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ID: 356

Jeremias 23.5-8

Prédica

29/11/1986

Culto de Ordenação – Ilha do Governador – Rio de Janeiro/RJ

29 de novembro de 1986

Pregação Jr 23.5-8

Prezadas irmãs e prezados irmãosl

Um homem e a sua crise, ou melhor, a crise de seu povo. Assim poderíamos qualificar o profeta Jeremias. O povo de Deus sofria com as autoridades que ao longo de várias gerações tinham esquecido que o poder não podia ser exercido em beneficio próprio. Os desmandos eram enormes. As injustiças aconteciam em toda a parte. Os reis abandonaram a vontade de Deus e os banhos de sangue a base de assassinatos eram muito comuns.

Se já não bastasse tudo isso, havia algo pior: a ameaça estrangeira. O povo de Deus estava sendo atacado pelo jogo politico-militar das potências que o cercavam principalmente a Babilônia.

Jeremias é convocado como profeta a dar em meio a esta crise a sua mensagem. Trouxe assim em primeiro lugar uma massagem de arrependimento, conclamando seu povo a submeter-se ao juízo de Deus. Lamentavelmente esta mensagem não encontrou eco. Ela caiu na vazio, pois o comprometimento com o sistema era quase unânime. Ao denunciar a ganância, a injustiça e culto da idolatria, apontou para a necessidade da mudança. Logo foi considerado um agitador e subversivo, pois desmascarava a política dos reis e de seus representantes. A perspectiva de união do povo em torno do inimigo externo - os babilônios que era a política oficial, Jeremias a refutou, pois não representava nenhuma saída para as graves injustiças internas.

Sua luta maior, sem dúvida, foi com os falsos profetas que eram uma espécie de propagandistas e publicitários da política oficial. Diziam eles que tudo estava bem e tudo estava sob controle. Ao se referir a eles, Jeremias diz: “Eles curam superficialmente as feridas do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não ha paz.(Jr 8.11) Ao defenderem a situação vigente, estavam iludindo ao próprio povo. Por isso ao revelar sua falsidade, Jeremias sofreu todo tipo de pressão, inclusive, o título de traidor da pátria. Dizia que somente depois da intervenção estrangeira haverá esperança. Somente então o povo poderia reconstruir uma nova sociedade. As lideranças do momento não representavam esperança alguma, pois estavam comprometidos até o pescoço com a injustiça e a corrupção.

Nós hoje, também vivemos uma profunda crise e em meio a ela encontramos os mais diversos recados e as mais diversas manifestações. Nos últimos dois anos e principalmente nos últimos meses, tivemos muitos pronunciamentos que procuraram e conseguiram reacender na população alguma esperança. Muitas expectativas foram despertadas. Muito se falou na palavra novo. Falou-se do “velho somente enquanto negativo e superado. Havia(ou há) um consenso de que quem não usasse(ou usa) esta palavra não mereceria(ou merece) crédito na campanha política.

Lamentavelmente esta euforia do novo durou pouco. O velho estava travestido de novo, apenas. Plagiando o profeta Jeremias diria: Novo, novo; quando não há nada de novo. Isso atestam as manifestações de autoridades e a população claramente o indica.

Estamos aqui para ouvir uma palavra para o início de nossa época de Advento. Neste sentido o profeta Jeremias é claro: ao mesmo tempo em que ele denuncia, ele está também trazendo um anúncio de esperança que se fundamenta num rebento, num renovo, num germe justo. Ele não será nada semelhante aos atuais. Ele dirigirá o povo com sabedoria e terá uma linha de atuação que se pauta pelo direito e pela justiça, ou seja, por um sistema social em que a, justiça estará em primeiro lugar e por um sistema político que terá como base o direito, em que o bem-estar e a fraternidade ficam asseguradas, possibilitando uma verdadeira paz.

Este novo rei, segundo o profeta, terá um nome muito significativo: Senhor Justiça Nossa. Ao invés de olhar em primeiro lugar para os interesses pessoais, mas, sim, os do povo todo. Por isso preconiza um novo rearranjo, uma nova organização que tenha como referência um só peso e uma medida.

O profeta lembra uma experiência que para o seu povo era fundamental para a sua formação: o êxodo, a saída do povo escravo do Egito. Se esta experiência foi importante e tão marcante, o renovo, os novos tempos que virão, serão mais maravilhosos ainda.

Nesta época de Advento de Jesus Cristo, a esperança pelo totalmente novo é reacendida. A partir do nosso credo cristão confessamos que em Jesus Cristo se encontram reunidas todas estas expectativas do profeta e de seu povo. Jesus Cristo encarnou os desejos de paz e justiça presentes na história de seu povo e do mundo. Sua mensagem falada e vivida está na linha da mensagem do profeta e, inclusive e principalmente, ultrapassam-no na sua cruz e na sua ressurreição.

Irmãos e irmãs! Em Jesus Cristo Advento pode tornar- se esperança legítima. Uma esperança pelo novo e autêntico se olhamos na perspectiva daquele que é anunciado, a saber, Jesus Cristo.

Assim poderíamos perguntar a partir do profeta Jeremias: Há salvação para uma sociedade montada na justiça própria? Quando percebemos que num sistema como o nosso em que se torna lógico e evidente que ninguém quer ser penalizado sozinho, não podemos apregoar esperança, pois impera a minha justiça. Por isso vão ser atingidos pela penalização os mais fracos.

É possível salvar uma sociedade quando se perderam todos os valores e medidas que medem trabalho, remuneração e necessidade básicas? Quando percebemos que um sistema como o nosso em que o salário não está em função das necessidades básicas e que nem sempre o trabalho e a origem dos bens, não podemos falar em esperança, pois impera a minha justiça e novamente constatamos que o sofrimento sobre os mesmos de sempre - os impotentes.

É possível salvar uma sociedade quando ela vive numa orgia consumista de supérfluos, o que constitui uma afronta clamorosa a milhões de seres humanos carentes do mínimo necessário? Constatamos que o ídolo moderno, o culto particular - o consumo - é expressão da justiça própria que não precisa dar satisfação a ninguém e viver regalada e faustosamente indiferente a tudo e a todos.

Seu nome será chamado: Senhor Justiça Nossa - Ao nos colocarmos tal qual Jeremias, como comunidade cristã em meio à crise de nossa sociedade, não percamos de vista a Palavra de Deus. Busquemos orientação para nos situar acertadamente. Ele nos desperta e anima para uma viva esperança. Ao nos tornarmos sensíveis aos seus apelos poderemos estar abertos ao novo - autêntico e legítimo - que consiste na superação de todo e qualquer sistema injusto. Por isso, na medida em que não compactuamos mais com as formas de minha justiça, então Advento será expressão de um novo Natal. Advento será época de nova esperança ao não entrarmos na ciranda da idolatria consumista. Ao nos associarmos a todos que partilham um compromisso com uma real transformação, ao nos aliarmos aos que são os maiores beneficiários da transformação, a saber, os fracos e impotentes, poderemos vislumbrar verdadeira paz,

Testemunhamos a mensagem de Jeremias, sendo o “ Senhor Justiça Nossa”. Compartilhemos, pois as palavras de Jesus Cristo: “ Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu Reino e a sua justiça”. Que este Senhor nos indique a direção em nossos tempos conturbados! Que o Espírito do Cristo ressurreto nos fortifique a nos colocarmos tal qual Jeremias em meio a nossa crise e aí vivermos a nossa fé. Amém.
 


Autor(a): Rolf Schünemann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Norte (RJ)
Testamento: Antigo / Livro: Jeremias / Capitulo: 23 / Versículo Inicial: 5 / Versículo Final: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 32373

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Eu também sou parte e membro dessa congregação, coparticipante e codesfrutante de todos os bens que possui. Pelo Espírito, a ela fui levado e incorporado, pelo fato de haver ouvido e ainda ouvir a Palavra de Deus, que é o princípio para nela se entrar.
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