2ª Conferência Nacional Interluterana IELB - IECLB - Rodeio/SC, 5 a 7 de novembro de 2001

Documento Final

07/11/2001

Sessenta e dois representantes das cerca de 3200 comunidades luteranas no Brasil, membros da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), reuniram-se no Lar Rodeio 12, Rodeio/SC, para a 2ª Conferência Nacional Interluterana. O tema motivador dos trabalhos foi: Identidade e Missão das Igrejas Evangélico-Luteranas no Brasil, tendo como objetivo contribuir para que a IELB e a IECLB identifiquem razões históricas, hermenêuticas e práticas que ajudem a compreender seus desencontros e que sirvam de base para o processo de diálogo e cooperação entre ambas.

Tema

A primeira palestra sobre o tema foi trazida pelo P.em. Dr. Joachim Fischer apontando para as razões históricas que condicionaram o surgimento e o diálogo das duas Igrejas Luteranas no Brasil. Ele apresentou uma retrospectiva sobre a questão da confessionalidade na história das comunidades da IECLB e da IELB. Afirmando que o tema bem poderia ser Do desencontro ao diálogo, o Dr. Fischer discorreu sobre as origens históricas de ambas as Igrejas, concluindo que no âmbito da IECLB passou-se da indefinição ou diversidade confessional para a confessionalidade luterana. A IELB, por sua vez, deixou de lado a polêmica contra o unionismo da IECLB. Ambas as igrejas passaram da polêmica e da rivalidade para a colaboração e fraternidade. Citando o professor Hans Rottmann, da IELB, Dr. Fischer apontou para a mesma bagagem confessional que ambas as Igrejas carregam para viverem e darem testemunho na realidade brasileira. Ele destacou que o Evangelho, o cerne da confissão luterana, une IELB e IECLB. Finalizando sua exposição, Dr. Fischer citou Lutero: Quem sustenta a igreja não somos nós, nem foram nossos antepassados, nem serão nossos descendentes. Mas foi, é e será aquele que diz: ´Eu estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos´ (Mateus 28.20).

Em sua reação, o P. Dr. Paulo W. Buss, da Escola Superior de Teologia, de São Paulo, apontou para a origem da IELB como determinante para a sua confessionalidade. Lembrou os imigrantes saxões luteranos que se estabeleceram nos Estados Unidos em busca da liberdade para exercer sua confessionalidade. Ressaltou em sua exposição que existem diversos temas que ainda podem e devem ser explorados mais a fundo: Não sejamos precipitados. Não pré-julguemos pessoas e posições sem o conhecimento adequado. Isto também significa que não se pode menosprezar, nem minimizar as diferenças que realmente existem. Na continuidade, perguntou: O que resulta disso? Se temos diferenças sérias, será que isto impede o diálogo, a cooperação, o bom relacionamento em muitas áreas?

A segunda palestra sobre o tema foi trazida pelo P. Dr. Erni W. Seibert, da Escola Superior de Teologia, de São Paulo, enfocando a hermenêutica. Sua exposição foi um estudo visando o diálogo sobre a questão hermenêutica entre as Igrejas Luteranas do Brasil. Dr. Seibert abordou a questão hermenêutica primordialmente nas confissões luteranas, destacando a importância da gramática na interpretação do texto. Enfatizou princípios como a Escritura se interpreta a si mesma, e a distinção entre Lei e Evangelho. Não se duvidava que a Bíblia era a palavra inspirada de Deus, afirmou. E que isto se manifestou mais na crítica de Lutero feita à interpretação do texto por parte da Igreja Católica Romana e dos entusiastas. Ao final da exposição sobre a história da hermenêutica, ele aponta para o tema dizendo: A tensão teológica resultante destes desenvolvimentos da hermenêutica se fez sentir de forma geral dentro da teologia, como de forma bem particular dentro das duas Igrejas Luteranas em atividade no Brasil. E nem sempre a tensão era de uma com a outra, mas, muitas vezes, tensão em seus próprios redutos. Ressaltou ainda que não há realmente uma hermenêutica absoluta... humildade é necessária quando olhamos para as nossas interpretações.

Em sua reação o P. Dr. Nelson Kilpp, da Escola Superior de Teologia, de São Leopoldo, acentuou que independentemente do método exegético que as duas Igrejas usam certamente vamos sempre advogar o direito inalienável da Escritura de poder falar por si mesma, de nos poder dizer sua mensagem. Ele lembrou ao plenário que ao priorizar o sentido literal, Lutero não defendia um literalismo bíblico, mas entendia toda a Bíblia a partir do seu centro, Jesus Cristo, dentro do princípio aquilo que promove Cristo. Ao concluir afirmou que os métodos devem ser testados em sua capacidade de serem um auxílio para encontrar a Palavra de Deus nas palavras humanas.

No painel com os palestrantes e reatores, constatou-se que: a) na IECLB estão em uso diversos métodos hermenêuticos; b) na IELB está em uso um único método hermenêutico.

Recomendações dos grupos

A 2ª Conferência Nacional Interluterana teve como um dos seus objetivos avaliar a caminhada das duas Igrejas motivada pelas recomendações da 1ª Conferência Nacional Interluterana. Estas recomendações diziam respeito às oito áreas definidas no Convênio de Cooperação assinado pela IECLB e IELB. Os participantes desta 2ª Conferência foram distribuídos em oito grupos que trouxeram as seguintes avaliações e recomendações:

1) Comunicação

A. Avaliação

Com respeito às recomendações de criar uma Assessoria de Imprensa, uma Política Comum de Comunicação e Tomada de Ações Concretas em Conjunto nada foi feito pelas duas Igrejas. Apesar disso, LUC (Luteranos Unidos em Comunicação) exerceu seu papel ao reunir periodicamente os comunicadores de ambas as Igrejas; a CID (Comissão Interluterana de Diálogo) criou uma comissão de vinhetas que produziu os VTs para o Dia da Reforma de 1999 e 2000. Mesmo que tenha havido um pronunciamento de ambas as Igrejas e progresso no uso de espaços já existentes, lamentamos que a área de comunicação não esteja recebendo a atenção prioritária que a 1ª Conferência Nacional Interluterana lhe atribuiu. Isto se reflete na pouca locação de recursos à comunicação e na pouca consciência da importância da comunicação interna e externa.

B. Recomendações

1. As duas Igrejas deveriam continuar apoiando as iniciativas de LUC, reconhecendo que ela é o espaço de encontro e troca de experiência dos comunicadores.

2. Damos total apoio e animamos que se continue a prática de posicionamentos oficiais de ambas as Igrejas, divulgando o pensamento luterano. Propomos a elaboração de um folder (folheto) que apresente as duas Igrejas ao público brasileiro e à mídia em geral e que a CIL acolha a produção deste material. Propomos também que se amplie a ocupação de espaços nos jornais de ambas as Igrejas, tanto nos de circulação nacional quanto nos distritais e/ou sinodais e que os sites oficiais das duas Igrejas trabalhem mais a questão das notícias, valendo-se dos boletins da ALC (Agência Latino-americana e Caribenha de Comunicação) para o conteúdo de seus informativos e crie links para as diversas organizações luteranas.
Observação: Sobre o Convênio de Cooperação animamos para que as editoras aprimorem os projetos de co-edição.

2) Formação Teológica

A. Avaliação

Constatou-se que houve encontros entre os professores de Teologia das duas Igrejas, bem como dos estudantes de Teologia. Também aconteceram alguns encontros entre os/as pastores/as das Igrejas bem como da CID com representantes dos Centros de Formação das duas Igrejas no RS. As Comissões de Teologia (CTRE) da IECLB e IELB produziram o documento de estudo sobre Santa Ceia.

B. Recomendações

1. Recomendamos um encontro anual dos/as obreiros/as de ambas as Igrejas em nível sinodal e/ou distrital. Os presidentes das Igrejas convocarão estes encontros através de seus representantes (presidentes e conselheiros).

2. Recomendamos encontros regulares dos professores de Teologia dos centros de formação teológica da IECLB (EST, CPM, CETEOL) e da IELB (EST/SP, Seminário Concórdia SL e Teologia ULBRA).

3. Recomendamos que os professores de Teologia de uma faculdade sejam convidados pelas outras faculdades para lecionar e/ou dar palestras numa grande integração para crescimento.
Observação: Entendemos que o momento atual ainda não é oportuno para haver um programa de instrução bíblica em conjunto das comunidades de ambas Igrejas. Fazer este tipo de integração fica como desafio para o futuro próximo.

3) Escola Confessional

A. Avaliação

No que diz respeito às ações propostas na 1ª Conferência Nacional Interluterana, o resultado da enquete feita entre os convidados para esta 2ª Conferência retratou a realidade. Constatamos que nada foi feito no campo da educação. No que diz respeito às duas conferências, afirmamos que o seu grande mérito é o de nos conhecermos e, nos conhecendo, superar preconceitos. A partir deste conhecimento podemos criar relacionamentos que intensifiquem nossa ecumenicidade e ações. Que outras conferências aconteçam.

B. Recomendações

Considerando que as escolas desempenham um papel muito importante na sociedade pelo seu modelo de educação e pela qualidade de seu trabalho; que o trabalho educacional é parte integrante na missão das Igrejas; que o teológico dá sentido ao fazer pedagógico das escolas, se conclui que:

1. As Igrejas são solicitadas a promover encontros de diálogo entre as áreas responsáveis pela educação: Associação Nacional de Escolas Luteranas - ANEL (IELB) e Departamento de Educação (IECLB) para viabilizar frentes de trabalho.

2. As Igrejas são solicitadas a promover encontros entre as instituições de Ensino Superior a elas ligadas.

4) Culto, liturgia e música

A. Avaliação

Muito pouco do que consta no documento final de 1998 foi implementado.

B. Recomendações

É necessário que a CID encaminhe as seguintes propostas aos órgãos específicos de trabalho da IECLB (Conselho de Liturgia e Conselho de Música) e da IELB (Comissão de Culto e Liturgia):

1. Promover em 2002 o encontro das Comissões de Culto e Liturgia com a tarefa de formular uma liturgia alternativa comum (texto e música) e promover um seminário de culto e liturgia em conjunto.

2. Estudar a viabilidade de co-edição de subsídio litúrgico-homilético com base nas perícopes da série trienal.

3. Editar um cancioneiro alternativo comum com novas composições (letra e música), envolvendo os responsáveis pelas áreas de música dos centros de formação.
Observação: Além disso sugerimos que se faça uma declaração em conjunto sobre o conceito de liturgia e a prática de culto, considerando a estrutura em uso em cada uma das Igrejas.

5) Missão e evangelização

A. Avaliação

Analisando o texto do Convênio de Cooperação entre IELB e IECLB e as recomendações da 1ª Conferência Nacional Interluterana, constatamos avanços importantes no trabalho conjunto em várias regiões do Brasil.

B. Recomendações

Que se continue perseguindo os objetivos estabelecidos na 1ª Conferência no que diz respeito aos seguintes itens:

1. Que as Direções das duas Igrejas priorizem a criação da CIME (Comissão Interluterana de Missão e Evangelização) para tomar conhecimento dos planejamentos missionários das duas Igrejas e ver onde e como estabelecer cooperação.

2. Que se incentive o trabalho em conjunto em novos campos de trabalho. Na priorização de novos campos missionários se busque, preferencialmente, cidades onde a outra denominação ainda não esteja presente.

3. Que, para obter recursos para a Missão, as Igrejas tornem conhecidos seus programas educativos de mordomia cristã e oferta, informando como arrecadam e aplicam os recursos.
Observação: Sugerimos que o estudo sobre Palavra e Ceia seja intensificado para diminuir ou eliminar divergências e resistências e que sejam realizados encontros de obreiros/as e líderes leigos/as para refletir as questões ligadas à IELB e à IECLB.

6) Responsabilidade pública

A. Avaliação

Constatamos que pouca coisa aconteceu em nível nacional. Os pronunciamentos que ocorreram, conforme enquete do período, foram em nível local.

B. Recomendações

1. Estimular a CID a intensificar a sua atuação de assessoria junto às presidências, ajudando a constituir agenda de assuntos sobre os quais as duas Igrejas devem se pronunciar em conjunto.

Observação: Percebeu-se que a atuação de responsabilidade pública está estreitamente relacionada com a área de comunicação e a criação de uma assessoria de imprensa.

2. Incentivar as comunidades e seus membros para que ocupem espaços de responsabilidade pública no sentido de marcar presença e atuação luterana na sociedade, como por exemplo, associações, sindicatos, etc.


7) Prática comunitária

A. Avaliação

O grupo constatou que em relação às sugestões da 1ª Conferência Nacional Interluterana foi posto em prática a elaboração de um documento sobre a Santa Ceia, ficando as demais no aguardo de providências.

B. Recomendações

1. Em relação ao documento Critérios de Procedimento na Transferência de Membros entre IECLB e IELB recomendamos que o mesmo seja aceito na íntegra conforme encaminhamento nesta 2ª Conferência.

2. Em relação ao documento sobre Santa Ceia recomendamos que as presidências das duas Igrejas prorroguem o prazo para o retorno das considerações das congregações. Que os participantes da 2ª Conferência incentivem, no âmbito de suas influências, o estudo do mesmo, dando também sua reação pessoal.

3. Que sejam retomados os assuntos referentes a 1ª Conferência atinentes a prática comunitária conforme pontos 3.10.4 até 3.10.7 (Revista Unidade e Missão das Igrejas Luteranas no Brasil - CIL - 1999 - página 55).

8) Serviço social e diaconia

A. Avaliação

Há iniciativas localizadas mais em algumas regiões do que em outras. No Espírito Santo, por exemplo, houve esforços para um trabalho social conjunto de grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) em diversos locais, em grupos de terceira idade e no trabalho junto ao Hospital Evangélico em Domingos Martins. Houve ainda, em agosto de 2001, um Seminário de Terceira Idade, em Vitória, promovido pela IECLB em conjunto com a IELB.
Existem muitos trabalhos comunitários com a participação de membros de ambas as Igrejas, mas não por iniciativas institucionais.
Geralmente há duplicação de esforços e iniciativas mas, somadas, seriam ações mais expressivas.

B. Recomendações

1. Realização de seminários sinodais/distritais e nacionais para avaliação e reflexão das ações sociais e diaconais; estes devem ser extensivos à Igreja irmã para troca de experiências e intercâmbio dos resultados.Observação: A IELB realizará, a partir de 2002, seminários na área social e estes serão extensivos às comunidades da IECLB.

2. Ocupação de mais espaços na área social e pública, vivenciando e praticando a diaconia fora dos muros das nossas comunidades.

3. Mobilizar-se na busca de verbas públicas existentes para a área social, colocando assim a marca luterana através da ação diaconal.

Compromisso

As recomendações contidas neste documento deveriam ser assumidas pelas respectivas áreas e pelas pessoas que se fizeram presente nesta 2ª Conferência. É muito importante que as recomendações sejam usadas como motivação para incrementar o diálogo nas comunidades e congregações, mesmo que não se atinja todas as expectativas projetadas. Também é importante que se adote a prática da comunicação mútua dos diferentes programas realizados em cada Igreja.

Que seja dada ampla divulgação deste documento no âmbito das duas Igrejas, no contexto brasileiro e no contexto das relações com as Igrejas parceiras no exterior.

Com este documento a IELB e a IECLB confirmam sua caminhada projetada pelo Convênio de Cooperação que inspirou tanto a 1ª Conferência quanto esta.

As nossas Igrejas esperam de si próprias o contínuo esforço de buscar a unidade no serviço e na confissão. Renovamos nosso compromisso com a súplica com a qual a IELB e a IECLB acolheram o documento final da 1ª Conferência Nacional Interluterana: Que o Deus todo- poderoso, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, nos conceda a graça de seu Espírito Santo, para que todos sejamos unidos nele e constantemente permaneçamos nessa unidade cristã que lhe é agradável (Fórmula de Concórdia, Epítome art. XI, 23).


Lar Rodeio 12, Rodeio/SC, 07 de novembro de 2001
Os/as participantes


Âmbito: IECLB / Organismo: Igreja Evangélica Luterana do Brasil - IELB
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Ecumene
ID: 13910
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Quanto mais a gente de embrenha na Criação, maiores os milagres que se descobre.
Martim Lutero
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