Ao longo da história brasileira sempre houve a presença de pessoas que tinham vinculação com a fé evangélica. Entre os primeiros evangélico-luteranos destacam-se: Heliodor Hesse – escrivão que residiu em São Vicente-SP, filho do humanista alemão Helius Eobano Hesse, amigo de Martim Lutero que chegou ao Brasil por volta de 1554 e Hans Staden que cantou hinos de Lutero e erigiu a primeira capela evangélica enquanto estava prisioneiro dos índios em Ubatuba/SP em 1554. Lembre-se também que no Rio de Janeiro foi celebrado o primeiro culto evangélico no Brasil e foram executados os três primeiros mártires evangélicos brasileiros (calvinistas) em 1558. Em Sorocaba/SP foi criado o primeiro cemitério protestante por ocasião da implantação da primeira siderúrgica brasileira por parte da família real em 1811.
A organização comunitária deu-se apenas com o advento do Império. Havia, porém, grandes restrições. O parágrafo quinto da Constituição do Império dizia: ¨A religião católica apostólica romana continuará a ser a religião do Estado. Todas as demais religiões serão toleradas, em casas para tanto destinadas, sem qualquer forma exterior de templo.¨ Isso queria dizer que não eram permitidos torre, cruz, sino, enfim, nada que lembrasse igreja.
As dificuldades também se refletiam na vida civil e familiar. Os matrimônios dos evangélicos não tinham validade. O registro civil inexistia. Os protestantes viviam em concubinato, pois o casamento para ser válido teria de acontecer diante do padre. Até os batismos chegaram a não ser reconhecidos. Os evangélicos, pessoas de segunda categoria, eram apenas tolerados. Tiveram dificuldades com o sepultamento de seus mortos e estavam impedidos de participar da vida política.
Dentro deste cenário surgiram e se desenvolveram as primeiras comunidades. Em 3 de maio de 1824 um grupo de imigrantes alemães evangélicos chegou a Nova Friburgo/RJ e um outro aportou em São Leopoldo/RS, em 25 de julho do mesmo ano. As duas comunidades tiveram a assistência de pastores contratados pelo governo brasileiro. Isso foi caso único, pois com a expansão e crescimento de novas comunidades isso não mais se repetiu.
O desenvolvimento da igreja evangélica acontece conjugado ao assentamento de novos contingentes de imigrantes. Estes foram assentados principalmente nas três províncias do sul do Brasil: Rio Grande, Santa Catarina e Paraná. Mas houve também grupos menores que foram estabelecidos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Espírito Santo. No Rio de Janeiro, a capital do império, a comunidade evangélica foi fundada em 1827. Em Santa Catarina, as primeiras comunidades surgiram em Blumenau (1850) e em Dona Francisca (Joinville) (1851).
Nos primeiros quarenta anos as comunidades evangélicas, que mais tarde viriam a formar a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, estavam bastante abandonadas. Organizavam suas comunidades sem muitas formalidades. De simples cultos domésticos evoluíram depois para comunidades, elaborando seus estatutos e elegendo as diretorias. Nas comunidades conviviam inicialmente luteranos, reformados e unidos.
Não podendo construir locais de culto com aspecto de igreja, as comunidades construíram escolas, usando-as também como capelas para os cultos. A falta de pastores fez com que as comunidades escolhessem entre os seus membros pessoas com melhor formação para exercer o magistério e o ministério pastoral. Tinham neste aspecto uma profunda vinculação ao sacerdócio geral de todas as pessoas batizadas.
Esse processo perdura até 1864 quando começa, de forma mais regular, a chegada de pastores da Alemanha. Eles são enviados pela Igreja Evangélica da Prússia, pela Sociedade Missionária de Basiléia(Suíça) e pela Sociedade Evangélica para os Alemães Protestantes na América, de Barmen(Alemanha). Até o final do século 19 há inúmeras comunidades espalhadas nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Constata-se a necessidade de uma maior articulação entre as comunidades. Esta organização regionalizada recebeu o nome de Sínodo.