A paz como presente e compromisso
A saudação: “A paz do Senhor!”, que acompanha a tradição judaico-cristã, traz embutida uma dimensão muito importante acerca da paz. A paz vem de Deus. Ela não é fruto humano, mas brota e cresce lá onde deixamos que Deus seja Deus, a saber, no nosso interior e nas relações entre as pessoas.
Por ocasião do Natal rememoramos o “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra às pessoas que Deus ama” (Lc 2.14). O desejo pela paz passa precisamente pelo amor de Deus. O acolhimento dessa declaração de amor do Outro torna-nos sensíveis às interpelações e anseios dos outros. A recepção do Outro acontece em profunda humildade. Ela nos faz reconhecer que a paz é uma dádiva.
Como evangélico-luteranos, participantes da família cristã, procuramos ressaltar a dimensão da paz como presente de Deus que acontece em meio à precariedade humana. A nossa condição humana apresenta muitas restrições e impedimentos para a construção da paz. Apesar dos desejos e de nossa boa vontade, temos profundos limites.
Fazemos um auto-exame e descobrimos isso em inúmeros “caroços” que carecem de remoção. A saúde das relações humanas passa pela extirpação dos “nódulos” da auto-afirmação, prepotência, ganância, orgulho e preconceito. Mesmo assim, somos chamados a ser construtores da paz. Deus conta conosco apesar das imperfeições.
A verdadeira paz acontece quando deixamos de nos preocupar somente com os nossos interesses pessoais. Por isso a palavra de Deus diz que a paz é fruto da justiça (Is 32.17). Relações humanas marcadas pela eqüidade dão lugar à paz. Sem relações econômicas, políticas e sociais que permitam a vivência plena do ser humano como imagem de Deus, não haverá paz.
Como filhos e filhas de Deus, recebemos a paz como dádiva, mas, ao mesmo tempo, a entendemos como compromisso de transformação. A graça de Deus nos impulsiona nessa direção porque nos sabemos acolhidos e amados por aquele que é o príncipe da paz.
P. Rolf Schünemann (Pastor sinodal -Sudeste)