A morte e o processo de morrer

02/02/2002

A MORTE E O PROCESSO DE MORRER

Em maio de 1519 Lutero recebeu o pedido de um escrito acerca de como um cristão deve preparar-se para a morte. Todos nós, de uma forma ou de outra, já enfrentamos momentos difíceis de um amigo ou parente que está caminhando para a morte. Nestes momentos, nos invade uma profunda sensação de impotência. Não sabemos o que falar e como nos comportar diante da pessoa que está à nossa frente. Na verdade, a maioria das pessoas não têm medo apenas da morte, mas também do processo de morrer. Trata-se quase sempre de um processo solitário, acompanhado de dor, angústia e medo. O próprio Cristo, nos derradeiros momentos em que estava na cruz, sentiu o vazio, a solidão e o abandono na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Mt. 27.45

Lutero, quando escreveu acerca do pedido de como preparar-se para este momento, abordou em sua resposta 20 aspectos a serem observados por um cristão. Vamos apresentar apenas os 3 primeiros.

Em primeiro lugar, a morte é uma despedida material. Por isso, todo cristão despede-se também das coisas deste mundo. Deve, portanto, providenciar para que os bens reunidos durante a vida sejam distribuídos, para que não haja motivo de brigas e disputa entre os familiares ou amigos. Talvez não seja coincidência que Lutero tenha colocado justamente esta questão em primeiro plano, haja visto o grande número de conflitos familiares oriundos da partilha de bens.

Em segundo lugar, ele afirma que o preparo para a morte contemple a despedida espiritual. Em outras palavras, que seja possível perdoar a todas as pessoas que durante a vida nos ofenderam e àquelas que nós próprios ofendemos. Em sua argumentação Lutero afirma que a alma não deveria ficar presa a questões não resolvidas nesta terra.

Em terceiro lugar, devemos ter nossos olhos fixos em Deus. O caminho que nos leva a Deus é dolorido, porém breve. E ele usa a imagem do nascimento de uma criança para nos falar do caminho para Deus. Assim como a criança tem que atravessar um caminho breve e doloroso para vir ao mundo, assim também nós passamos pela estreita porta que nos tira deste mundo e nos leva a Deus. Por outro lado, assim como o mundo em que vivemos é muito maior que a barriga de uma mãe, assim também o estar com Deus é infinitamente maior que este mundo no qual vivemos. Lutero cita Jo 16.21 para reafirmar sua posição: “A mulher quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo uma criança.”

Esta imagem usada por Lutero para falar da morte nos lembra que Deus, em sua infinita misericórdia, não nos abandona, mesmo nos momentos mais difíceis da vida. Ainda que a morte seja a despedida definitiva de pessoas amigas e queridas, pela ressurreição Deus promete nos acolher em seus braços para a eternidade. O apóstolo Paulo fala que “Se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor” Rm 14.8.

P. João Carlos Müller


 


Autor(a): João Carlos Müller
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Petrópolis (RJ)
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 20963
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João 16.33
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