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O que aprendemos com a Páscoa?

31/03/2016

Prezada Comunidade:

A celebração da Páscoa, muitas vezes tem sido bastante espiritualizada. É difícil entender o que a ressurreição de Jesus significa para as nossas vidas.
Uma pessoa da comunidade me disse que as celebrações da Semana Santa e da Páscoa apenas confirmam nela a convicção de que a vida – na verdade - não é justa. Jesus era uma pessoa jovem, estava na plenitude de suas forças. Ele passou sua vida fazendo o bem, curando os doentes, abraçando os leprosos, reunindo-se com pecadores, com as pessoas consideradas escorias da sociedade, ele se encontrou até mesmo com os corruptos daquele tempo, com a intenção de convencê-los a mudar de vida. Jesus foi um homem bom, que tinha dedicado sua vida a Deus e a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Foi capaz de simplificar todas as leis religiosas em um só mandamento: amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. Como foi possível prender, condenar e executar alguém assim? Que crime ele cometeu? No entanto, para as pessoas poderosas daquele tempo, Jesus foi considerado uma pessoa perigosa e, por isso, foi condenado e executado. Diante de situações assim, algumas pessoas dizem que a vida nos ensina que diante das pessoas poderosas – manda quem pode e obedece quem tem juízo. A vida não é justa.

Muitas pessoas também hoje se perguntam: Por que isso está acontecendo comigo? Por que tenho que sofrer essa doença? Porque Deus permite que tanta gente esteja sofrendo? Na maioria das vezes não encontramos resposta. Muitas vezes, apenas podemos abraçar e concordar que a vida não é justa. As doenças, a dor, o sofrimento atingem os bons e os maus, os que tem fé e os que não tem fé em Deus.

Aliás, o sofrimento não tem nada a ver com a bondade, a maldade, ou a falta de fé das pessoas. Se o sofrimento caiu sobre Jesus – e ele acabou morrendo de uma maneira brutal e injusta – então qualquer pessoa está sujeito a sofrer injustiças, dores, traição. Muitas vezes o sofrimento tem sua causa, mas há outros que não não tem explicação. Não dá para culpar ninguém. Ele é apenas parte da vida. E - segundo o meu amigo - a vida não é justa. Ela nem sempre castiga aos maus e recompensa aos bons.

Muitos até dizem que a vida é um caminhar para a morte. Esse caminho começa com o nosso nascimento. O corpo humano tem cerca de 50 trilhões de células e elas vão morrendo – ou enfraquecendo – a cada dia. As únicas células que duram a nossa vida inteira são os neurônios, e elas morrem somente várias horas depois que o coração já parou de bater.

Se isso é assim – então qual é a importância de Deus na vida? Se a vida é nao é justa e se a cada dia vamos morrendo a conta gotas, qual é o sentido de ter fé em Deus? Deus não deveria estar nos cuidando?

Jesus veio para nos dizer que Deus não quer nos deixar largados à boa vontade dessa vida. Ele veio para nos dizer que não estamos desamparados, que não estamos sozinhos. Jesus curou doentes, libertou pessoas atormentadas. Sua mensagem trouxe conforto e consolo para muitas pessoas. Jesus veio para nos mostrar a proximidade de Deus e nos ensinar a viver em solidariedade e em amor uns com os outros. Mas, uma coisa ainda continuava aterrorizando as pessoas: o medo da morte. A morte era vista como um castigo, porque as pessoas que morriam iam para um lugar de tormento, longe de Deus. Jesus passou por esse caminho na sua morte. As últimas palavras de Jesus na cruz foram: Tudo está consumado Então baixou a cabeça e morreu (Jo 19.30). Esse era o fim da linha.

Mas então, vem a manhã de Páscoa - que nos ensinou que a morte já não é o fim do caminho. Com a ressureição Jesus derrotou a morte. Agora existe salvação da morte. A morte é somente uma porta, pela qual passamos para chegar a uma outra vida.

Um jornalista guatemalteco – que foi ameaçado por defender uma comunidade indígena contra um poderoso fazendeiro, escreveu assim: Dizem que estou ameaçado de morte. Pode ser, mas estou tranquilo. Porque se me matam, eu sei que não vão conseguir me tirar a vida. A vida vou levá-la comigo. Por que a fé em Deus me diz que se tenho um compromisso com o meu povo, a ressurreição de Jesus significará também a minha ressurreição. Portanto, Jesus já venceu a morte e por isso, agora só estou ameaçado de ressurreição.

Uma senhora lá no Equador (onde moramos durante 10 anos), passou vários anos acamada. Nos seus últimos momentos de vida, ela me pediu que na cerimônia de sepultamento eu colocasse uma colher de sobremesa nas suas mãos. Eu perguntei a ela qual era o sentido disso e ela me disse o seguinte: Quando eu participava de um almoço ou jantar, depois que os pratos eram retirados da mesa, ainda ficava a colher de sobremesa. A colher de sobremesa era o sinal de que algo bom ainda estava por vir. Eu me tornei luterana por profissao de fé. Minha fé em Deus me diz que – apesar do sofrimento e da morte - algo bom ainda está por vir.

É por isso que a fé em Deus é importante na nossa vida. A vida por si só não é justa, mas por causa da ressurreição de Jesus, não há nada que nos pode separar do amor de Deus. Diante das fatalidades da vida, nós temos alguém que continuará segurando a nossa mão, que vai nos fortalecer e nos levanta, assim como levantou a Jesus. E se não conseguirmos mais nos levantar, então podemos ter a certeza que Jesus ficará ali - ao lado de nosso leito. A vitória de Jesus sobre a morte nos faz ver o enorme poder de Deus. Portanto, diante das fatalidades da vida, a fé em Deus me conforta e me dá esperança. Ela me conforta porque por Jesus Cristo, Deus nos oferece abrigo e proteção. “Não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo. Tu me proteges e me diriges ”(Sl 23.4)

Daí a diferença: quem vive essa vida sem fé e sem esperança, acaba se desesperando com as fatalidades e não encontra sentido na vida. Pessoas de fé em Deus também passam por dificuldades, mas elas sabem que não estão sozinhas, que Deus conhece o seu futuro, e por isso elas encontram forças para resistir, para lutar e superar. E as nossas comunidades, os cultos e os encontros comunitários são esses espaços de comunhão, onde Deus nos alimenta e fortalece a nossa fé.

Você creu porque me viu? Disse Jesus a Tomé. Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram. (João 20.29)

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém
 

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Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 20 / Versículo Inicial: 29
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 37344

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