Recursos litúrgicos para a campanha - 2021
16 DIAS DE ATIVISMO
PELO FIM DA VIOLÊNCIA
CONTRA A MULHER
Rede de Mulheres e Justiça de Gênero de Igrejas da América Latina e Caribe ligadas à FLM
Você vai precisar
1.Confeccionar uma árvore genealógica em formato de painel ou apresentação em Power Point ou conforme a criatividade. Os nomes para compor a árvore genealógica serão inseridos posteriormente, durante o momento da reflexão, são eles: Tamar, Raabe, Rute e Bate-Seba. 2. Providenciar 5 tarjetas pretas e 5 tarjetas coloridas para utilizar na árvore genealógica durante a reflexão.
3. Ler atentamente a proposta litúrgica para certificar-se de quantas pessoas podem ser envolvidas no preparo e na condução da celebração. Use de criatividade para preparar o ambiente.
4. A proposta está pensada para o culto comunitário, podendo ser adaptada para estudo e reflexão em grupos.
LITURGIA DE ENTRADA
Acolhida
Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. Lamentações 3.21
A memória que nos traz esperança são as misericórdias de Deus que se renovam a cada manhã. A bondade de Deus que é infinita é fonte de esperança viva. São as memórias que nos ajudam a compreender o mundo, moldam nossa visão e nos capacitam a criar vínculos afetivos. Hoje, queremos trazer a memória histórias que nos fazem ser o que somos. Nesta celebração rememoramos o desafio de mulheres que tiveram que enfrentar situações de risco para sobreviver, mulheres da bíblia, mulheres do passado, mulheres do presente. Ao rememorar, queremos dizer não a violência contra as mulheres do passado, do presente e do futuro.
Nesse propósito, ao celebrarmos este culto, lembramos da Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Esta é uma campanha anual e internacional que começa no dia 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, e vai até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. No Brasil, a mobilização abrange o período de 20 de novembro a 10 de dezembro. Foi iniciada por ativistas no Instituto de Liderança Global das Mulheres, em 1991, e continua a ser coordenada anualmente pelo Centro para Liderança Global das Mulheres. É uma estratégia de mobilização de indivíduos e organizações, em todo o mundo, para engajamento na prevenção e na eliminação da violência contra as mulheres e meninas.
Canto: Em tuas mãos – LCI 15
Saudação apostólica
Nos reunimos em nome e na presença do Deus Criador e Mantenedor da vida, Deus de Tamar, Raab, Rute e Bate-Seba; Que em Jesus Cristo nos acolhe e salva e, por meio do Santo Espírito, a Ruach divina, nos ensina a esperançar. Amém.
Confissão de pecados
Na Bíblia, o povo de Deus e as suas experiências de fé iluminam a nossa vida, de forma que podemos aprender com seus acertos e com seus erros. Somos pessoas falhas, imperfeitas e reconhecemos diante de Deus o quanto necessitamos de sua misericórdia e do seu perdão. Oremos:
Deus da vida, chegamos diante de ti com humildade e sinceridade. Séculos passaram e ainda hoje não praticamos o mandamento do amor como Jesus nos ensinou. Reconhecemos o nosso pecado quando nos calamos diante da violência praticada contra mulheres, muitas vezes, em nome de um suposto amor; nos omitimos quando mulheres e meninas são excluídas das decisões sobre sua vida, sobre seu corpo e sua fé; por medo ou comodismo, pouco profetizamos sobre as situações que oprimem e inferiorizam as mulheres. Por isso, pedimos: Transforma nossas vidas conforme a tua vontade; dá-nos teu perdão para que, em liberdade, sejamos apoio efetivo a quem sofre violência. Amém
Canto: Se confessarmos – 49 LCI
Anúncio da graça
Deus é misericordioso e compassivo para nos perdoar. Ele oferece perdão aos corações verdadeiramente arrependidos.
Diz o salmista: “Tu és bondoso e perdoador, Senhor, rico em graça para com todos [e todas] que te invocam”. Salmos 86.5
Kyrie
Clamemos a Deus:
Pelas mulheres que dependem financeiramente do seu marido/companheiro, que lutam pelo sustento de seus filhos e suas filhas.
Pelas mulheres que tem suas histórias invisibilizadas, que são silenciadas em sua dor por sistemas opressores e excludentes.
Pelas mulheres estrangeiras, que longe de sua terra lutam por uma vida melhor e encontram forças na fé e em pessoas amigas.
Pelas mulheres que sofrem situações de violência dentro de suas casas, seja física, psicológica ou moral.
Por todas as pessoas que lutam pelo fim da violência e por aquelas que não percebem a violência. Clamemos a Deus, cantando!
Canto: Penitência – 57 LCI
Oração do dia
Deus de compaixão que te faz presente na história do teu povo. Graças te damos por este momento de encontro e pela comunhão em torno da Tua palavra. A história de vida de mulheres como Tamar, Raab, Rute e Bate-Seba quer nos ensinar e inspirar. Mulheres fortes, com persistência e fé, lutaram pela sua sobrevivência. Através das memórias bíblicas preservadas, a história dessas mulheres ilumina a vida de mulheres e de homens ainda hoje. Abre nossos olhos e ouvidos para que possamos perceber situações de violência em nosso meio. Abre nosso coração e nossa mente para receber a tua palavra e testemunhá-la. Por Cristo Jesus, oramos. Amém
LITURGIA DA PALAVRA
Leituras bíblica
Mateus 1. 1-17
Impulsos para a reflexão
Introdução
Ao fazermos uma árvore genealógica temos a possibilidade de revisitar o nosso passado, compreender o nosso presente e por que não dizer, moldar nossa visão de futuro. Muito mais do que nomes e sobrenomes, a árvore genealógica pode trazer a memória historias esquecidas, encobertas, descobertas.
Quem são estas pessoas que me antecederam? Quem são estas pessoas que nos antecederam? Que experiências viveram? Que realidades enfrentaram?
(aqui podem ser mencionadas mulheres que desempenharam ou desempenham papeis importantes na vida da comunidade, da cidade)
Refletindo o Evangelho
O evangelho de Mateus traz uma enorme árvore genealógica de Jesus, 14 gerações. O que chama muito atenção é o fato de nesta árvore estarem nomeadas 4 mulheres, sendo que uma delas tem seu nome subentendido, pois “cuja mãe foi aquela que tinha sido mulher de Urias” v. 6b é nomeada Beta-Seba em 2 Samuel 12.24.
Mas, além de Maria, mãe de Jesus, quem são estas mulheres? Que historias viveram?
Propomos utilizar a árvore genealógica, previamente confeccionada, para auxiliar na apresentação dessas 4 mulheres: Tamar, Raab, Rute e Bate-Seba.
Na medida em que for contando a história de cada mulher, acrescente o nome delas na árvore genealógica. Três sugestões para socializar as histórias:
- Ler o texto bíblico que conta a história de cada uma das mulheres
- Citar o texto bíblico e contar com palavras próprias a história de cada mulher
- Encenar a história de vida de cada uma
TAMAR – Gêneses 38.1ss
Tamar ficou viúva sem que tivesse filhos de seu marido. Sem direito à herança, sem direito a ter posses em seu nome, Tamar dependia do apoio, da ajuda e do compromisso da família. Os homens, porém, que deveriam assegurar-lhe a sobrevivência enquanto viúva, falharam com ela. Preocupada com a sobrevivência e em garantir os direitos de seu falecido esposo, de ter seu nome preservado através de um descendente (v.8), Tamar articulou um plano que colocou em risco sua própria honra e sua própria vida. Tamar não esperou para ver o que iria acontecer. Tamar esperançou, colou-se em movimento, com criatividade e coragem para se proteger e garantir-lhe a vida.
RAAB – Josué 2.1ss
Raab é mulher estrangeira, inteligente, corajosa, astuta que diante da oportunidade, elabora uma estratégia para proteger a vida de sua família e seus descendentes. Ela é uma prostituta que recebe em sua casa dois homens, enviados por Jousé, para espionar as terras de Canaã. Ao tomar conhecimento disso, o rei ordena que Raab entregue os espiões. Com determinação e coragem, Raab mente para o rei após ter feito um acordo com os enviados de Josué. Ela os esconde em sua casa em troca de proteção à sua vida e a de sua família. Raabe, a prostituta gentia, sabe do poder de Deus e confessa: O Deus de vocês, o Senhor, é Deus lá em cima no céu e aqui embaixo na terra (Js 2.11).
RUTE – Livro de Rute
Rute, tataravó de Jesus, mulher estrangeira e de “outra religião”, defendeu o direito e a vida da sogra Noemi (Rt 3,1-15). A história de Rute é a mais conhecida: Seu voto de amizade e parceria com a sogra Noemi, é uma das declarações mais belas de compromisso de vida, fé e amizade, da história. “Disse Rute: Não me peça para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o Senhor o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.”
BATE-SEBA – 1Sm 11,2-5
Bate-Seba foi casada com Urias, comandante do exército do rei Davi. Enquanto o marido estava na batalha, Davi abusou de Bate-Seba, o que resultou em uma gravidez. Sem conseguir esconder seu pecado, Davi planejou a morte de Urias no campo de batalhas, depois, levou Bate-Seba para morar no palácio como uma de suas esposas. Ela chorou a morte de Urias e a morte de seu filho recém-nascido. Mais tarde, como esposa de Davi, Bate-Seba deu à luz à Salomão.
São estas as únicas mulheres, junto com Maria, que a comunidade de Mateus coloca na “certidão de nascimento” de Jesus.
Mulheres da luta quotidiana pela sobrevivência. Mulheres com as mãos calejadas e os olhos molhados de lágrimas, o corpo e a alma feridos por causa dos poderosos que só produzem fome, desemprego, violência e a morte de crianças...
Tamar, Raab, Rute, Bate-Seba, Maria... mulheres santas, simples e cotidianas, dos nossos altares de mulheres, altares de cozinha que não cheiram ouro, mas suor e luta pela defesa da vida, custe o que custar.
A história de abuso sofrido por Bate-Seba, infelizmente não é coisa do passado. Há muitas situações de assédio e abuso sexual que mulheres e meninas sofrem em nossos dias e, que à semelhança de Bate-Seba, são silenciadas pelo medo, pela ameaça, pelo poder instituído.
Quantas são as mulheres que à semelhança de Tamar, Raab, Rute, Maria passam por situações de vulnerabilidade pela falta de políticas públicas eficientes que lhes garantam segurança e uma vida digna? Quantas são as mulheres que são tolhidas em sua liberdade de poder ser, ter, decidir por causa do machismo e do fundamentalismo religioso tão presente na sociedade e na igreja?
Árvore genealógica
Neste momento, propomos colocar tarjetas pretas na arvore genealógica.
Estas tarjas pretas querem nos lembrar as vozes silenciadas, os corpos maltratados, os sonhos roubados de tantas mulheres que são agredidas diariamente em seus espaços de trabalho, no espaço comunitário e nos seus lares.
O evangelho anuncia vida plena e abundante, e isso só é possível quando nos propomos a romper com situações de violência, permitindo a luz de Deus brilhar em nós e através de nós.
Propomos colocar tarjas coloridas por cima das pretas a cada atitude mencionada.
- Podemos substituir estas vozes silenciadas por sinais de esperança:
- Quando acolhemos quem sofre violência
- Quando ouvimos sem julgar
- Quando não minimizamos a dor da outra pessoa
- Quando denunciamos as violências
- Quando não nos calamos diante das injustiças
Canto: Quando se abate a esperança LCI 613
Oração de intercessão
Intercedemos, Deus, pelas autoridades de nosso país, de nossos Estados e municípios, para que possam trabalhar por uma sociedade mais justa e igualitária, que possam fazer cumprir as leis de proteção às mulheres que sofrem violência, e promover políticas públicas que auxiliem na superação da violência.
Intercedemos por nossas Igrejas, comunidades, ministras e ministros, lideranças, para que sejam animadas e animados por Ti, no exercício diário de anunciar o evangelho; Que tenham a sensibilidade de acolher e fortalecer as pessoas que vem ao seu encontro na busca pela superação da violência.
Intercedemos por nossas famílias, para que nossas casas sejam de fato local de segurança e abrigo, não de medo e temor. Que tenhamos um olhar mais amoroso e menos preconceituoso com as mulheres que estão vivenciando esse enfrentamento.
Intercedemos por cada mulher que sofre com a violência, seja ela ainda menina, jovem, adulta ou idosa; pois mulheres de todas as idades, de todas as raças, de diferentes confissões religiosas são vítimas dos mais diferentes tipos de violência, pelo fato de serem mulheres. Por cada história rogamos pela tua misericórdia, e também te pedimos, não nos deixe indiferentes.
Concede-nos força e resistência nas adversidades; que homens e mulheres possam trabalhar em teu nome, buscando relações saudáveis e espaços seguros para todas as pessoas. Ouve-nos, quando à uma só voz oramos como Jesus nos ensinou a orar:
Pai Nosso...
LITURGIA DE SAÍDA
Benção
Envio
Em memória do Cristo ressurreto, façam a vontade de Deus
Em memória do Cristo amigo, estendam as mãos para acolher.
Em memória do Cristo peregrino, vão ao encontro das pessoas e não as desamparais
Em memória do Cristo consolem, cuidem, mantenham viva a memória de mulheres e homens que se colocaram e se colocam a disposição para o testemunho do amor e a construção da paz. Em memória de Cristo vão e anunciem ao mundo o seu grandioso amor. Amém.
Canto
Em memória de mim, comei
Em memória de mim, bebei
Em memória de mim, orai
Que seja feita a vontade de Deus
Em memória de mim, sarai
Em memória de mim, reparti
Em memória de mim, abri
A porta para o irmão entrar, ele entrar
Pão, nele vos consolai
Vinho, lembrai-vos também
Que este é meu corpo e meu sangue
Que dei por vós, dei por vós
Em memória de mim, pelejai
Em memória de mim, sempre amai
Em memória de mim, buscai a Deus
No coração, não no céu,
No coração, buscai
Sempre em memória de mim
Elaboração:
Pa. Dra. Elisa Fenner Schröder Webber e Pa. Sandra Helena Fanzlau - IECLB, Brasil
Apoio: Coordenação de Gênero, Gerações e Etnias/Secretaria da Ação Comunitária da IECLB
Divulgação
Secretaria da Ação Comunitária da IECLB