Paróquia Norte - Rio de Janeiro

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ID: 356

Mateus 28.18-20

Prédica

28/08/1983

Culto de Apresentação - Paróquia Missão Suburbana

28 de agosto de 1983 - (Residência de Antonio e Erika Hochwart – Na. S. da Penha – Penha/RJ)

Presença do Pastor Regional Albérico Baeske e Presbíteros da CELRJ

Escolhi como texto-base para esta breve reflexão de hoje Mt 28.18-20. Trata-se de um texto bastante conhecido por todos nós, pois geralmente é lido por ocasião dos batizados em nossos cultos.

Leitura

Oração: Ó Deus, dispõe corações mentes para a compreensão de Tua Palavra. Amém.

Caros irmãos e caras irmãs em Cristo!

A grande motivação e o sentido do culto de hoje estão ligados, sem dúvida, à continuidade da incumbência dada por Jesus a seus discípulos que acabamos de ler.

Essa incumbência nos chega através dos séculos pelos caminhos mais diversos, de geração em geração, de comunidade em comunidade.

Em nosso contexto, ao nosso redor dificilmente encontramos pessoas que não tenham uma ou outra relação com o cristianismo ou a fé cristã.

O batismo, símbolo da fé cristã, é uma praxe por demais conhecida e espalhada.

Isso é de tal modo que, ao ouvirmos o imperativo “Ide...” ele nos soa um pouco estranho e lembra distâncias. Por exemplo, Amazônia, a selva com suas tribos indígenas não contactadas, a África, a Ásia, enfim, o bloco oriental.

Isso é assim porque diariamente ouvimos e lemos pelos meios de comunicação que somos a civilização ocidental e cristã.

O sentido forte e enfático do “Ide” de Jesus não nos atinge. A tarefa somente é de ensinar às novas gerações, os filhos que vão nascendo e introduzi-los gradativamente no caminho da fé cristã.

Agora, será que a realidade, de fato, é assim como descrevi? Será que o quadro apresentado corresponde aos fatos? Será que, de fato, é assim?

Ora, não podemos negar que o Brasil seja um país religioso. A tradição europeia, unida à tradição africana e indígena, forjou uma religiosidade que está presente em tudo. O fenômeno religioso passa por todas as dimensões da vida.

Acontece que, embora isso possa parecer muito positivo, constatamos e encontramos nesta profunda religiosidade uma dado que não nos deixa animados.

Apesar de toda a fervorosidade que caracteriza o povo brasileiro, apesar de toda a reverência para com o sagrado, apesar de todo o seu misticismo, ele não é evangelizado e o foi muito pouco. O Evangelho de Jesus Cristo não atingiu o povo. O povo mantem uma casca “cristã”, mas no cerne não o é. O Evangelho não penetrou sua vida.

Para desfazer a ideia de que só temos que realizar um trabalho de manutenção da fé cristã, basta olhar para dentro de nossa realidade brasileira que por si só é um testemunho anti-evangélico, que clama aos céus, nos deixando intranquilos em nossa consciência.

Assim, a partir do que disse, pode-se perceber que o “Ide” é muito atual. O imperativo bem categórico e incisivo “Ide” continua a ter a mesma importância que teve no tempo de Jesus, pois sua tarefa não foi, de longe, concluída em nosso meio.

Pensando, agora, particularmente na missão que estou abraçando aqui na Paróquia Suburbana, a ênfase no “Ide” torna-se, além de obediência da ordem de Jesus, uma condição para o desenvolvimento do trabalho. Gostaria de dizer mais: considero que é condição sem a qual não é possível uma trabalho nas grandes metrópoles.

A descentralização, o ir para fora, o dirigir-se na direção das pessoas, o ir ao encontro delas, é o grande desafio das igrejas e comunidades hoje. Estão fadadas ao fracasso, com tem, de fato, fracassado, as igrejas que simplesmente esperam pelos seus fiéis.

Os cristãos, a comunidade são convocados a ir lá onde as pessoas vivem os seus problemas diários, lá onde elas vivem seu drama cotidiano. Nas casas, famílias, bairros, escolas e locais de trabalho.

O “ide” encerra uma proposta que diz não a uma igreja da espera, uma proposta que promove uma igreja da saída, uma igreja que sai de si, que se desinstala, que está a caminho, que é peregrina.

Ao entrar no movimento da vida procura desenvolver o trabalho de congregar, de reunir em rebanho uma massa de pessoas dispersas, anônimas e sem pastor.

Promove, assim, uma prática pastoral que estabelece laços e vínculos entre as pessoas mediante a palavra de Deus. A comunhão em torno de Jesus Cristo e com os irmãos aos poucos torna-se o fermento dentro da massa. Um fermento que leveda uma sociedade em que não há comunhão.

Assim, a comunidade de Cristo torna-se em primeiro lugar uma comunidade de resistência frente a uma realidade hostil e desumana. Tem, pois, um caráter defensivo na medida em que apõe ao individualismo a comunhão.

Em segundo lugar, possui um caráter ofensivo no sentido de procurar transformar esta sociedade, de não conformar-se com ela. Significa levar a sério a mensagem do reino de Deus e, assim, caros irmãos e caras irmãs, chegamos a um aspecto muito importante de nosso texto.

A incumbência de Jesus foi cumprida parcialmente. Batizou-se muito em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, mas esqueceu-se duas coisas: 1º. fazei discípulos de todas as nações e 2º. ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado.

A mensagem do reino destina-se a todos indistintamente. “Fazei discípulos de todas as nações” inclui todos os povos, todas as raças. Antes da morte e ressurreição Jesus dissera que fora enviado para as ovelhas perdidas da casa de Israel, mas depois da ressurreição o anúncio do reino e a ordem de fazer discípulos é universal.

Sem dúvida, aí incluem-se os samaritanos contra os quais os judeus nutriam forte preconceito. Em nosso contexto os samaritanos poderiam ser representados muito bem pelos baianos e nortistas em geral de nossas metrópoles.

Esse “todas as nações”, todos os povos nos impele a sair de nós mesmos, a sair da nossa mentalidade centrada em círculos fechados.

O segundo ponto esquecido por demais é o do ensino. “...ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” refere-se ao ensino da Palavra de Deus, da mensagem do reino.

Tradicionalmente somos conhecidos como igreja da palavra. Isso porque o reformador Martinho Lutero redescobriu a sua força e poder. Mesmo assim, as palavras não nos incomodam mais, não mais nos atingem. Até parece que fomos vacinados contra ela.

Em meio a tantas mensagens, de tantos recados, de informações, a pregação e ensino é uma entre as demais. No ano dos 500 anos do nascimento de Lutero carecemos de redescobrir novamente a dimensão viva e poderosa da palavra. Da palavra que não é oca e vazia. Da palavra preenchida pela ação. O guardar de que fala o texto exprime palavras e ações, falar e agir. A palavra acompanhada da ação.

Digo que os cristãos, as igrejas, terão crédito novamente quando conseguirem fazer jús à unidade palavra e ação. Guardar as coisas que Jesus ensinou quer dizer precisamente vivência.

A vivência intervem nas relações que temos com o nosso próximo no dia-a-dia e que, muitas vezes, precisa ser bastante corajosa. Um vivência que seja um testemunho forte em situações e realidades anti-evangélicas. Somente ações, gestos que reflitam a vontade da palavra de Deus desmascaram a realidade de pecado em suas dimensões individual e social. Palavras e ações que denunciam o pecado e anunciam uma realidade nova que seja sinal do reino de Deus.

Finalmente, o que acabo de dizer até aqui pode ser bastante pretensioso, pesado e impossível de realizar dentro de nossa situação. Pode ser até desanimador.
Acontece que o texto nos dá um consolo. Ele aponta para um fato que nos dá alento: a causa pela qual nos empenhamos não é nossa. E justamente Jesus Cristo que nos confere a tarefa. “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra.” Nós somos seus seguidores e damos simplesmente continuidade ao processo desencadeado por ele.

E segue a promessa de que: Ele estará conosco até o fim do mundo. Não estamos sozinhos. Ele quer usa a nossa fraqueza, a nossa imperfeição para os seus propósitos. Basta que aceitemos ser seus instrumentos.

Que Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo. Amém.


Oração final:

Ó Deus misericordioso, nós somos gratos por nos teres dado a tua palavra para sabermos qual é a tua vontade. Pedimos, que nos ajude a ouvir e aceitar o convite de te seguir. Dá-nos força para podermos obedecer a ordem de ir a todos os povos e pessoas e fazer discípulos teus. Que cada vez mais estejamos dispostos para viver em palavra e ação o que nos ensinou teu Filho Jesus Cristo.
Lembramo-nos de todos os que sofrem pela causa da tua Palavra e são perseguidos por causa da justiça. Conceda-lhes o teu consolo. Levanta os desanimados e cansados, dando-lhes alento na caminhada.
Pedimos, em especial, pelas comunidades aqui reunidas. Derram teu Espírito Santo, fortalecendo-as em seus trabalhos. Lembramos a igreja espalhada em todo mundo, que permaneça firme e que seja, de fato, luz do mundo e sal da terra.
Abençoe-nos nesta nova semana e acompanha-nos em todos os nossos passos.
Em nome de teu Filho jesus Cristo que nos ensinou a orar, Pai Nosso...
 


Autor(a): Rolf Schünemann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Norte (RJ)
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 28 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 32369

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