Paróquia Norte - Rio de Janeiro

Sínodo Sudeste



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ID: 356

João 9.1-7

Prédica

24/07/1983

Comunidades da Paróquia Missão Suburbana

 Culto de Apresentação

24 de julho de 1983

Leitura do Evangelho de João 9.1-7

Caros irmãos e caras irmãs em Cristo!

Quem de nós já não teve a oportunidade de se defrontar com uma pessoa que tivesse nascida cega? Ou então, uma pessoa que tivesse qualquer outra enfermidade, mal, defeito físico de nascença? Certamente que sim. Todos provavelmente e, quem sabe, não poucas vezes.

Não foi nesta ocasião que você, caro irmão e cara irmã, não fez, por acaso, a pergunta para você mesmo: POR QUE? Por que uma pessoa pode nascer cega?

Por que uma pessoa pode nascer surda-muda? Por que uma pessoa pode nascer com defeitos físicos? 

Por que? Por que? Por que?

Estas perguntas, estes por quês nos inquietam. Atrás do sofrimento de uma pessoa com um mal de nascença encontramos um mistério que nos incomoda.

No tempo de Jesus isso não era diferente. Todos se faziam estas perguntas e, inclusive, os discípulos. Ao chegarem a Jesus perguntando: Mestre, quem pecou, este cego ou os seus pais para que nascesse cego? Estavam representando a todo o povo.

Podemos constatar que na própria pergunta encontramos a resposta que era dada na época. O povo, em geral, mais os religiosos, representados principalmente pelos fariseus, tinham uma resposta clara. O motivo pelo qual alguém nasce cego ou sofre de algum mal é o pecado.

Era uma solução que resolvia com facilidade a todos os problemas. No entanto, precisamos, antes de verificar a atitude de Jesus frente ao cego, analisar como a doença e os doentes eram vistos na época de Jesus.

Os doentes eram considerados impuros e, como tais, excluídos da sociedade. Inclusive e principalmente não podiam participar das cerimônias cúlticas do templo. Aos cegos somavam-se os aleijados, os doentes mentais, paralíticos, os leprosos.

Havia uma nítida separação entre os sãos e os doentes. Para complicar a situação, não havia quem defendesse os doentes, pois os sadios é que prescreviam as normas e as leis da sociedade da época de Jesus. Os sadios representados religiosamente pelos FARISEUS.

Qual a atitude de Jesus?

Jesus não adota e nem aceita esta explicação fácil que seus discípulos estão acostumados a ouvir e a dar. Jesus não só não rejeita e, mais do que isso, acolhe ao cego marginalizado.

Nem ele pecou, nem seus pais, mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus.”

Com esta resposta Jesus espantou a todos. Com ela e com o seu gesto de acolhimento ele se opôs ao sistema dos fariseus que marginalizavam os doentes e, consequentemente, os cegos. Com esta oposição clara e frontal chegamos ao cerne, ao centro de nosso texto.

Jesus Cristo aponta para si mesmo, como sinal e luz do mundo. Ele executa a obra de seu pai. Esta obra manifesta-se na cura do cego.

Jesus cospe no chão, faz uma massa e unta, esfrega nos olhos do cego. Imaginem, como esta cena igualmente deve ter chocado as pessoas que estavam em volta. Que falta de etiqueta, de boas maneiras, de higiene!!!

Para Jesus não importava nada disso. Importava somente o cego. Afinal, o cego não estava vendo nada do que estava acontecendo. A pessoa do cego era mais importante do que as convenções sociais.

Diz o texto que diante da ordem de Jesus “Vai e lava-te no tanque de Siloé” o cego foi, lavou-se e voltou vendo.

Fundamental e central aqui é a fé, a confiança em Jesus Cristo por parte do cego. A fé manifesta-se no obedecer, no confiar na ordem de Jesus. Assim a pessoa de Jesus acaba ressaltada em toda a cena. Ele torna- se o centro de tudo.

Cara comunidade! Que temos nós hoje, neste Rio de Janeiro, nesta Ilha do Governador/Praça Seca/Brás de Pina, neste 1983 a aprender desta cura de Jesus? Em que este texto pode ajudar em nossa caminhada de fé como cristãos na comunidade, na família e em nosso lugar de trabalho?

Em primeiro lugar podemos perceber que eram os próprios discípulos de Jesus, aqueles que tinham certa convivência com ele que vem com a pergunta. Hoje como cristãos, como pessoas que procuram seguir a Cristo, temos, muitas vezes, uma mentalidade embotada. Temos as nossas explicações fáceis para os males das pessoas. Explicações que nos tranquilizam, mas não correspondem à realidade da vontade de Deus.

Relacionamos doença com castigo com muita facilidade. Aceitamos explicações da umbanda e do espiritismo que dizem ser o sofrimento e os males físicos das pessoas decorrentes do espírito dos antepassados, que precisam se purificados.

Agora, como admitir que milhares de crianças que já no ventre materno durante sua gestação estiveram privadas do mínimo necessário para o seu desenvolvimento normal, sejam culpadas? Ou então, que as suas mães ou pais sejam responsabilizados pelas deficiências posteriores? Na questão da cegueira, dos conhecimentos que disponho, pode-se responsabilizar aos pais, só nos casos das doenças venéreas que ode ocorrer o caso da cegueira. Mas as doenças venéreas são um problema bem amis amplo e não podemos creditá-lo unicamente aos pais.

Ao olharmos para os milhares de abandonados, os milhares de marginalizados de nossas cidades, percebemos que hoje continuamos a agir como no tempo de Jesus. Atribuímos a culpa pela sua situação à preguiça. Dizemos que são pobres porque são vagabundos. Todos tem condições iguais e oportunidades iguais. Eles, os marginalizados, é que não querem.

Estas são explicações fáceis e superficiais que damos e tiramos o corpo fora para não nos comprometermos. Os nossos preconceitos, a nossa mentalidade centrada em nós mesmos, impede que vejamos no sofredor, no doente, uma pessoa a ser acolhida por nós.

Esse é o grande desafio que o Evangelho nos coloca hoje. Saber acolher a exemplo de Jesus.

Como podemos chegar a isso? Olhando para Jesus Cristo, crendo nele. O cego recobrou a vista quando seguiu os conselhos de Jesus. Houve luz nas trevas. Para ele que vivera na escuridão, o gesto e a acolhida de Jesus foram início de uma nova vida. Foi sua integração na sociedade que o marginalizava.
Somente a fé me Jesus Cristo pode nos abrir os olhos para o próximo.

Esse recado que ele quer dar aos discípulos e aos cristãos de hoje. A fé nele, rompe com a polarização entre doentes e sãos, entre capazes e incapazes, entre excepcionais e bem dotados fisicamente.

Assim, a doença, o sofrimento, os males físicos das pessoas, antes de constituírem-se numa grande dúvida, num imenso problema, tornam-se uma grande possibilidade de manifestação do amor de Deus. O próximo sofredor torna-se uma interpelação de Deus.

Na medida em que nos acercarmos, nos aproximarmos mais de Jesus Cristo, poderemos ser curados de nossa cegueira que se manifesta em nossos preconceitos, em nossa maneira estreita de pensar. Esta abertura para Jesus Cristo nos possibilita a abertura para o próximo sofredor. Na medida em que nos abrirmos para o próximo sofredor, estaremos nos aproximando, por sua vez, mais na fé em Jesus Cristo.

A cura do cego revela a luz que é Jesus Cristo. “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida.” – João 8.12

Que possamos nos aproximar cada vez mais deste Jesus Cristo que é a luz e acolher o próximo sofredor como sinal de nossa fé. Amém.

“ E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo.”

Oração final:

Senhor Deus, Pai. Tem compaixão de nós. Os teus olhos estão abertos sobre todos os povos e todas as nações. Tu a tudo observas e vês a tudo que se passa entre nós. Teu é o juízo e a graça sobre grandes e pequenos, sobre justos e injustos. Não nos castigues segundo as nossas transgressões.

Ó Deus e Pai, Tu enviaste Jesus Cristo como a luz para dentro das trevas. Esta luz nos revela e faz reconhecer todos os marginalizados: doentes, excepcionais, mulheres, jovens, pobres e os pequenos em geral. Por eles queremos interceder e pedir a tua ajuda para que nos empenhemos em seu favor sempre guiados e encorajados pela luz que é teu Filho Jesus Cristo.

Pedimos por ânimo e mais disposição para poder transformar a nossa própria limitação em desculpa barata. Transforma a nossa maneira de pensar, renova a nossa mentalidade e abre-nos para dar acolhida aos que ninguém recebe.

Senhor queremos ser teus instrumentos para testemunhar de ti em palavra e ação.

Esteja presente com esta comunidade em sua caminhada e conceda a tua bênção para que tudo o que nela se faz seja feito em Teu nome.

Pedimos-te acompanha-nos no restante deste dia e na próxima semana.

Em nome de Teu Filho Jesus Cristo que nos ensinou a orar, Pai Nosso...
 


Autor(a): Rolf Schünemann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Norte (RJ)
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 9 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 7
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 32368

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