Sínodo Vale do Itajaí



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ID: 21

Estamos preparados para esta realidade?

06/10/2006


No mundo em que vivemos, “nada se cria, tudo se transforma”. A partir deste pressuposto, é possível afirmar que a situação atual que vive a nossa sociedade, não é, em gênero, diferente do que acontecia a centenas de anos atrás. A estrutura da sociedade coloca o jovem como defensor, pela sua impetuosidade e vigor, serve de soldado para defesa e conquista. O adulto é o produtor. A sua maturidade é aproveitada para a produção de alimentos e aos utensílios de vida. O idoso tem a função de ponderação da sociedade. Ele é o intelectual, o sábio, o intermediador e conciliador de conflitos. Sua vivência e experiência fazem dele um membro essencial para a sociedade. A inexistência da força física, que ainda está presente nas duas classificações anteriores, é compensada no idoso pela sua experiência e sabedoria acumulada no decorrer dos anos.

Mas, assim como já aconteceu em tempos remotos, hoje está acontecendo novamente uma alteração nesta estrutura. Na época em que os povos eram nômades, era comum deixar o idoso para trás, já que o seu ritmo de caminhada era outro. Mesmo entre o povo de Israel, era esta a postura. Com o passar dos anos, e com a gradativa conquista da terra, os anciões passaram a ter um destaque no povo de Israel, tornando-se os sábios e os conciliadores.

Hoje, 10% da população brasileira tem mais de 60 anos, a maior parte de mulheres. São mais de 15 milhões de idosos no Brasil. A região sul e sudeste tem o maior crescimento na expectativa de vida, mas igualmente nestas duas regiões percebe-se a maior transformação no papel que o idoso tem na sociedade. O idoso perdeu seu status de sábio e conciliador. A sociedade lhe tira a dignidade e, no seu lugar, oferece o Estatuto do Idoso, um aglomerado de leis de papel.

Esta realidade sombria que assola o idoso só tende a crescer nos próximos anos. Estamos preparados para esta realidade? Como família e como sociedade estamos cientes do futuro que nos aguarda?

No início do século passado, a expectativa de vida não alcançava os 40 anos. Hoje está chegando além dos 70 anos. Em 100 anos damos um salto de quase 100% na expectativa de vida. Mas como estamos nos preparando para esta realidade? Em algumas cidades do interior, que foram marcadas pelo êxodo rural, os idosos se tornaram a base da economia. Nos últimos anos, com o empréstimo casado garantido com o desconto no pagamento da aposentadoria, a economia brasileira descobriu um novo consumidor. Mas na mesma proporção teve no aposentado um grande devedor. O idoso passou a ser visto como mau pagador.

Mas isto não assusta os brasileiros. Bem pelo contrário, existe uma verdadeira corrida para tornar o idoso um consumidor inveterado. Passo a passo, a sociedade descobriu que a avançada idade é uma alternativa econômica lucrativa. Por isso, não é propriamente o idoso que está em jogo na sociedade, mas sua condição de consumidor. Para isso, o idoso está sendo convencido a driblar a velhice com o ideal da juventude. Todos querem viver muitos anos, mas não aceitam envelhecer. O importante é viver mais, para ser jovem por mais tempo. Assim como já aconteceu com o adulto, agora também o idoso está sendo “adolescido”. Esportes radicais, musculação, ginástica, tratamentos de pele, cirurgias plásticas são algumas das formas supervalorizadas pela mídia e que começam a influenciar o idoso.

O problema desta questão é a economia que apenas valoriza o consumo e não a dignidade do idoso. É o poder do consumo que norteia e impõe os valores éticos, morais e até espirituais. Nesta visão, imposta pela economia, o idoso não está sendo valorizado como pessoa, mas como objeto de consumo. As regras neste jogo são os mesmos da economia globalizada. Somente os mais fortes sobreviverão.

A velhice é o processo natural de toda vida, para a qual não podemos criar nada, mas agir e reagir sempre. É isto que precisa determinar as pessoas de uma sociedade para dar dignidade ao idoso. Já descobrimos que as leis não são a garantia de nada neste país. A verdadeira garantia para uma vida verdadeira e com dignidade ao idoso são o respeito e a honra. Se não temos nenhum sentimento pelo idoso, não adianta lutar por direitos. Precisamos valorizar o idoso pela sua experiência. O idoso não precisa da nossa piedade, mas do nosso respeito pois a idade não lhe tira a dignidade.

É possível ver a velhice como transformação do aspecto físico, mas não como perda da dignidade. Esta, não pode estar baseada no poder de consumo. O idoso requer nosso respeito pela sua sabedoria pelo seu poder conciliador, pelo seu equilíbrio nas relações sociais. Aceitando a velhice, a humanidade reconstrói a base de uma sociedade igualitária, ponderada e equilibrada. Quem tem coragem de envelhecer possibilitará ao ser humano a essência da vida: a dignidade.

Da cor púrpura

Não me lembro o nome do poeta, e não me recordo exatamente dos versos – tudo que sei é que conseguiam descrever a vida como algo muito especial. A poesia estava descrita num quadrinho num hall de hotel no meio da estrada. “Quando eu ficar velha”. Quando eu ficar velha quero usar roupas de cor púrpura. Quero pegar muitos lápis em hotéis, e bloquinhos, e fazer coleções de caixas vazias, e de coisas inúteis. Quero poder comer salame durante uma semana inteira. Quero sacudir meu guarda-chuva para pessoas mais jovens, e eles permitirão isto, dizendo que coisa de gente gagá. Então, vou me sentar no meio fio, e vou me comportar de maneira absolutamente escandalosa, e mais uma vez isto me será permitido, porque os vlhos podem se comportar como crianças. Vou usar estranhos chapéus, que sempre quis usar, mas nunca tive coragem. Entretanto, é melhor começar a fazer isto a partir de hoje. Desta maneira, minha família não ficará escandalizada quando, mais velha, eu de repente começar a me vestir de cor púrpura. (autora desconhecida).

P. Nilson Hermes Mathies, Vila Itoupava - Blumenau


Autor(a): Nilson Hermes Mathies
Âmbito: IECLB / Sinodo: Vale do Itajaí
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8274

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