Caminhos para a Comunhão

Comissão Mista Internacional Católico-Luterana

23/02/1980

Caminhos para a comunhão 


Apresentamos a nossos leitores o documento preparado pela Comissão Mista Internacional Católico-Luterana, desenvolvendo o que já se fez no esforço de aproximação entre católicos romanos e fiéis de confissão luterana. O trabalho traz a data de 23 de fevereiro de 1980 e foi traduzido no Brasil pela Comissão Mista Nacional Católico-Luterana, instituída conjuntamente pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e pela IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil). 

Prefácio

A Comissão Mista Internacional Católico-Luterana, instituída pelo Comitê Executivo da Federação Luterana Mundial (Genebra) e pelo Secretariado para a União dos Cristãos (Roma), tem a missão de buscar respostas para aquelas questões que no relatório «O Evangelho e a Igreja» (Relatório de Malta), de 1972, não puderam ser estudadas mais detalhadamente.

Em 1978 foi publicado um documento sobre a Ceia do Senhor, a Eucaristia, como primeiro resultado desta tarefa. Ao mesmo tempo foi anunciado um estudo sobre o ministério eclesial e o episcopado. Sua publicação está sendo preparada atualmente. Antes, porém, a Comissão deseja apresentar o documento que segue: «Caminhos para a Comunhão». Trata-se da tentativa de desdobrar a afirmação contida no Relatório de Malta, de «tomar um caminho de aproximação progressiva, em que podem existir várias etapas» (n. 73).

A Comissão Mista chegou no decorrer do seu trabalho à convicção de que mais progresso nas relações intereclesiais exige clareza e certa medida de consenso tanto com respeito à meta (Parte 1) como também a passos concretos em direção à unidade (Parte II). É necessária uma visão geral para ver, como os diversos temas discutidos no diálogo e as tarefas para uma colaboração se encaixam no quadro geral, de modo que não venhamos a falar e agir em contradições ou mal-entendidos.

«Caminhos para a Comunhão» é, antes, um resumo daquilo em que existe consenso entre nós do que uma exposição de problemas até agora não discutidos ou ainda sem soluções. O exposto na primeira parte se baseia em publicações pela parte católico-romana e luterana, bem como em algumas declarações do Conselho Mundial de Igrejas, que refletem um consenso ecumênico geral. Na segunda parte, de orientação mais prática e pastoral, são enunciadas recomendações e estímulos a passos concretos para a unidade. O leitor talvez esteja surpreso, assim como também o estiveram os membros da Comissão quando constatamos: já temos uma visão muito semelhante em relação à meta do movimento para a unidade. Existe uma notável quantidade de importantes passos práticos que podemos dar juntos, para alcançar esta meta.

Por outro lado, parece-nos imprescindível, na situação atual, focar melhor a forma ou o modelo da unidade eclesial que os cristãos procuram. Houve discussões extensas e em parte excitantes sobre esta temática, nos últimos anos. A Comissão Mista Internacional planeja, por isso, elaborar um documento sobre «Modelos da Unidade», em que se tentará expor, melhor do que aconteceu até agora, de maneira diferenciada, tanto as ideias da unidade como também as diversas etapas da aproximação mútua.

O presente documento já apresenta alguns elementos fundamentais para este trabalho. Esperamos que ele possa ser útil no estudo dos problemas ainda não solucionados. Antes de mais nada tenciona encorajar os fiéis para encontros mais íntimos e cordiais na fé, na oração e na vivência do que tem acontecido até agora. Recomendamos este documento ao interesse especial com a esperança e a prece que Deus o utilize para a promoção da unidade como Ele a quer para o seu povo e para o seu mundo.

Augsburgo, 23 de fevereiro de 1980.

Hans L. Martensen - Bispo de Copenhague Dinamarca
George A. Lindbeck - Professor da Universidade de Yale New Haven, USA
(Co-presidentes da Comissão)


CAMINHOS PARA A COMUNHÃO

 

1. A fragmentação interna entre os cristãos causa embaraço e sofrimento à igreja e ao mundo. Ela «contradiz abertamente a vontade de Cristo, se constitui em escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura»1; além disso ela prejudica o serviço cristão a ser prestada incessantemente ao mundo (cf. Is 61.1s ; Lc 4.18s).

2. Isto nos obriga a fazer, sem demora, tudo o que possa ajudar a superar a divisão. Isto inclui o esforço por uma «visão o mais possível comum da unidade da igreja em todos os níveis, na obediência da fé».2

Precisamos de uma «visão comum», porque continuaremos a dividir-nos ainda mais se não nos orientarmos para uma meta comum. Se tivermos opiniões contrárias a respeito desta meta, nos moveremos, se formos consequentes, necessariamente em direções opostas.

Precisamos a unidade «em todos os níveis», porque ela afeta todas as áreas de nossa vida. Sempre e em toda parte onde existem cristãos, trata-se da unidade em Cristo, e cada um é chamado a dar a sua contribuição.

Isto requer a «obediência da fé». Unicamente o que o Senhor quer, o que ele dá e exige, é decisivo. Isto se evidencia somente àquele que crê. Este, por sua vez, é chamado para testemunhar por palavra e ação, pessoalmente e em conjunto, aquilo que recebeu na fé.

3. Neste sentido, queremos declarar juntos, «na obediência da fé», como nós, cristãos católicos e luteranos, vemos a meta da unidade (I), quais os passos em direção à unidade que nos parecem necessários (II).

I. Unidade como meta

4. A meta da unidade é-nos dada (antecipadamente) ; não pode ser construída nem manipulada, mas é recebida; ela não é uma realidade totalmente nova, reservada para um futuro distante, mas nos seus elementos fundamentais, está já agora presente e atuante entre nós.

5. A meta da unidade é discernível na palavra e na obra do Senhor, no testemunho da Sagrada Escritura, e no ensinamento e na vida da igreja.

6. A unidade que buscamos já está realizada em seus princípios. Apesar de todos os nossos pecados, o Senhor não desistiu de seu agir unificador. Assim como ele enfrentou a morte, «para reunir num só corpo os filhos de Deus que estavam dispersos» ( Jo 11.52), assim ele continua vivendo e atuando, «a fim de que todos sejam um» ( Jo 17.21). Contra todos os poderes que ameaçam de dentro e de fora a unidade cristã, ele está levando sua obra a bom termo, pelo poder de sua ressurreição e exaltação no Espírito Santo. Ele está consumando o que começou.

7. Por meio dos dons que confiou a sua igreja, conduz o rebanho disperso à plena unidade; sem fidelidade atuante para com estes dons, a meta da unidade permanece indiscernida e inalcançada.

8. Com relação à forma concreta da unidade, já dada agora bem como esperada e procurada no futuro, vale o seguinte :

A unidade cristã é:

a) um dom da graça do Deus uno e trino, uma obra que ele realiza;
b) por meios que ele escolhe;
c) da maneira que ele determina;
d) moldada por estruturas básicas que ele criou;
e) norteada para uma comunhão única e verdadeiramente universal.

a) Comunhão como graça

9. Igual a toda boa dádiva, também a unidade procede do Pai, mediante o Filho, no Espírito Santo.

Vontade e obra do Pai é «fazer convergir em Cristo, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas» (Ef 1.10). No Pai, tem a sua origem tudo o que o Filho faz pela unidade. «Ele pôs todas as coisas debaixo dos seus pés e, para ser a cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas» (Ef 1.22s).

10. A obra fundamental da unificação acontece na encarnação do Filho de Deus, no qual se unem a divindade e a humanidade inseparavelmente numa só pessoa. Tudo o que Jesus Cristo diz, faz e sofre vive desta unidade e tem em mira «que todos sejam um» ( Jo 17.21). Em função da unidade, ele aceita a morte sobre a cruz. A unidade é parte integrante de seus dons de redenção e reconciliação, bem como da participação em sua glória : «Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos» ( Jo 17.22).

11. Por seu sangue, ele derrubou a parede de separação que dividia os homens entre si e de Deus (Ef 2.11-22). Sua morte na cruz é o juízo sobre todos os pecados, inclusive sobre os pecados contra a unidade, e é, ao mesmo tempo, a absolvição gratuita de todos os pecadores. «Pelo sangue da sua cruz» é feita a paz reconciliadora (Cl 1.20). Por isso, a unidade está sempre sob signo da cruz: Em meio à contradição e resistência, mal-entendidos e abusos, ela vive da auto-entrega de Jesus Cristo e envolve o compromisso de seguir ao Senhor crucificado; «a igreja encontra sua unidade em seu Senhor crucificado ressuscitado integrando-se no seu sofrimento pela redenção de um mundo pecaminoso e dilacerado».3

12. Jesus Cristo consuma o ato da cruz, bem como todas as outras obras de unificação, no Espírito Santo. Desejando que os seus sejam um, assim como o Pai e ele mesmo, promete-lhes o Espírito, no qual o Pai e o Filho formam uma união única. A festa de Pentecostes é para a Igreja o grande sinal de que o Senhor cumpriu sua promessa.

13. Toda integração na unidade viva acontece no Espírito Santo. «Num só Espírito, todos nós fomos batizados num corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito» (1 Co 12.13; cf. 1 Co 12.1-11). «Para cada passo em frente, rumo à unidade mais plena do que é visível agora, dependemos inteiramente da presença e da condução do Espírito Santo».4 Ele vivifica o que está morto e une o que está separado, uma comunhão universal. A unidade cristã vive em virtude do Espírito Santo; ela é comunhão do Espírito Santo.

b) Mediação da comunhão

14. Vista que não conseguimos, por nosso próprio esforço, encontrar a vida e a unidade em Cristo, quanto menos ainda realizá-la, continuamos dependentes da sua mediação através do Espírito Santo. Conforme o testemunho bíblico, isto sucede pela palavra do Senhor (1) e por seus sacramentos (2), com o auxílio das diversas formas do serviço de todo povo de Deus (3). «A igreja como o corpo de Cristo vive das dádivas do Senhor, em palavras e sacramentos; ela se sabe chamada pelo Espírito Santo à fé, reunida e santificada, e ela existe como Povo de Deus no mundo em forma de comunhão humana».5

1. Palavra

15. Jesus diz, na oração sacerdotal pela unidade:

«Eu lhes tenho dado a tua palavra... Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade» (Jo 17.14-17). «Ele chama pelos nomes as suas próprias ovelhas e as conduz para fora» (Jo 10.3), a fim de que haja «um rebanho e um pastor» (Jo 10.16). Quando e onde quer que alguém ouve sua voz, entrega-se confiante e, sempre de novo, se deixa chamar para o pastor e para o rebanho, contra todas as forças da dispersão, a unidade vem a ser realidade. Por isso o escutar conjunto da palavra e a permanência fiel no único Evangelho (cf. Gl 1.6-10) constituem passos indispensáveis no caminho para a plena unidade.

Por sua palavra, «Cristo mesmo edifica sua igreja e realiza, desta maneira, sua unidade».6 Associa-se a isto sua obra sacramental.

2. Sacramento

16. A mesma carta aos Gálatas, que acentua uma só fé a partir de um só Evangelho, destaca igualmente um só batismo como fonte da unidade. O texto diz: «Pois, todos vós sois filhos de Deus, mediante a fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes. Destarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus» (Gl 3.26-28). «Por meio da lavagem de água pela palavra» (Ef 5.26) Cristo forma sua igreja.

17. Além disso, ele a alimenta com sua carne e seu sangue. Neste acontecimento, é prestado auxílio não exclusivamente ao comungante individual; a igreja toda é edificada. Recebendo um só corpo do Senhor, os fiéis se tornam um único corpo. «Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão» (1 Co 10.17).7

Em todo o lugar onde «são administrados o batismo e a Santa Ceia de acordo com o encargo dado no Novo Testamento, Cristo está realmente presente, oferece gratuitamente reconciliação e reúne sua comunidade».8

18. Segundo a convicção católica mais cinco outros sacramentos associam-se aos Sacramentos principais do batismo e da Eucaristia9, a saber; Confirmação, penitência, unção dos doentes, ordem e matrimônio. Em cada um deles, a fé católica percebe a obra do Senhor, transmitindo graça e criando unidade. Em cada um, sempre se trata, além do comungante individual, também da igreja inteira10, a qual é interpretada, ela mesma, como «sacramento da unidade»11, como «sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano»12

19. Também segundo a convicção luterana, a obra do Senhor, que transmite a graça, não se efetua exclusivamente através da palavra da pregação e pela administração do batismo e da Santa Ceia. A confissão e o aconselhamento pastoral, como também a ordenação, a confirmação e o casamento na igreja são compreendidos como atos nos quais é prometida e imputada a graça de Deus, ainda que a opinião geral seja que estes atos não devam ser considerados como sacramentos no pleno sentido.13

3. Serviço

20. A igreja que vive da palavra e dos sacramentos, está, ao mesmo tempo, chamada para o seu serviço. Para isso são confiados pelo Senhor, a cada membro, dons e tarefas específicas. «Dele, todo o corpo, bem ajustado e consolado, pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor» (Ef 4.16; cf. Cl 2.19).

21. Em tudo isto cabe ao ministério ordenado um serviço indispensável. «Juntamente com a palavra de Deus, a ser proclamada, e os sacramentos, a serem administrados, também é posto o ministério eclesial como instituição divina, transmitido pela ordenação. É o próprio Cristo que atua através deste ministério e sua função»14 «A função essencial e específica do ministério ordenado é reunir e edificar a comunidade cristã, mediante a pregação e o ensinamento da palavra de Deus, e presidir a vida litúrgica e sacramental da comunhão eucarística»15

22. As opiniões divergem no que diz respeito às formas concretas do ministério particular afirmado para ambas as igrejas

Segundo a convicção católica, Jesus Cristo edificou a igreja «enviando os apóstolos, assim como ele mesmo fora enviado pelo Pai (cf. Jo 20.21). Quis que os sucessores dos Apóstolos, isto é, os bispos, fossem em sua Igreja pastores até à consumação dos séculos; e para que o próprio episcopado fosse uno e indiviso, prepôs aos apóstolos o bem-aventurado Pedro e nele instituiu o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade de fé e comunhão»16

23. Também segundo a compreensão luterana, a comunidade singular (local) posiciona-se numa relação necessária com a igreja toda. Correspondem a este relacionamento serviços de direção supracongregacionais (que ultrapassam o âmbito da comunidade local) (episkopé), no sentido de uma responsabilidade espiritual pela pregação, pelos sacramentos e pela unidade da igreja. Portanto, fazem parte da igreja, além do ministério do pároco, também ministérios de âmbito mais abrangente. Segundo a compreensão luterana, a forma da constituição episcopal não se baseia numa ordem expressa do Senhor, válida irrevogavelmente para todos os tempos e situações; todavia, esta constituição nasceu sob a atuação do Espírito Santo17 e sua recuperação se sugere às igrejas luteranas por motivos históricos e ecumênicos. Segundo a compreensão luterana, também um serviço dedicado à unidade da igreja universal corresponde à vontade do Senhor, sem que sua estrutura concreta tenha sido fixada para todo o sempre.

c) Realização da comunhão

24. A realização da comunhão em Cristo inclui a aceitação dos dons unificadores do Senhor, a despeito de todas as tentações e adversidades. A unidade vive, cresce e frutifica somente onde conjuntamente se crê (1), se espera (2) e se ama (3).

1. Unidade da fé

25. Unicamente na fé o homem é capaz de reconhecer o dom gratuito de Deus e quem é aquele que lhe fala (cf. Jo 4.10). Se cristãos crêem, cumpre-se a promessa: «eles ouvirão a minha voz e então haverá um rebanho e um pastor» (Jo 10.16). Assim se «acrescentam» indivíduos à igreja (At 2.41); como, por outro lado, a unidade mesma é realizada sempre novamente e cresce em direção à plenitude, «até que todos cheguemos à unidade da fé» (Ef 4.13).18

26. A atitude afirmativa de fé precisa produzir efeitos em todas as esferas da vida. Por isso, fazem parte essencial da fé o testemunho, a confissão e a doutrina.19 Tudo que fomenta o testemunho comum, a confissão comum e a doutrina comum, não apenas promove a unidade, mas já é unidade vivida, unidade na fé, unidade na verdade. Assim sendo, esta comunhão em testemunho, confissão e doutrina pode ser dada ou alcançada em diversas formas de expressão ou formulações. «Onde quer que Igrejas e comunidades eclesiais confessem, segundo as Escrituras, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e também homem verdadeiro, como único mediador da salvação para a glória de Deus, do Pai e do Filho e do Espírito Santo, existe uma unidade básica na fé».20

2. Unidade da Esperança

27. «Para a unidade é necessária solidariedade na luta e na esperança».21 Faz parte de «um só corpo e um só espírito a vocação para uma só esperança» (Ef 4.4); «a unidade da igreja se torna realidade onde cristãos estão unidos na antecipação e na expectativa do futuro de Deus».22

28. Contra a esperança, age todo aquele que considera a situação ecumênica atual tão má que não é possível melhorá-la decisivamente, ou a considera tão boa que um melhoramento decisivo não é necessário. Em ambos os casos, é prejudicada, juntamente com a esperança, também a unidade.

29. O serviço em favor da unidade, exigido de todos os cristãos, deve ser expressão da constante e infatigável esperança cristã integra. «Esforços ecumênicos, portanto, têm o seu embasamento mais profundo na certeza do reino de Deus ou no novo mundo que já irrompeu em Jesus Cristo, cujo cumprimento, porém, continua a ser alvo da esperança cristã».23

3. Unidade do Amor

30. Na medida em que fé e esperança se tornam eficazes na amor, também aumenta a comunhão em Cristo. Pelo amor, o homem se torna plenamente disposto a receber as dádivas do Senhor generoso e, amando, aprende a segui-lo e ajuntar com ele (cf. Mt 12.30; Lc 11.23). «O amor é o vínculo da perfeição» (Cl 3,14). Ele liga os membros individuais entre si, para a comunhão integralmente responsável e, ao mesmo tempo, os introduz à comunhão com o Deus uno e triúno. «A fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles esteja» (Jo 17.26). Em virtude do amor, podemos «crescer em tudo naquele que é a cabeça, Cristo... que assim efetua o aumento do seu corpo para a edificação de si mesmo em amor» (El 4.15s).

31. A celebração da Eucaristia faz parte essencial da aceitação dos dons unificadores do Senhor. Em sua realização, confessamos a nossa fé comum, testemunhamos a nossa esperança comum e damos um sinal do nosso amor comum, no sentido da «comunhão integralmente responsável».24

d) A estrutura da comunhão

32. Tudo que pertence à unidade existe dentro de uma coordenação interna; realiza-se de acordo com formas básicas instituídas: A unidade em Cristo é unidade em visibilidade (1), em diversidade (2) e em dinamicidade (3).

1. Visibilidade

33. Da vida comum em Cristo, fazem parte ambas as coisas: «um só corpo e um só Espírito» (Ef 4.5). «Queremos enfatizar que a unidade por nós aspirada deveria ser uma unidade externa, visível que se manifeste historicamente na vida da igreja».25 Cremos «que vivemos na obrigação de tornar esta unidade manifesta, visível e reconhecível para o mundo, a fim de que o mundo creia».26 Isto não significa de modo algum uma uniformidade inflexível; a unidade viva em Cristo é essencialmente multiforme e dinâmica.

2. Diversidade

34. A unidade em Cristo não é proporcionada apesar da diversidade ou até contra ela, mas com e na diversidade. O efeito do Espírito divino uno e unificador é sentido não somente quando é para unir o que está separado; ele cria realidades diversas e as conserva como tais, para levá-las precisamente à unidade do amor.

35. O corpo uno é constituído de muitos membros (1 Co 12.4-30; Rm 12.4-8; Ef 4.7-16). «Uma variedade vigorosa caracteriza a vida comum no único corpo Espiritual».27

36. Na diversidade reconciliada os diferentes membros formam parte de um todo maior, no qual a diversidade não é nivelada, mas sim perfilada e, desta maneira, colocada a serviço. «Deste modo, na diversidade, todos dão testemunho da admirável unidade no corpo de Cristo: pois justamente a diversidade de carismas (dons de graça), serviço e atividades congrega na unidade os filhos de Deus, porque «todas estas coisas realiza um só e o mesmo Espírito» (1 Co 12,11).28

37. O Espírito de Pentecostes se dirige a todos «em sua língua materna» (At 2.6-11). Ele testemunha um só Evangelho em muitas línguas: Ele o faz anunciar, ser aceito e respondido de múltiplas maneiras. Renova e alia as mais diversas formas doutrinais e devocionais, maneiras e ordens de vida, tradições e ritos e, deste modo, guia mais profundamente «a toda a verdade» (Jo 16.13) e à plena unidade. Por isso, faz parte da vida comum em Cristo que os indivíduos, bem como as comunidades reconheçam agradecidos seus talentos, os administrem fielmente e os ponham a serviço do todo; ao mesmo tempo, devem estar abertos para os dons específicos que outros receberam. «Resguardando a unidade nas coisas necessárias, todos na Igreja, segundo o múnus dado a cada um, conservem a devida liberdade, tanto nas várias formas de vida espiritual e de disciplina, quanto na diversidade de ritos litúrgicos, e até mesmo, na elaboração teológica da verdade revelada. Mas em tudo cultivem a caridade».29

3. Dinamismo

38. Como realidade histórica, a unidade em Cristo está sujeita à lei do «devir»; como realidade viva, ela tenciona crescer e frutificar; sempre, porém, continua sendo ameaçada pela corrupção.

39. Num mundo corrompido pelo pecado, a unidade é e permanece envolvida na luta entre «espírito e carne», «luz e trevas», o bem e o mal, entre Cristo e todos os adversários de Deus. Ela continuará determinada pela dinâmica dramática desta luta até o fim. Ameaçada de dentro e de fora, a Igreja é chamada a empenhar-se pela unidade bem como pela salvação «com temor e tremor» (Fl 2.12) e a pôr toda a sua confiança no Senhor.

40. Na medida em que isto sucede, a unidade cristã é inserida na dinâmica da graça. Como unidade na fé, ela precisa, igual a esta, crescer e ser ativa. Assim como a fé, também a vida comum em Cristo é uma caminhada. Como unidade na esperança, ela deve, como esta, estender-se para o que vem. Assim como a esperança, também a unidade vive mais das coisas que virão, do que daquilo que é. Ela nunca se satisfaz com o que foi alcançado e tampouco jamais desespera por causa do não alcançado. Como unidade no amor, na terra jamais alcança um ponto final intransponível. Assim como o amor, também a vida comum de Cristo constantemente tenta ultrapassar o já alcançado.

41. Igual a toda vida cristã neste mundo, a unidade é assinalada pela tensão entre o «já agora» e o «não ainda». Participe de um dom inconcebível, ela pode estar certa de uma graça indizivelmente maior ainda. «Ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos, porém, que, quando se manifestar, seremos semelhantes a ele (1 Jo 3.2). O Senhor que, no fim de todas as coisas, conduz à unidade plena, é quem nos constrange a buscar a unidade que é sua vontade para sua igreja, aqui e agora na terra».30

e) Comunhão universal

42. A vida comum em Cristo é vivenciada em múltiplas relações pessoais e sociais. Estas têm suas raízes e seu fim no Deus Trino e Uno (1); elas abrangem todos os fiéis (2) e, afinal, todos os homens (3).

1. A unidade do único Deus Uno e Trino

43. «O amor do Pai e do Filho, na unidade do Espírito Santo, é a fonte e a meta da unidade a qual o Deus Uno e Trino quer para todos os homens e para a criação inteira».31

44. A unidade cristã é criada segundo a imagem e semelhança do Deus Uno e Trino. «O modelo supremo e o princípio deste mistério é a unidade de um só Deus, na trindade das pessoas do Pai e do Filho no Espírito Santo». Assim, ela é suplicada por Jesus na oração sacerdotal: «Como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, que também sejam eles um em nós» ( Jo 17,21).32

45. A unidade cristã é vivida em comunhão pessoal com o Deus Uno e Trino, porque e conquanto pessoas são consideradas dignas de viver, mediante o Espírito Santo, com e em Cristo como filhos e filhas do Pai, elas se tornam verdadeiramente um. «A nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo» (1 Jo 1.3). «Eu neles e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade» (Jo 17.23). Isso acontece no Espírito Santo, «pois num só Espírito todos nós fomos batizados num só corpo» (1 Co 12.13), «um no Espírito» (1 Co 6.17). Quanto mais intensivo é o relacionamento pessoal dos fiéis com o Deus Uno e Trino, tanto mais forte é o vínculo que une com seu próximo : «porque, quanto mais se unam em estreita comunhão com o Pai, com o Verbo e o Espírito, tanto mais íntima e facilmente eles poderão aprofundar a fraternidade mútua».33

2. A unidade de todos os crentes em Cristo

46. A unidade em Cristo é, ao mesmo tempo, pessoal e social. Ela é constituída não por um vínculo exterior mas sim, por vinculações pessoais. Realizadas, sempre de novo, no lugar onde pessoas seguem o chamado da graça, estas vinculações transcendem os limites de tempo e espaço e abrangem todos os fiéis. «Todos, em todo o lugar, os que foram batizados em Jesus Cristo e o confessam como o Senhor e Salvador, são guiados pelo Espírito Santo para uma comunhão integralmente responsável. Simultaneamente, são unidos com toda a comunidade cristã, em todos os lugares e em todos os tempos».34

47. «Tal comunhão significa, para aqueles que dela participam, nada menos do que uma vontade e um Espírito renovador, plena participação no louvor e na oração comuns, penitência e perdão, sofrimentos e alegrias compartilhados, escutar em conjunto o mesmo Evangelho e responder na fé, obediência e serviço, juntando-se na missão única de Cristo no mundo, um amor que se esquece de si mesmo para dedicar-se a todos pelos quais Cristo morreu».35

3. Unidade para o mundo

48. Igual a Cristo, sua Igreja existe «para a vida do mundo» (Jo 6.51). Seus membros devem estar unidos, «para que o mundo creia» ( Jo 17.21). Seu testemunho comum deve, juntamente com sua vida comum, levar o mundo para a fé da qual depende sua salvação.

49. Assim como na oração sacerdotal de Jesus estão intimamente ligadas missão e unidade, assim elas são inseparáveis na vida da Igreja. A Igreja é capaz de cumprir sua missão só na medida em que ela estiver unida; e estará unida somente enquanto obedecer o chamado do Senhor e anunciar o Evangelho a toda a criatura (cf. Mc 16.15). Sua atividade missionária tem um duplo objetivo: «pregar o Evangelho e fundar a própria Igreja entre o povos ou sociedades que ainda não crêem em Cristo».36 Ambas as tarefas são apenas parcialmente possíveis sem a unidade : a Boa-Nova do amor reconciliador aparece inacreditável se os seus mensageiros vivem irreconciliados uns lado ao lado dos outros ou até uns contra os outros. A implantação da igreja fica seriamente ameaçada se esta estiver doente na raiz por causa da divisão. «Por exigência intrínseca da missão, todos os batizados são chamados a se reunirem num só rebanho. Assim diante dos povos poderão testemunhar unanimemente a Cristo seu Senhor».37

50. Além disto, devem ser promovidas decisivamente através da unidade cristã, tarefas importantes no mundo. A vida comum em Cristo deve constituir-se em «sinal da unidade futura da humanidade»38, em um instrumento para a sua estruturação livre, justa e fraterna. «A renúncia à vaidade confessional e o respeito pela convicção de fé dos outros ajudam a diminuir as causas de conflitos pessoais e sociais. O empenho pela comunhão de todos os cristãos, na qual diferenças sociais e culturais, a pertença a determinada raça e os compromissos nacionais perderam sua força divisória, se encaixa na grande luta pela saneamento do mundo dilacerado por tensões e inimizades».39

51. Por outro lado, a igreja recebe impulsos importantes de todas as pessoas que convivem com ela. Eventos na esfera secular podem influenciar o empenho cristão pela unidade, tanto positiva como negativamente. Embora a atividade social, política e cultural possa produzir muito pouca unidade cristã, contudo pode contribuir em grande medida para a realização dela. Indubitavelmente, muitas coisas no movimento ecumênico moderno só se tornaram possíveis por circunstâncias do desenvolvimento geral da humanidade. Até ações hostis podem servir à vida comum em Cristo : muitos que não seguiram suficientemente o chamado do Senhor à unidade foram levados à comunhão, através da perseguição e do sofrimento. Por outro lado, fatores seculares podem pôr em perigo a unidade cristã, tanto, de fora como de dentro : modelos falsos podem vendar a visão para a verdadeira natureza da unidade e substituir a fé por ideologia; esforços pela unidade limitados a nações, raças ou classes podem acarretar ideias e práticas errôneas, inclusive com respeito à unidade cristã.

52. Ligados entre si por múltiplas formas, a Igreja e a mundo necessitam constantemente do amor criativo de Deus. Ambos são e continuam em tudo dependentes do «Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem» (Rm 4.17). O Senhor que ressuscita à vida frutífera o que estava morto, pode superar todos os perigos e limitações da unidade cristã e fazê-la seu instrumento eficiente para a salvação da mundo. Ele, que cria verdadeiramente coisas novas, pode transformar em realidade a oportunidade que nós perdemos; ele pode criar novas formas da unidade as quais escapam, até o momento, à nossa visão e mesmo à nossa imaginação. Não podemos falar delas de maneira adequada, mas, isto sim, podemos, juntos, estar preparados para elas. Em face da unidade e missão da Igreja, bem como da redenção e consumação do mundo, esperamos tudo do Senhor que diz : «Eis que eu faço novas todas as coisas» (Ap 21.5).

II. Passos em direção à unidade

53. Na «obediência da fé, temos falado entre nós sobre «unidade como meta», no sentido da plena comunhão espiritual e eclesial. Estas considerações fundamentais nos desafiam a levantar a questão sobre que «passos concretos em direção à unidade» as Igrejas e os cristãos católicos e luteranos podem dar, no presente e no futuro imediato. Pois só tais passos concretos nos aproximam «da meta da unidade visível numa só fé e numa só comunhão eucarística, expressa no Culto e na vida comum em Cristo. .. para que o mundo creia».40

54. Procuramos passos num «caminho de aproximação progressiva. no qual podem existir várias etapas».41 Em tal processo aberto de crescermos juntos, podemos e deveríamos tomar em vista metas intermediárias e manter sob exame contínuo os métodos a serem usados no procedimento subsequente. Tal caminhada, que visa conduzir de uma comunhão imperfeita a uma comunhão que gradualmente se torna sempre mais perfeita, pode tomar em consideração adequada a diferente situação histórica e teológica de nossas Igrejas, a qual também pode divergir de uma região para outra. Disposto a entrar em tal processo aberto, estamos, no entanto, bem conscientes de que Deus, o próprio Espírito Santo, nos mostrará passos e nos conduzirá por caminhos que, em boa parte, nem podemos imaginar no presente.

55. Tendo em mente as nossas reflexões prévias sobre a «unidade como meta», propomo-nos perguntar agora, quais os «passos para a unidade» que podem ser deduzidos da gratuidade da comunhão eclesial (a), dos «meios» que constituem essa comunhão (b), da maneira espiritual de sua realização (c), de sua forma estrutural (d) e de sua universalidade (e).

a) Comunhão por graça

56. Quais os «passos em direção à unidade» que derivam do fato de ela, no sentido de comunhão eclesial (communio), ser um dom da graça de Deus que precede todos os nossos esforços humanos?

57. O fato que a comunhão eclesial é um dom da graça de Deus nos faz lembrar primeiramente que, em nossos esforços de promover a unidade da igreja, precisamos dar prioridade ao ecumenismo espiritual. «Não há verdadeiro ecumenismo sem conversão interior. Os anseios da unidade nascem e amadurecem de renovação da mente (Ef 4.33), da abnegação de si mesmo e da libérrima efusão da caridade. Devemos por isso, implorar ao Espírito Santo a graça de uma sincera abnegação, de uma humildade e mansidão no servir e uma atitude de fraterna generosidade para com os outros».42 Também a Reforma se entendeu como chamado ao arrependimento e renovação dentro da Igreja Una, e ela realmente exigia que a vida dos cristãos fosse uma penitência diária.

58. Nas relações entre as nossas Igrejas bem como nas entre cristãos católicos e luteranos, tal atitude básica assumirá a forma concreta de passos espirituais em direção à unidade:

— Cheios de arrependimento, estamos conscientes de que, em retrospecto à história da nossa separação, a culpa não pode ser atribuída unilateralmente ao outro parceiro, e que antes cada um de nós tem motivos de confessar sua própria culpabilidade na eclosão do cisma;

— Estamos abertos para descobrir uma grande riqueza espiritual, tanto na história como no presente das outras Igrejas, e receber dons, estímulos para refletir e orientação para agir, desta riqueza, como resultado do nosso encontro com o outro;

— Descobrimos que, apesar do cisma causado por nosso pecado, a ação do Espírito Santo em nossas Igrejas tem mantido uma comunhão fundamental que, antes de mais nada, constitui a premissa para todos os nossos esforços de promover a unidade visível da Igreja.

59. Tal atitude de um ecumenismo espiritual também foi fomentada por análises históricas gerais e, mais particularmente, por pesquisas na história da teologia e do dogma. Nas décadas recém-passadas, de fato, estes trabalhos contribuíram consideravelmente para a eliminação de preconceitos e para melhor conhecimento e apreciação mais justa da história e do presente de ambas as igrejas, e isto especialmente com respeito à história de sua separação desde o século XVI. Não obstante, nós julgamos necessário:

— continuar este processo pela amplitude da pesquisa histórica e teológica e da consciência teológica em geral, eliminar preconceitos confessionais e juízos errôneos sobre a outra Igreja, erradicar tais preconceitos dos manuais da história eclesiástica e dos dogmas, e desenvolver uma interpretação ecumênica da mesma, desde o século XVI; o comentário comum católico-luterano sobre a Confissão de Augsburgo é um exemplo promissor dos esforços nesta direção43;

— passando além do campo da literatura teológica especializada, purificar as exposições sobre as divisões eclesiais e as próprias igrejas envolvidas, de todos os preconceitos, por exemplo, em livros escolares, e assim, em geral, chegar a uma melhor e mais crítica avaliação da história e do presente da própria Igreja respectiva;

— envidar esforços por um conhecimento ainda mais intensivo e direto da outra Igreja (seu culto, sua vida religiosa, suas realizações artísticas e culturais, seu serviço prestado à sociedade), obtendo assim uma ideia mais concreta da riqueza espiritual dela e criando abertura para formas mais intensivas de comunhão.

60. Tais passos de conversão poderiam manifestar o fato que ambas as igrejas estão unidas em sua vontade de não se conformar com o mundo, mas antes superar toda forma de auto-justificação.

b) Mediação da comunhão

61. Que «passos em direção à unidade» devem ser dados com vistas à mediação de comunhão espiritual através da palavra, do sacramento e tio ministério, tanto individualmente, nas duas Igrejas, quanto numa pratica comum?

1. Palavra

62. É a convicção de ambas as Igrejas que a comunhão espiritual em Cristo é mediada pela palavra. Básica e normativamente esta palavra da salvação é conferida à Igreja na Bíblia. Um passo essencial e sempre necessário rumo à unidade consiste, portanto, em que ambas as igrejas, sempre de novo, se orientem em sua vida espiritual pelo testemunho da Escritura Sagrada e vivam à luz desse testemunho. Neste contexto, porém, é de importância decisiva que na teologia, na prática de pregação, no diálogo espiritual conjunto sobre a Bíblia e também na meditação bíblica pessoal, o conteúdo inteiro da Escritura Sagrada seja tomado em consideração e não só uma seleção dela. Isto, de modo algum exclui a questão do centro da Escritura, por enunciados centrais e menos centrais e por regras de interpretação daí derivadas. Mas não há dúvida que uma contribuição considerável para a alienação das duas igrejas entre si foi feita pelo fato de que nenhum dos dois lados realmente escutou e aceitou plenamente o testemunho da Escritura Sagrada.

63. Em medida crescente, as duas Igrejas devem procurar juntas orientar-se pela Escritura Sagrada. Isto inclui traduções da Bíblia, pelas quais ambas se responsabilizem, comentários conjuntos de livros bíblicos, estudo comum da Escritura Sagrada por ministros e grupos de comunidade de ambas as Igrejas, iniciativas essas para as quais já há numerosos exemplos. Deveria ponderar-se também como poderiam ser assimiladas, umas às outras, as leituras bíblicas previstas para o culto em ambas as Igrejas (ordem pericopal).

64. Embora a avaliação teológica seja diferente, contudo, é convicção de ambas as Igrejas que também a tradição eclesiástica forma parte da maneira como a palavra de Deus é transmitida. Na verdade, o próprio cânon da Escritura Sagrada constitui uma parte importante e fundamental da tradição eclesiástica.44 Importância particular compete, a seguir, às profissões de fé ecumênicas (credos) e às decisões dogmáticas oficiais da Igreja indivisa. Um passo decisivo em direção à unidade poderia, portanto, consistir numa reflexão mais profunda sobre a tradição da Igreja antiga e medieval, que precedem a Reforma. Mas também esforços mais intensivos de promover a compreensão das tradições divergentes desde o século XVI são igualmente importantes, como um passo no caminho da unidade. Também neste contexto, a reflexão ecumênica sobre a Confissão de Augsburgo constitui um exemplo importante.

65. Esta orientação Comum pela Escritura e pela tradição implica também uma reflexão hermenêutica crítica. É, portanto, uma importante tarefa teológica a de formular princípios comuns para a interpretação da Escritura Sagrada e das diversas tradições eclesiásticas. Isto seria de muita importância, especialmente em questões controvertidas, tais como o desenvolvimento histórico do ministério eclesial. Tais princípios básicos devem tomar em consideração, antes de tudo, o fato de que, no caminho da unidade, não podemos ignorar nossas tradições respectivas e, desta maneira, abandonar a nossa identidade histórica. Por outro lado, devemos ter em mente que a nossa própria identidade se acha envolvida num processo que nos há de induzir a relacionar nossas tradições, de maneira nova, com a Escritura Sagrada, a mediá-las criticamente e com uma compreensão atualizada da realidade, em função do testemunho efetivo no mundo de hoje, e, o que é mais ainda, interpretar estas tradições com vistas a realizar seus elementos convergentes e, desta maneira, chegar a uma novamente reconhecida e determinada identidade.

2. Sacramentos

66. A comunhão espiritual em Cristo é mediada por sacramentos. Seria, portanto, um passo decisivo no caminho da unidade, se a vida sacramental assumisse uma importância central em cada uma das duas igrejas e se os sacramentos fossem celebrados com dedicação especial e com a participação ativa dos fiéis.

67. A consciência da importância do batismo, fundamental tanto para a salvação como para a comunhão, precisa ser promovida em ambas as Igrejas. Uma contribuição para este fim pode ser feita, sobretudo, para uma renovação da prática batismal. O batismo de ambos, crianças e adultos, deve realizar-se mais e mais na presença da comunidade toda, reunida em Cristo; o símbolo da água deveria ser usado com adequada nitidez e expressividade durante a administração do batismo e a fórmula batismal apropriada não deveria jamais ser omitida; a memória do batismo deveria ser cultivada, e importância particular deveria ser atribuída a uma educação cristã que ou derive do batismo ou leve a ele. Sob essas condições, todas as nossas dúvidas, com vistas ao reconhecimento mútuo do batismo, já expressamente declarado por muitas igrejas, ficam privadas de qualquer fundamento.

68. «Também na Eucaristia, são os passos para o Centro, os que nos levam mais próximos uns dos outros».45 Não obstante uma legítima variedade das possibilidades existentes nesta área, a forma litúrgica deveria concordar em ambas as igrejas, quanto aos aspectos e elementos fundamentais, conforme estão reunidos no documento sobre a Ceia do Senhor.46 Ambas as Igrejas devem promover o conhecimento e a compreensão de seus usos diferentes, porém, não divisórios, na celebração do culto eucarístico (por exemplo: vestes litúrgicas, signo da cruz, ajoelhar-se etc.) e as diferenças, que aliás existem inclusive dentro delas, devem ser plenamente respeitadas. Em todo caso, deve ser dada expressão suficiente ao caráter solene da eucaristia para que as comunidades cheguem a prezar esta celebração.

Também deveria haver mais cultos eucarísticos especialmente programados para crianças e adolescentes. Após alguns períodos de relativa negligência, as Igrejas luteranas estão atualmente retornando com dedicação renovada a este sacramento. Urge que a celebração da eucaristia seja integrada plenamente no principal culto dominical e que as comunidades sejam estimuladas a comungarem mais frequentemente. Também deveria ser observado um tratamento respeitoso dos elementos consagrados após a conclusão da celebração eucarística. Outrossim se fazem necessários esforços de ambas as Igrejas, no sentido de definir as condições de admissão à mesa do Senhor, tanto com respeito à idade quanto aos vários pressupostos pastorais.

69. Em face das posições diferentes das duas Igrejas acerca dos outros atos eclesiais que na Igreja Católica são considerados sacramentos, esforços teológicos recentes levaram a um melhor entendimento mútuo. Confissão e penitência, que a Confissão de Augsburgo trata em conexão com os sacramentos do batismo e da Santa Ceia, tornaram-se uma tarefa especial para ambas as Igrejas e, neste particular, é mister uma reflexão aprofundada sobre o conceito de pecado. A tradição luterana não rejeita fundamentalmente a aplicação do conceito de sacramento ao ministério e à ordenação e ambas as Igrejas têm a convicção de «que, através do ato de ordenação, o Espírito Santo, com seus dons graciosos, capacita a pessoa ordenada para o seu serviço».47 Segundo o entendimento da Igreja luterana e sua prática real, também a bênção nupcial (casamento) e a confirmação são atos de graça, que são realizados com o acompanhamento da oração de toda a comunidade.48

3. Ministério (serviço ministerial)

70. É convicção de ambas as Igrejas que a mediação da comunhão espiritual por palavra e sacramento requer o serviço de ministros ordenados. Neste contexto, ambas as Igrejas partem da base comum de que o serviço destes ministros está associado com o serviço que a comunidade toda presta na multiplicidade dos dons de seus membros (isto é, por anúncio, oração e prática). Entretanto, como o entendimento do ministério está sendo discutido em seus detalhes, não somente entre nossas duas Igrejas, mas ao mesmo tempo também dentro de cada uma delas, um dos passos essenciais rumo à unidade consiste, antes de tudo, numa interior clarificação teológica e jurídica da maneira como as nossas Igrejas entendem a ordenação e o ministério. Mas esta clarificação precisa ter sempre em vista as interpretações e discussões na outra Igreja. A maneira concreta (práxis) na qual é exercido o ministério) precisa ser caracterizada por um espírito de fraternidade e parceria, pela disposição de servir e por uma profunda piedade. Uma prática pastoral crível, neste sentido, contribui para eliminar uma compreensão distorcida do ministério e facilita o chegar a um eventual consenso ecumênico na questão do ministério.

71. Visto que o progresso e também os insucessos da aproximação ecumênica dependerão, em grau considerável, daqueles que exercem o ministério eclesial, é mister dar valor especial à formação da consciência e à experiência ecumênica dos ministros. Tal conscientização ecumênica deveria ser obtida primariamente por uma «irrigação ecumênica» de sua educação teológica. Isto não deve limitar-se a uma mera informação sobre o processo e o estado do diálogo ecumênico-teológico, por mais ampla que ela seja. Antes já existem exemplos de colaboração de teólogos de ambas as Igrejas num centro de treinamento teológico, e até exemplos de cursos teológicos integrados, sob a responsabilidade conjunta de ambas as igrejas. Tais exemplos e primeiras tentativas devem ser aumentados e desenvolvidos apropriadamente em outros centros. Os institutos ecumênicos existentes poderiam contribuir para que os teólogos, durante sua formação, participem ainda mais intensivamente do processo do diálogo ecumênico do que tem sido o caso até agora.

72. A formação teológica deste tipo deve ser complementada por uma conscientização ecumênica através de retiros, cursos e seminários ecumênicos para ministros eclesiais. Nestes encontros, o diálogo sobre a mensagem do Evangelho a nós confiada e sobre o ministério da pastoral em geral, deveria ser combinado com a experiência da espiritualidade na oração comum e no Culto, bem como através do intercâmbio espiritual sobre a vida da fé. Porque tal interação de reflexão teológica e experiência espiritual evita uma intelectualização do diálogo, mas igualmente uma prática espiritual irrefletida. O diálogo entre as Igrejas como um todo deve, portanto, ser caracterizado por um conjunto de discussões doutrinais e vida espiritual comum.

c) Realização da comunhão

73. Quais os «passos em direção à unidade» que se sugerem do ponto de vista da realização da comunhão espiritual na fé, na esperança e no amor?

1. Comunhão da fé

74. Nas décadas recentes, o encontro entre a compreensão da fé católica e luterana evoluiu, em escala crescente, de mera confrontação e polêmicas para o diálogo baseado no compromisso, reconhecido por ambas as partes, com a plena verdade. Diálogo não é possível sem abertura para o testemunho de fé da outra parte, e serve sempre também para examinar o próprio conhecimento de fé e tradição de doutrina. Neste encontro fraterno, são formuladas perguntas de uns aos outros, na expectativa de que a verdade ou se manifeste em toda a sua multiplicidade de facetas e seja reconhecida como tal, ou se chegue a correções e reformulações de convicções antes mantidas. Tais questões podem ficar irrespondidas enquanto vierem acompanhadas da sincera vontade para a «competição fraternal» (aemulatio fraterna)49 e enquanto elas constituírem um incentivo para o crescimento comum na plenitude do Espírito Santo (Ef 4.15; 1 Co 13.9s).

75. Nos últimos anos, entretanto, o diálogo entre as nossas Igrejas levou a resultados formulados em que se fizeram possíveis afirmações comuns sobre questões da fé caracterizadas antes por contradições divisórias que impediram a unidade eclesial.50 O processo da recepção dos resultados destes diálogos, que representa um passo urgente rumo à comunhão, constitui-se, portanto, em tarefa que está diante das nossas Igrejas.

Tal recepção pode ser realizada de múltiplas maneiras: Por exemplo, os ministros eclesiais podem estudar estes documentos e torná-los frutíferos para a pregação e a prática; os documentos podem ser incluídos na formação de obreiros eclesiásticos; ou grupos das comunidades locais podem estudar estes textos e familiarizar-se com seu conteúdo. Participação de membros de ambas as igrejas é de máxima importância em todas as formas mencionadas de recepção. Pois, deste modo, eles vão experimentar algo do evento dialógico que levou a estes resultados. Particularmente importante, porém, é que as autoridades eclesiais de ambas as Igrejas se comprometam a iniciar um processo de recepção responsável e decidam sobre qual o valor ecumênico-eclesial que eles pretendem atribuir a estes documentos.

76. Passos em direção à unidade que nos permitem praticar o dom da comunhão na fé, que nos foi proporcionada, são também necessários no testemunho conjunto da fé cristã. Em muitos lugares, já são praticados cultos da palavra comuns. No campo missionário deveria haver cooperação mais estreita do que até agora. Deveriam ser buscadas oportunidades de programar transmissões conjuntas de rádio e televisão que sirvam à mensagem cristã. Em vários países, parece ser muito urgente chegar a uma cooperação católico-luterana no campo escolar; em todo o caso, há uma responsabilidade comum das Igrejas pela educação cristã de crianças e adolescentes, que também se deve mostrar na prática. Uma colaboração também é possível no campo da literatura (seja teológica ou não-teológica), como demonstra a cooperação entre editores católicos e evangélicos ou a preparação e tradução de obras de comum interesse católico-luterano. E há outras possibilidades ainda maiores no campo da música sacra e da arte.

77. Quanto à responsabilidade pastoral, pode-se afirmar bem em geral que nenhuma Igreja singular está em condições de levar a cabo, por si só, a obra da evangelização numa sociedade secularizada ou numa sociedade moldada por uma tradição não-cristã. Ademais, está em jogo a credibilidade do próprio testemunho cristão. Planejamento conjunto do trabalho pastoral em áreas residenciais recém-construídas, em hospitais, nas universidades e outras instituições de ensino superior, bem como entre crianças e jovens deveria ser levado em conta, considerando-se a Situação diversa nos diferentes países. Isto poderia levar à formação de «comunidades cabeça-de-ponte ecumênicas», que poderiam dar, exemplarmente, estímulos para o trabalho pastoral também nas comunidades tradicionais. Uma área especial de responsabilidade cristã é representada pela assistência pastoral aos casais de diversas confissões. É de vital importância para nosso testemunho cristão comum que tais famílias se tornem ou células de compreensão ecumênica ou campos de batalha das tradições separadas que, afinal, levam à alienação da fé cristã.

2. Comunhão de esperança

78. A fé cristã vive na atitude da esperança, e, por conseguinte, a nossa comunhão espiritual na fé se torna necessariamente também uma comunhão de esperança. Nossa esperança que «não confunde» (Rm 5.5) é o nosso apoio na caminhada ao encontro uns dos outros. Todos os «passos em direção à unidade» mencionados acima, bem como todos os a serem ainda considerados, são possíveis unicamente, se formos suportados pela esperança comum. Nosso pecado não é tão-somente a última e mais profunda causa de nossa divisão mas também leva a sempre novas fases de estagnação e reveses e a indícios de resignação no caminho de uns para os outros. Mas esperamos na fidelidade do Senhor que sempre de novo vence o nosso coração pecaminoso e deseja guiar-nos à comunhão definitiva e completa. A partir desta certeza e a despeito de todas as adversidades, ele nos dá nova coragem de tentar novos passos uns em direção aos outros.

79. Nossa esperança, entretanto, não concerne somente a nossa caminhada de Igrejas e cristãos mais próximos uns dos outros, mas também se refere à salvação e redenção de todo o mundo. É precisamente nesta perspectiva abrangente, que ela nos capacita a dar juntos «razão da esperança» a despeito de toda a resignação e toda auto-afirmação prometéica em nosso mundo; e ela nos encoraja a tomarmos junto passos concretos da esperança que são, ao mesmo tempo, «passo em direção à unidade» entre as nossas duas igrejas. Tais passos de esperança são tomados na consciência de que todo o progresso científico-tecnológico e humanitário do mundo não pode trazer a redenção, mas que Cristo virá para o julgamento e criará um novo mundo, e que, à luz desta expectativa, já podem ser colocados sinais deste futuro no mundo presente.

80. Passos da esperança são tais sinais do futuro de Cristo, e eles são tomados onde quer que cristãos e Igrejas se dedicarem ao serviço a pessoas que sofrem; ao serviço de mudar o estado na superação dos perigos mundiais resultantes da crise ecológica; estes passos se concretizam onde quer que cristãos aceitam a esperança como um convite ao risco.51 Tal serviço, motivado pela esperança comum, deve ser efetuado, conjuntamente, por todos os cristãos e igrejas com suas instituições diacônico-caritativas. Iniciativas comuns correspondentes devem ser desenvolvidas ou desdobradas em todos os níveis. Também os estudos necessários para tais iniciativas comuns correspondentes devem ser desenvolvidos ou desdobrados em todos os níveis. Também os estudos necessários para tais iniciativas e a cooperação com instâncias e autoridades responsáveis não-eclesiásticas devem ser, o quanto mais possível, empreendidos em conjunto. Tais passos da esperança, que ao mesmo tempo são passos para a unidade cristã, e também conduzem à oração comum, podem tornar-se sinais de que Cristo está presente entre nós, como aquele que carrega e supera as nossas enfermidades.

3. Comunhão do amor

81. A fé cristã é eficaz no amor (1 Co 13.13; Gl 5.6) e, por isso, é de importância decisiva para a nossa comunhão espiritual que ela viva como uma comunhão de amor. Tal amor nasce do sempre novo encontro com Cristo na palavra e na eucaristia, porque «ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos» (Jo 15.13). Esta é também a razão por que uma forma particularmente importante da comunhão da fé como comunhão do amor consiste na celebração comum da eucaristia. Sentimos o peso do fato de que o presente estado das relações entre as nossas Igrejas ainda não permita a instituição da plena comunidade eucarística. Mas confessamos mais uma vez o nosso desejo pela «meta da unidade visível numa só fé e comunhão eucarística»52. A credibilidade do nosso testemunho diante do mundo e da nossa celebração da eucaristia mesma está ameaçada por nossa separação por ocasião destas celebrações. O forte ímpeto para a comunhão eucarística, que observamos no presente, leva-nos a supor que isto não acontece sem a obra do Espírito Santo. E, por isso, não abandonaremos a nossa busca de possibilidades e meios de oferecer, em oportunidades especiais, já no tempo presente, uma admissão recíproca à comunhão eucarística.

82. No lugar da plena comunhão eucarística ainda não possível, temos que criar oportunidades nas quais as nossas Igrejas ainda divididas possam unir-se na ação de louvor comum, na oração, na intercessão de uns pelos outros, por todas as Igrejas e pelo mundo, na proclamação da palavra de Deus e na profissão de suas magníficas obras. Esta é a razão que levou à instituição da Semana de oração comum pela unidade dos cristãos. Esta semana de oração, deveria constituir, em verdade, um desafio à vida de oração de toda a cristandade. Ela não teria alcançado seu significado espiritual se fosse degradada a uma manifestação isolada, uma vez por ano, de uma prática ecumênica de oração inexistente no resto do ano. É a nossa esperança que tais cultos ecumênicos de oração levem as comunidades de nossa Igrejas a uma sempre mais perfeita comunhão do amor.

83. A despeito de certos problemas ainda não resolvidos, deveria ser promovida a participação mútua em cultos dominicais, batismos, casamentos, enterros bem como na ocasião da ordenação e instalação de ministros, evitando assim que nossa relação fraterna somente se expresse na parte civil/secular destas ocasiões (recepções etc.). Em geral, uma práxis mais intensiva de visitas ecumênicas com possibilidades de encontro e conversação, também além da celebração de cultos, contribuiria para um conhecimento mútuo mais profundo, para o ensaio de uma nova espiritualidade e, desta maneira, inclusive para um aprofundamento da comunhão espiritual que se efetua e aperfeiçoa no amor. Onde tais encontros levem a formas inusitadas de comunhão ecumênica, estas — ainda que elas às vezes pareçam ir um pouco longe demais — não deveriam ser julgadas pelas autoridades eclesiais competentes até que tenham tomado contato suficiente com as pessoas imediatamente envolvidas. Se as próprias autoridades participarem, ao menos indiretamente, em tal processo ecumênico de aprendizagem, estarão mais dispostas a prestar, no amor, a confiança necessária àqueles que estão engajados num diálogo constante e fraterno.

84. A unidade que esperamos e da qual vamos ao encontro em nossa caminhada de irmãos, não nos poupará conflitos. Porque «a Igreja é ao mesmo tempo santa e sempre na necessidade de purificar-se» 53, ela «vai seu caminho em pecado e fraqueza».54 Além do aconselhamento aqui necessário por representantes da direção da igreja, que deveriam ser movidos pelo espírito do amor e do perdão, poderia ser possível a formação de «grupos de reconciliação» compostos de representantes de ambas as Igrejas. Eles poderiam representar uma espécie de instância de apelação ecumênica independente. Pois é uma experiência geral de nossas comunidades que os problemas no nível pastoral (por exemplo, problemas da liberdade religiosa, conversões, uso comum de edifício eclesiástico, matrimônios mistos etc.) constituem o estopim para atitudes hostis e ocasião para preconceitos anti-ecumênicos. Os grupos mencionados formariam um fórum onde tais conflitos pequenos ou inclusive maiores poderiam ser francamente discutidos e eventualmente resolvidos. Esta seria uma expressão da disposição para a reconciliação e, como tal, sendo um exemplo e sinal do amor e da paz, poderia assumir unia significação além das fronteiras do âmbito eclesiástico.

85. 0 amor em que a nossa fé comum comprova sua eficácia não pode, em caso algum, ficar confinado à nossa comunhão uns com os outros. Muito antes, somos chamados a seguir, na responsabilidade comum, o nosso Senhor, compartilhando sua dedicação amorosa ao mundo inteiro. Unicamente se nós nos dedicarmos conjuntamente, pelo serviço de amor diacônico-social, aos homens no mundo inteiro, a uma humanidade amada por Deus mas sofredora de múltiplos males, o amor que nos une uns com os outros será colocado em sua perspectiva apropriada. Simultaneamente, tal amor aos seres humanos em todo o mundo representa um sinal e uma expressão da nossa esperança.

d) A forma da comunhão

86. Quais são os «passos em direção à unidade» que se sugerem, do ponto de vista da forma visível de nossa comunhão espiritual, que não exclui nem a diversidade nem o dinamismo?

1. Reconhecimento dos ministérios (ordenados)

87. O fato de que o reconhecimento mútuo dos ministérios ainda não foi alcançado constitui um fator negativo no relacionamento entre as nossas Igrejas. Como é notório, este problema se levanta, para o lado católico e para o luterano, sob diferentes pontos de vista.

Enquanto os luteranos «não negaram a presença do ministério eclesial na igreja romana»55, ainda que no tempo da Reforma fizessem sua obediência aos bispos católicos dependente da concessão de proclamar a mensagem da Reforma, o Vaticano II fala de um «defectus» (defeito) do sacramento de ordenação na transmissão do ministério das igrejas da Reforma. Isto, entretanto, está sendo interpretado no presente, de modo geral, como sendo apenas um «defeito na plenitude do ministério eclesial», e não é negado «que o ministério nas Igrejas luteranas, também segundo a convicção católica, exerça funções essenciais do ministério que Jesus Cristo instituiu em sua igreja». Os passos em direção a um pleno reconhecimento do ministério, que são possíveis em vista do presente estado do conhecimento ecumênico nesta questão do ministério, em conexão com uma recepção mútua das Igrejas em geral, deveriam ser considerados pelas direções responsáveis das Igrejas como especialmente urgentes. Isto pressupõe, em primeira linha, uma recepção, o quanto mais ampla, dos resultados do diálogo ecumênico sobre a própria questão do ministério, no decurso do qual também as direções eclesiásticas respectivas deveriam reconsiderar suas posições até agora assumidas. Também as fórmulas litúrgicas de ordenação precisam ser examinadas, se elas correspondem ao presente estado da discussão ecumênica.

2. Prática Crível

88. No contexto de uma possível prontidão mútua de entrar na comunhão do ministério episcopal histórico e até do ministério papal, a realização prática do serviço supracongregacional na direção da igreja, bem assim como em nível local a prática dos pastores ordenados nas comunidades é de grande importância. Uma prática crível de direção eclesial deve evitar os perigos da burocracia e da administração anônima; em lugar disso, deve ser transparente em todas suas medidas, comprovar-se em colaboração fraterna com todos aqueles que prestam serviço na igreja, e ter sua qualidade especial na autoridade espiritual (não tão-somente em competência jurídica), em virtude da qual todas as disposições e medidas se evidenciam como justificadas pela Causa, conferindo uma autoridade interna à palavra da pessoa que exerce a episkopé.

3. Colaboração

89. Respeito mútuo e colaboração dos ministros em todos os níveis deveriam ser praticados ainda mais intensivamente do que tem sido o caso até agora. Outro passo importante no caminho de uma estrutura episcopal comum consistiria, sobretudo, numa colaboração mais intensiva e, inclusive, mais acentuadamente institucionalizada entre ambas as direções eclesiásticas, a qual ultrapassa as consultas costumeiras muito em uso no presente. Em relação com isto, deveria examinar-se a possibilidade de conferir a um grêmio de cooperação a ser formado (cujos membros poderiam ser, por exemplo, bispos ou presidentes de ambas as Igrejas, mas que também poderiam ter uma estrutura marcadamente sinodal) competências de decisão em determinadas questões. Tal cooperação intensificada deveria ser visada não apenas no âmbito regional, mas também em nível universal.

90. Uma colaboração dos ministros em todos os níveis naturalmente pressupõe a cessação de toda discriminação e suspeita do parceiro, bem como a renúncia a toda espécie de proselitismo, sem que com isto tivessem que ser vedados certos desejos e esperanças, ainda que de natureza crítica, que os parceiros sentem reciprocamente uns para com os outros. Uma tal cooperação, na qual cada um dos parceiros assume, simultaneamente, alguma co-responsabilidade pela outra parte, poderia, inclusive, ser urna forma de ensaiar a vivência da genuína e legítima diversidade na igreja. Certamente, não corresponderia à causa da unidade, se no processo de aproximação entre as nossas Igrejas se fizesse sentir um nivelamento no âmbito da vida eclesial, o que, oportunamente, suscitaria exigências impróprias de um ou do outro lado.

Muito antes deve valer o princípio de que as mudanças a que ambos os lados se expõem através de uma cooperação mais intensiva, sejam acompanhadas por uma preservação legítima da identidade de ambos os parceiros, enraizada na respectiva tradição, inclusive com todas as peculiaridades que se fazem sentir no processo de sua identidade.

e) Comunhão universal

91. Quais os passos que, enfim, se sugerem do ponto de vista de que a unidade, em direção à qual caminhamos, deve ser uma comunidade universal?

1. Comunhão de todos os cristãos

92. Se a Igreja Católica e as Igrejas luteranas, se cristãos católicos e luteranas caminham agora rumo à meta da unidade, no sentido de plena comunhão, então esta meta aponta, ao mesmo tempo, para além de si mesma. Aponta para a comunhão perfeita que teremos com o Uno e Trino Deus no fim dos tempos. Mas aponta para além de si mesma também, no sentido de que a comunhão católico-luterana ainda não representa a comunhão de todos as cristãos. Precisamos ver o caminho que nos aproxima uns dos outros, no contexto do movimento ecumênico como um todo, que encontrou uma importante expressão institucional no Conselho Ecumênico de Igrejas. Uma comunhão limitada a católicos e luteranos não seria universal, porque partes substanciais da cristandade (entre outras: ortodoxos, anglicanos, reformados, metodistas, batistas, mas também, por exemplo, as igrejas independentes da África) faltariam nela. Isto não apenas seria um déficit numérico. Seria também um déficit de substância, dado que importantes conhecimentos teológicos e experiências espirituais não teriam encontrada sua integração nesta comunhão e, assim, não seria realizada a plena catolicidade. O processo de aproximação entre católicos e luteranos há de ser expressamente aberto para esta mais ampla e maior comunhão de todos os cristãos.

93. Isto significa que o diálogo católico-luterano deve constantemente fixar seu olhar sobre o que, na tradição e no pensamento de outras igrejas, em outros diálogos bilaterais bem como no nível multilateral ecumênico, é refletido e dito a respeito dos resultados dos outros diálogos teológicos bilaterais e multilaterais, mas elas também podem ter um efeito fecundante sobre estes. Simultaneamente, porém, é importante que os encontros espirituais e práticos nos diferentes níveis estejam sempre abertos para outros parceiros ecumênicos, como de fato já existem bons exemplos para isto. Importância particular é atribuída aos Conselhos Nacionais de igrejas ou de cristãos, bem como aos grupos de trabalho de Igrejas cristãs, e estes podem bem ser o ponto de partida para uma comunhão ecumênica ainda mais intensa. É, outrossim, de grande importância que os vários diálogos bilaterais tenham, em foros comuns, a possibilidade de encontros regulares. O fato de que teólogos católicos sejam membros da Comissão Fé e Constituição, juntamente com outros campos em que a Igreja Católica está colaborando com o Conselho Mundial de Igrejas, sugere possibilidades de colaboração intensiva que deveriam ser realizadas de uma maneira ainda mais ampla do que sucede até agora

2. Unidade da humanidade.

94. Mas ainda, num sentido de maior alcance, a comunhão católico-luterana aponta para além de si mesma. Deus quer que todos os homens sejam salvos (1 Tm 2.4) e se reúnam em comunhão perfeita diante do seu trono. A unidade da Igreja está relacionada com a unidade de toda a humanidade. Através da história, nós cristãos nos tornamos, em alto grau, cúmplices e co-responsáveis por se ter semeado ódio e discórdia em lugar de amor e reconciliação. Poder, egoísmo e uma ortodoxia mal entendida desempenharam um papel nefasto na Igreja e, através da Igreja, no mundo, do mesmo modo como também o estado presente de um cristianismo frequentemente desunido e sem vigor prejudica a eficiência do seu testemunho. Mesmo se por esta razão não podemos falar aqui, olhando somente para nós mesmos, a não ser com voz baixa e modesta, sabemos, não obstante, que o poder salvífico e reconciliador de Deus não deixa de atuar na cristandade e, através dela, no mundo. A unificação de cristãos e de Igrejas, sua caminhada de reconciliação e de amor poderiam tornar-se um sinal e fermento em meio ao mundo dilacerado por conflitos e discórdia. Nesta expectativa, entretanto, temos que contar também com que Deus, agindo em sentido contrário, chama a Igreja à auto-reflexão por intermédio do mundo e do seu agir nele, de modo que esse mundo representa, sob vários aspectos, um desafio à Igreja.

95. «Passos em direção à unidade», neste sentido universal que abrange toda a humanidade e suas divisões, são dados sempre que, dentro dos nossos esforços ecumênicos, cristãos de nacionalidade, raça, cor e cultura diferentes, de divergentes convicções sociais e políticas e de diferente proveniência social se entendem, encontram o caminho de uns aos outros, e reconciliados entre si se dão as mãos. «Passos em direção à unidade», neste senso lato, representam, no mais, todos os esforços que envidamos juntos para promover a paz, a justiça e a reconciliação no mundo, contribuindo desta forma a eliminar as imagens do «inimigo» político bem como aquelas do «inimigo» confessional e toda a auto-suficiência e justiça própria associada a estas imagens. É necessário que a mera co-existência das Igrejas ainda vigente em muitos lugares passe, em medida crescente, para uma comunhão no planejar, falar e agir, em nível de comunidade local, em nível regional, em grupos de trabalho e de iniciativas, no nível de responsabilidade de direção da Igreja. Isto aumentaria consideravelmente a credibilidade e efetividade do engajamento cristão por uma humanidade reconciliada e pacificada, faria brilhar mais forte a luz que vem de Cristo, e aproximaria mais os próprios seres humanos entre si.

96. Refletindo sobre os passos que nos levam mais próximo da comunhão universal de todos os homens em Cristo, estamos, ao mesmo tempo, conscientes de que estes nossos próprios passos jamais poderão realizar a comunhão esperada, mas, na melhor das hipóteses, são sinais produzidos pelo Espírito daquilo que o Cristo, quando voltar, levará a cabo, após já ter posto, por ocasião de seu primeiro advento, o fundamento do novo. Mas este saber não deve nunca ser motivo de desculpa pela falta de fantasia, de engajamento, de abertura, faltas que, confessamo-lo sempre de novo, são cometidas por nós; ele, porém, nos pode consolar e corroborar na certeza da esperança, ainda que nossos esforços sofram contínuos fracassos, independentemente de se tal fracasso tenha sua causa dentro ou fora das Igrejas. E nos fortalece na adoração daquele que, ele só, é o princípio, o centro e a meta de todos os nossos caminhos e passos.

Este documenta foi assinado por todos os membros efetivos da Comissão Mista Internacional Católico-Luterana:

Membros católico-romanos: Bispo H. L. Martensen (Presidente); Prof. Dr. J. Hoffmann; Rev. J. F. Hotchkin; Rev. Chr. Mhagama; Prof. Dr. St. Napiorkowski; Prof. Dr. V. Pfnür; Bispo Dr. P.-W. Scheele.

Membros evangélico-luteranos: Prof. Dr. G. A. Lindbeck (Presidente); Bispo D. H. Dietzfelbinger; Pastor Dr. K. Hafenscher; Dr. P. Nasution; Rev. I. K. Nsibu; Prof. Dr. L. Thunberg; Prof. Pastor B. Weber.

Conselheiros: Prof. Dr. G. Forell (ev.-lut.); Prof. Dr. U. Kühn (ev.-lut.); Padre H. Legrand, OP (cat.-rom.); Prof. Dr. Harding Meyer (ev.-lut.); Prof. Dr. H. Schütte (cat.-rom.).

Membros do «staff»: Mgr. Dr. A. Klein (Secretariado para a União dos Cristãos); Rev. Dr. Carl H. Mau, jr. (Federação Luterana Mundial); Rev. Dr. Dan Martensen (Federação Luterana Mundial); Mgr. Dr. C. Moeller (Secretariado para a União dos Cristãos); Prof. Dr. V. Vajta (Federação Luterana Mundial).

23 de fevereiro de 1980.

Notas:

1. Vaticano II, Decreto sobre o Ecumenismo n. 1.
2. Documento de discussão dos secretários das Federações Confessionais Mundiais: O papel ecumênico das Federações Confessionais Mundiais no único movimento ecumênico, 1074, n. 53.
3. Segunda Assembleia Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), 1954, em Evanston, Relatório da Seção I, n, 9.
4. Terceira Assembleia Geral do CMI, 1961, em Nova Déli, Relatório da Seção I, n. 9.
5. Federação Luterana Mundial (FLM), Relações ecumênicas da FLM, Genebra 1977, n. 171; cf. Instituto Ecumênico de Pesquisa, Estrasburgo, Identidade luterana, Estrasburgo 1977, n. 7.
6. Relações ecumênicas (v. nota 5), n. 181.
7. Cf. Comissão Mista Internacional Católico-luterana, A Ceia do Senhor, Roma e Genebra 1978, n. 25-28.
8. Identidade luterana (v. nota 5), n. 26.
9. Cf. Vaticano II, Constituição sobre a Igreja, n. 7.
10. Cf. Vaticano II, Constituição sobre a Igreja, n. 11.
11. Vaticano II, Constituição sobre a Liturgia, n. 26.
12. Vaticano II, Constituição sobre a Igreja, n. 1.
13. Cf. Apologia da Confissão de Augsburgo, XIII, 3-17 e, O Evangelho e a Igreja, Relatório da Comissão Mista Internacional Católico-Luterana, 1972 (cit. Relatório de Malta), n. 59.
14. Identidade luterana (v. nota 5), n. 28.
15. Comissão para a Fé e a Constituição da Igreja, O ministério, Accra 1974, n. 15; cf. sobre o conceito do ministério o Relatório de Malta, n. 47-67, e ainda: Comissão Mista Intern. Católico-Luterana, O ministério ordenado na Igreja sob a consideração especial do ministério episcopal, Genebra e Roma, 1930 (a ser publ. em breve).
16. Vaticano II, Constituição sobre a Igreja, n. 18.
17. Cf. O ministério ordenado na Igreja (v. nota 15), n. 41-47, 62s.
18. Cf. Relações ecumênicas (v. nota 5), n. 161; e: O papel ecumênico etc. (v. nota 2), n.
19. Ibidem.
20. Sínodo das dioceses na República Federal da Alemanha, colaboração pastoral das Igrejas no serviço da unidade eclesial, Würzburg 1974, 3.21.
21, Quinta Assembleia Geral do CMI, em Nairóbi, Relatório da Seção II, n. 13-18.
22. Comissão para a Fé e a Constituição da Igreja, Os próximos passos no caminho para a unidade da Igreja, Salamanca 1973, A II.
23. Relações ecumênicas (v. nota 5), n. 39.
24. Nova Déli (v. nota 4), n. 2.
25. Relações ecumênicas (v. nota 5), n. 205.
26. Sexta Assembleia Geral da Federação Luterana Mundial, 1977, em Dar-es-Salam, Declaração: Modelos da unidade.
27. Nova Déli (v. nota 4), n. 10.
28. Vaticano II, Constituição sobre a Igreja, n. 32.
29. Vaticano II, Decreto sobre o Ecumenismo, n, 4.
30. Nova Déli, (v. nota 4), n, 1.
31. Nova Déli (v. nota 4), n. 1; cf. n. 6.
32. Vaticano II, Decreto sobre o Ecumenismo, n. 2.
33. Vaticano II, Decreto sobre o Ecumenismo, n. 7.
34. Nova Déli (v. nota 4), n. 2.
35. Nova Déli (v. nota 4), n. 10.
36, Vaticano II, Decreto sobre as Missões, n. 6.
37. Vaticano II, Decreto sobre as Missões, n. 6.
38. Nairóbi (v. nota 21), n. 7.
39. Comissão Teológica da FLM, Mais do que unidade das Igrejas, documento de estudo para a Quinta Assembleia Geral da FLM, 1970, n. 51.
40. Constituição do CMI,
41. Relatório de Malta, n. 73.
42. Vaticano II, Decreto sobre o Ecumenismo, n. 7.
43. Confessio Augustana — Confissão de uma fé. Estudos comuns de teólogos católicos e luteranos, ed. H. Meyer e H. Schütte, juntamente com E. Iserloh, W. Kasper, G. Kretschmar, W. Lohff, G. W. Forell, J. McCue, Frankfurt e Paderborn, 1980.
44. Cf. Relatório de Malta, n. 17.
45. A Ceia do Senhor, n. 75.
46. A Ceia do Senhor, n. 76, cf. também: Comissão para a fé e a Constituição, A eucaristia, Accra 1974, n, 28.
47. O ministério ordenado na Igreja etc., n. 31.
48. Cf. Parte I, n. 19.
49. Vaticano II, Decreto sobre o Ecumenismo, n. 11.
50 Cf. particularmente os documentos: Relatório de Malta, A Ceia do Senhor, O ministério ordenado na Igreja.
51. Comissão para a Fé e a Constituição, Informação conjunta sobre a esperança, Bangalore 1978, cap. VII.
52. Constituição do CMI, III
53. Vaticano II, Constituição sobre a igreja, n. 8.
54. Sínodo das dioceses na República Federal da Alemanha, Colaboração pastoral das Igrejas no serviço da unidade cristã, o. 4.3.3.
55. O ministério ordenado na Igreja, n. 77.

 

Publicado originalmente em: Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 42, fasc. 165, Março de 1982

Republicado: Weber. Bertholdo (Org.). Koinonia. Caminhos para a Comunhão. Rumo à Unidade, São Leopoldo, Sinodal, 1988.


Âmbito: IECLB
Área: Ecumene / Organismo: Igreja Católica Apostólica Romana - ICAR
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Ecumene
ID: 20402
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