Uma declaração sobre os cristãos e os judeus como testemunhas da fidelidade de Deus

09/11/2016

 

 

''... a fidelidade permanece para sempre. Salmo 146.6)

Uma declaração sobre os cristãos e os judeus como testemunhas da fidelidade de Deus

09. novembro 2016

No caminho para o aniversário de Reforma em 2017, o Sínodo da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD) tratou, no outono de 2015, da relação de Martim Lutero com os judeus. Ela tomou distância das invectivas de Lutero contra os judeus e asseverou que sua visão sobre o judaísmo é incompatível segundo o nosso entendimento, hoje alcançado, que testemunha a fidelidade de Deus para com seu povo. Na sua declaração de 11 de Novembro de 2015, o Sínodo mencionou a necessidade de mais medidas de arrependimento e renovação. No caminho de arrependimento e renovação nós nos manifestamos, em nossa reunião deste ano, sobre a questão da assim chamada ''missão judaica''. Está evidente, que esta questão - embora de maneiras diferentes - está ligada a questões de identidade tanto de judeus quanto de cristãos. Para a igreja cristã toca-se na sua auto-imagem como Igreja de Jesus Cristo. Judeus associam a ela uma longa e dolorosa história de conversões forçadas e de negação da sua identidade como povo permanentemente escolhido de Deus.

1. Em 1950 o Sínodo da EKD em Berlim-Weissensee declarou, que a promessa de Deus sobre Israel, como seu povo escolhido, permaneceu em vigor mesmo após a crucificação de Jesus Cristo. [1]

então a perspectiva da eleição permanente de Israel foi considerada na teologia e na igreja, foi questionada quanto as suas consequências e tornou-se frutífera para o ensinamento da Igreja. Reiteramos: A eleição da Igreja não assumiu o lugar da eleição do povo de Israel. Deus é fiel ao seu povo. Se, como cristãos, nos mantemos na nova aliança, que Deus fez em Jesus Cristo, asseguramos igualmente que a aliança de Deus se aplica sem restrições ao seu povo de Israel. O aumento, depois de 1945, da confissão frente aos judeus de uma história de culpa e da corresponsabilidade cristã para com a Shoah levou a um processo de repensamento, que tem consequências com relação à possibilidade de um testemunho cristão frente aos judeus.

2. O estudo ''Cristãos e Judeus III'' da Igreja Evangélica na Alemanha, realizado em 2000, afirmou: ''O termo 'aliança' refere-se à ação de Deus, sua fidelidade que a acompanha, a partir da qual vivem igualmente judeus e cristãos'' (46). Do que segue para nós: Cristãos - independentemente da sua missão no mundo - não são chamados para mostrar a Israel o caminho para Deus e sua salvação. Todos os esforços para persuadir os judeus a uma mudança de religião, contradizem a confissão da fidelidade de Deus e da eleição de Israel.

3. Os cristãos estão permanentemente unidos com o povo de Israel pelo judeu Jesus de Nazaré. A relação com Israel faz parte da história e da identidade de fé dos cristãos. Eles professam-se vinculados a ''Jesus Cristo, o judeu, como o Messias de Israel, o Salvador do mundo'' (EKIR, Synodalbeschluss 1980). O fato de judeus não compartilharem esta confissão, entregamos a Deus. No caminho de arrependimento e de renovação, aprendemos de Paulo: o próprio Deus deixará o seu povo de Israel ver a realização plena da sua salvação (cf. Rm 11.25 ss.). A confiança sobre promessa de Deus para Israel e a confissão de Jesus Cristo pertencem a todos. O mistério da revelação de Deus inclui ambos: a expectativa do retorno de Cristo em glória e a confiança de que Deus salva o seu povo escolhido.

4. Agradecidos olhamos para as múltiplas formas de encontro entre cristãos e judeus, e pelos caminhos de aprendizagem abertos por tais encontros. Eles nos enriquecem. Eles nos ajudam a respeitar a autonomia religiosa do judaísmo e a compreender melhor a própria fé. Reiteramos nossa desejo de dar continuidade a esses encontros e, sempre que possível, intensifica-los tendo em vista a nossa responsabilidade comum diante de Deus e do mundo.

5. No encontro com interlocutores judeus e interlocutoras judias aprendemos a nos reconhecer com direitos iguais, a ouvir uns aos outros no diálogo e a trazer nas conversações nossas respectivas experiências de fé e de formas de vida. Desta forma, nós testemunhamos de forma cautelosa nossa compreensão de Deus e sua verdade mantenedora da vida.

6. Nos vemos diante do desafio de compreender e viver de forma teológica e espiritual a nossa relação com Deus e nossa responsabilidade no mundo a partir da nossa solidariedade com o povo judeu.

Fazemos frente a toda apresentação desvirtuada e distorcida do judaísmo, seja consciente ou inconsciente, em pregação e ensino, cuidado pastoral e diaconia. Reafirmamos a nossa oposição e nossa resistência às velhas e novas formas de anti-judaismo e antissemitismo. A coexistência de cristãos e judeus é bem mais um estar junto no caminho comum na responsabilidade pela justiça, paz e integridade da criação.

Sínodo pede ao Conselho da EKD e à Conferência de Igreja da EKD, que dê garantias para os resultados por eles formulados sejam disponibilizados para as comunidades e, acompanhados por materiais, como incentivo, para que o encontro com diferentes formas de prática religiosa judaica conduza para uma compreensão mais profunda da própria fé cristã.

O Sínodo verificará em três anos os resultados do trabalho por ele motivado.

[1] A Igreja e o Judaísmo. Documentos 1945-1985, ed. v. Rolf Rendtorff / Hans Hermann Henrix, Paderborn e Munique 21989, 549

Magdeburg, a 09 de novembro de 2016

Presidente do Sínodo a Igreja Evangélica na Alemanha
Dra. Irmgard SCHWAETZER
 


Âmbito: IECLB
Área: Ecumene / Organismo: Igreja Evangélica da Alemanha - EKD
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Ecumene
ID: 44687
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