O que a primeira vista parece ser um problema acadêmico revela-se num segundo olhar como uma chave para nossa vida. Muita gente diz que o problema é do fazer. Fazer a coisa certa na vida. Seguir as leis e regras e tudo estará resolvido. O problema seria então COMPORTAMENTAL.
Se é assim tudo estaria resumido a mais correção. E se isto for verdade a chave para melhorar o mundo estaria em mais ensinamento e educação, e em mais controle e repressão.
Os remédios do mundo seriam escola e polícia. Sem dúvida muita gente concordaria com esta conclusão. É um lugar comum na sociedade defender que mais polícia e escola seriam a solução de quase todos os problemas.
31 de outubro comemoramos o dia da reforma. E é a partir da reforma que nossa tradição luterana desconfia de soluções fáceis paras as mazelas da sociedade.
Foi esta a experiência de Lutero que mesmo fazendo tudo o mais correto possível sentia que isto não adiantava muito. Continuava sentindo-se perdido e sem rumo.
Do mesmo jeito podemos constatar que não é por falta de polícia que o crime tem esta dominância, é muito mais por excesso de energia criminosa. Faz tempo que o efetivo policial é bastante grande e o crime não cede.
E é também nas melhores e mais caras escolas que os jovens se revelam como egoístas, cheios de problemas, sobretudo com drogas.
O apóstolo Paulo diz: “Sabemos que todos são aceitos por Deus somente pela fé em Jesus Cristo e não por fazerem o que a lei manda. (Gal,2,16)
É o que acontecia com Lutero: Mesmo sendo o mais perfeito possível no cumprimento da lei, ele não sentia o amor de Deus.
Tudo isso porque começou pelo caminho equivocado por não entender qual é o nosso problema mais profundo: Ele não é comportamental, mas RELACIONAL.
Na origem de todos os males está o relacionamento rompido, desfeito. Na origem da miséria está o ser humano sem Deus. E é sem o relacionamento profundo com ele que as coisas desandam. Quem se sente amado vai amar.
Foi com este versículo que “caiu a ficha” de Lutero. Se é verdade que estamos distantes de Deus, também é verdade que Deus não nos deixou nesta situação. É pelo seu filho Jesus Cristo que a nossa relação com ele é recuperada.
Simplesmente nos é comunicado que ele sempre nos amou e nos ama sem medidas até a morte na cruz.
Então a nossa mais profunda vocação como igreja da reforma é o chamado para refazer o relacionamento com Deus e nosso próximo.
Viver em comunidade com Deus e com irmãos e irmãs, sem apontar o dedo para ninguém, mas chamando de volta o que estava perdido. É isto que Deus quer de nos, e é esta a resposta ao nosso maior problema.
Feliz dia da Reforma!
Guilherme Nordmann