O texto que servirá para a nossa meditação encontra-se em João 16.12-15:
No trecho extraído das Sagradas Escrituras, percebemos como o Deus-Triúno Pai, Filho, Espírito Santo, atua em benefício da humanidade. Claro exemplo dos cuidados e do amor divinos para conosco.
Jesus está de partida; é agora, seu último discurso. Ele vê que seus discípulos estão perturbados pela notícia de que deverá ir. Mas parece que não conseguem entendê-lo. Primeiramente, o Mestre lhes anuncia que será traído (Jo 13.21-30), mas tal notícia não parece que os faz compreender a gravidade da situação; também não sabem para onde Jesus vai e tampouco “sabem o caminho” (Jo 14.5).
Na verdade, ainda sentem-se desorientados, talvez estejam com medo (Jo 14.27) e tristes (Jo 16.22). Mas a partida de Jesus não pode ser entendida como abandono. O bom pastor jamais abandona suas ovelhas; pelo contrário, dá a sua vida por elas (Jo 10.11). E nessa conversa de despedida, o Senhor fala a seus seguidores que não serão desamparados por ele. E a partir do trecho lido, podemos pontuar algumas características que podem ser edificantes para as nossas vidas, como seguidores e seguidoras de Jesus.
1 O conteúdo, não se aprende de uma vez. (v.12)
Na vida, em nossas experiências diárias pelos caminhos da fé, podemos estar cientes de que não temos a resposta para todas as questões, para todos os dilemas. Não podemos “suportar” tamanho conhecimento, nós, que estamos inseridos na realidade e não sobre ela de modo onisciente… Certas coisas, saberemos no andar da vida, outras, nunca. De qualquer forma, conhecimento se dosa ao longo da estrada dos seguidores de Jesus. E de resto, compete-nos confiar no Deus, que o Mestre veio nos revelar, para vivermos o dom da vida que dele recebemos.
A felicidade não está no fato de sermos capazes de obter todas as respostas aos dilemas que nos cercam, mas de procurarmos aprender como lidar com eles, conscientes de que o Pai, como fundamento da nossa vida, é graça, verdade e amor (Jo 1.18; 1Jo 4.8).
2 O Espírito da Verdade, vos instruirá em toda a verdade. (v.13)
Jesus vai, porém, enviará o Parácleto, o Consolador (Jo 16.7). Ele instruirá os discípulos de Jesus “em toda a verdade” (v.13). No mesmo Evangelho, Pilatos pergunta a Jesus: “que é a verdade?” (18.38). Ele não percebe que “verdade” é o desvelamento daquilo que está oculto. Não se trata aqui apenas de verdade “filosófica”, no sentido de, buscando-se um método, seja possível alcançar a explicação para toda a realidade. Não. É antes o desvelamento da vida, que se dá mediante uma pessoa (Jesus), para percebermos o valor da própria vida e a sua riqueza, bem como o seu alcance.
“Toda a verdade” não significa “todo conhecimento da realidade”, mas a percepção da vida como “lugar” de realização. Não se trata de conhecimento pelo conhecimento e nem de satisfazer nossas curiosidades; trata-se, antes, de auto-conhecimento. Seguindo a linha do próprio Evangelho, podemos dizer que “toda a verdade” se refere à consciência de sermos amados, de que o fundamento desta vida não está aí por depender de nós, mas de Deus, de que vale a pena viver e lutar pelo que é certo. De que os valores do mundo, sua ambição desmedida e seu egoísmo, assemelham-se a uma planta sem raiz; enquanto que a árvore cujas raízes estão bem fincadas no chão, a pessoa que aprende a verdade do amor, vive feliz por saber como viver.
Jesus não pode trazer todo o conhecimento necessário de uma vez só para seus discípulos; este se dará ao longo da estrada, ao longo da vida, com a companhia do Espírito que tudo revela, que desvela o mais profundo de cada um e enriquece a sua vida.
3 Ele recebe de Jesus e no-lo transmite a seus discípulos. (v.14-15)
Tal riqueza, o Espírito a recebe de Jesus, que, por sua vez, recebe do Pai, a fonte, a origem, o fundamento. Recebe de Jesus que, ser humano, também trilhou os caminhos da vida pautados na alegria e no sofrimento. As riquezas de Deus, a fonte da vida, manifestam-se na concretude dela, aqui, e não se constituem apenas de uma realidade extra-mundo. E o Mestre nos mostrou isso.
Compete, portanto, deixar-nos guiar pelo Espírito Consolador, pela presença de Deus entre nós, nesta vida, e percebermos a riqueza dela se desvelar a nós, para além de suas aparências. E é no amor que tal verdade divina se concretiza, é no modo de olhar o mundo e as pessoas; é na forma de nos deixarmos levar pelo “Vento”-Espírito que veio nos revelar o que Jesus foi e fez.
E que dessa maneira, possamos, a cada dia, aprender um pouquinho mais de como podemos valorizar o dom da vida e descobrir, na pessoa de Jesus, novas formas de viver o amor que ele encarnou até seu último momento entre nós.