Do berço ao túmulo a vida humana tem muitas etapas e fases: primeira infância, infância, pré-adolescência, adolescência, juventude, vida adulta e velhice. Cada uma delas tem as suas características. Todas são transitórias e passageiras. Por mais bela que seja a etapa presente, geralmente as pessoas esperam e almejam a chegada da seguinte.
A criança quer ser adolescente, o adolescente quer ser adulto... Consequentemente cada fase é ao mesmo tempo despedida e chegada, saída e entrada. Esta dinâmica exige preparo. O corpo e a mente precisam adequar-se e estar preparados para a próxima etapa. Em pessoas saudáveis esta caminhada pelos ciclos da vida acontece naturalmente.
Além destas diferentes estações, o ser humano passa por outros estágios ao longo da sua existência. Em resumo são 3:
- O período do estudo ou aprendizado.
- O período do exercício profissional ou do trabalho.
- O período da aposentadoria ou do descanso.
Também estas fases são transitórias e carecem de preparo.
Neste artigo enfocaremos o preparo e a vivência da terceira fase, ou seja, da aposentadoria.
A maioria das pessoas limita o preparo para a aposentadoria à necessidade e a importância de contribuir para o INSS e ou uma previdência privada. Mas, há vários outros aspectos que precisam ser considerados.
Como no ciclo biológico, também neste as pessoas esperam e almejam a fase seguinte: O estudante quer trabalhar, e o trabalhador quer aposentar-se. Confesso nunca ter encontrado alguém que não sonhasse com a sua aposentadoria. Mas... além do planejamento financeiro, que abrange moradia e subsistência, como está o preparo mental emocional e físico ? Este preparo certamente não é igual para todas as pessoas e profissões, mas em nenhum caso é dispensável, pois para a maioria, aposentadoria é sinônimo de alguma tipo de exclusão, e isto causa um impacto considerável.
Falarei a seguir da minha experiência como pastor aposentado. Para mim as palavras de Provérbios 19.2 foram de grande valor. Ali está escrito: - Não é bom agir sem refletir, e peca quem é precipitado. Com base nesta orientação, ocupei-me bem cedo com o assunto em pauta. Lendo, ouvindo,observando, aprendi em tempo hábil que aposentadoria não pode ser sinônimo de parar de trabalhar. Se, por um lado, a empresa, o mercado ou a instituição me excluem no momento da aposentadoria, por outro, devo cuidar para não me auto-excluir. A total paralisação e a auto-exclusão são a principal causa de depressão e resignação entre os aposentados. Pressupondo que o nosso exercício profissional tenha sido vocacional, ele foi prazeroso. Na maioria dos casos, a causa maior do cansaço que se acumula ao longo dos anos, não foi o trabalho em si, mas a pressão e a cobrança da instituição, do mercado.
Em nenhum momento tive dúvidas quanto à minha vocação para o pastorado. Mesmo assim aposentei-me aos 60 anos, portanto 5 anos antes do limite da aposentadoria compulsória estabelecida pela IECLB. Saí do pastorado feliz e com um detalhe: continuo fazendo o que sempre fiz, pregando o Evangelho, porém, agora sem as diferentes pressões que também se fazem presentes na vida de um pastor de paróquia.
Não pretendo colocar-me como juiz em relação aos que não se conformam com a aposentadoria compulsória (obrigatória) aos 65 anos estabelecida pela nossa igreja. Mas,penso que esta insatisfação reflete certa miopia quanto as muitas oportunidades existentes para pregar o Evangelho. Para mim pessoalmente, estas oportunidades aumentaram depois de entrar na inatividade. Sempre quando me apresento em alguma comunidade digo, Arno Paganelli, pastor aposentado, porém não acomodado nem desocupado.
O mercado empresarial e acadêmico secular já aprenderam a reconhecer e a valorizar a riqueza do conhecimento, da experiência e da sabedoria dos seus aposentados. No âmbito da nossa igreja ainda estamos distantes deste reconhecimento e desta valorização. O que na minha opinião mais atrapalha é o que chamo de síndrome de 1.Coríntios 3, que trata das facções existentes na igreja. Não raro encontramos pessoas mais jovens que acham que tudo está começando agora, com elas e mais velhos, com dificuldades de delegar, achando que sem eles o cristianismo acaba. Infelizmente ainda temos entre nós o medo de que um possa fazer sombra para o outro.
Além de poder continuar fazendo o que se fazia durante o exercício profissional remunerado, a aposentadoria permite administrar com liberdade o tempo para dedicar-se a algum hobby, engajar-se em algum voluntariado, viajar, curtir mais intensamente a vida familiar, etc. etc. Mas, isto só acontecerá se a pessoa se preparou para isto e entrou para a aposentadoria , feliz e não amargurada ou revoltada. Os imperativos bíblicos SERVI AO SENHOR COM ALEGRIA e SERVI UNS AOS OUTROS CADA UM CONFORME O DOM QUE RECEBEU (Salmo 100.2 e 1.Pedro 4.10) não tem data de validade e não se aposentam.
P. em. Arno Paganelli