Não há paz na economia, não há paz na política e não há
efetivação constante da justiça. Parece que
estamos na mesma situação descrita pelo profeta Isaías:
‘Não conhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos’ (Isaías 59.8) ”.
Manifesto da IECLB, 29/03/2019,
assinado pela Presidência e Conselho da Igreja
Irmãs e irmãos de fé e caminhada,
As palavras que abrem esta Carta parecem escritas nos dias de hoje. Mas são oriundas de um importante debate que aconteceu no Concílio da IECLB realizado em Curitiba, em outubro de 2018, antes da última eleição para Presidente do país, deputados, senadores e governadores. Lançado em março de 2019, depois de ampla consulta, o Manifesto traz uma orientação clara e segura para nossas comunidades. Ele é um exemplo de que – como igreja e comunidades cristãs – não podemos nos iludir com governantes que desrespeitam sistematicamente o povo, a democracia, os serviços públicos, a vivência
cidadã.
Em outubro próximo vamos novamente entrar num processo eleitoral que estamos construindo desde a redemocratização de 1985. Por mais de 20 anos, durante a Ditadura de 1964, nosso povo não pode votar livremente. E mesmo depois de 37 anos de eleições livres, continuamos ensaiando nossa caminhada democrática. Democracia não é um regime perfeito, mas é o mais condizente com nossa busca por paz, justiça e superação da brutal desigualdade que impera na sociedade brasileira.
Em 02 de outubro vamos eleger o presidente do país, governadores, senadores, deputados estaduais e federais. Essas pessoas serão responsáveis pelas mais importantes decisões que irão governar nossas vidas nos próximos quatro anos. Diante da crise mundial do sistema dominante e da crise geral em que caímos como sociedade e como nação, estas eleições serão as mais cruciais desde a Constituição de 1988, que o então Dr. Ulisses Guimarães (PMDB) chamou de Constituição Cidadã. Vamos testar novamente nossa capacidade de votar e escolher bem governantes e parlamentares. Nossa experiência com a urna eletrônica há mais de 20 anos se mostrou um meio seguro e transparente, reconhecido internacionalmente.
Por estas razões, manifestamos às comunidades evangélico-luteranas, a pessoas amigas e companheiros de caminhada, a movimentos sociais e de diferentes partidos nossa palavra clara de defesa do direito popular ao voto livre e consciente. Quem se colocar contra as eleições de 2022 conspira contra o nosso povo e os direitos que a Constituição Federal lhe assegura. Conclamamos as pessoas de comunidades, movimentos e associações, jovens, homens e mulheres a exercerem seu direito de voto com responsabilidade e lucidez como nos ensina a palavra evangélica do apóstolo Paulo, que nos chama a viver de acordo com o evangelho de Cristo (Filipenses 1.27). Na história recente do Brasil, este é um dos momentos mais difíceis que enfrentamos por causa do clima de violência que se instaurou na sociedade. Infelizmente, este clima vem sendo ignorado justamente pelas autoridades que deveriam coibi-lo. Isto é gravíssimo, daí a necessidade de não nos deixarmos enganar por grupos e facções que apostam em armas e violência, sejam quem forem e de onde vierem.
Como comunidades cristãs temos de resgatar o sentido profético da nossa fé. Por isso, a citação do profeta Isaías no Manifesto da IECLB é tão atual. Não teremos paz sem justiça em nosso país. E paz com justiça significa superação das cruéis desigualdades que nos assolam, significa trabalho, moradia e a garantia do pão cotidiano para todas as pessoas e famílias brasileiras. Nossas crianças e nossa juventude não terão futuro sem essas garantias.
Votar por esses valores significa, então:
• Escolher pessoas que coloquem seus mandatos a serviço das necessidades de nosso povo, sobretudo as pessoas mais pobres e vulneráveis;
• Não aceitar nenhum candidato ou candidata que venha comprar votos com auxílios de ocasião;
• Examinar com cuidado os partidos e seus candidatos, suas histórias, considerando a que grupos estão aliados e quais projetos de país defendem nos parlamentos;
• Não aceitar qualquer tentativa de minar o processo eleitoral e o direito universal do voto popular;
• Por fim, comprometer-se com a luta democrática nas eleições e para além delas, pois um país não pode ser grande e generoso sem a participação permanente da cidadania.
Estas breves orientações se somam a muitas outras que cada qual saberá encontrar nas suas cidades e comunidades. Oramos para que em 2022 possamos como pessoas, comunidades e sociedade fazer as melhores escolhas, de tal modo que no novo ano retomemos a reconstrução do país em direção a uma sociedade justa, fraterna e solidária com as pessoas mais vulneráveis.
Agosto de 2022
Coordenação Nacional da PPL