Quando meus filhos forem crescidos para entender a lógica que motiva os pais, lhes direi: Eu os amei o suficiente para perguntar com quem irão, aonde irão e que horas regressarão. Amei o suficiente para dizer não, mesmo quando sabia que vocês poderiam me odiar por isso. Amei o suficiente para deixá-los assumir a responsabilidade de suas ações, mesmo que isto me partisse o coração.
Quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais, e perguntarem aos seus pais se a sua mãe era má, meus filhos dirão: Sim a nossa mãe era má! Ela nos obrigava a comer na mesa com toda a família enquanto outras famílias ficavam espalhados em frente da TV. Nós tínhamos que comer arroz, feijão, legumes e frutas enquanto os outros bebiam refrigerantes e comiam salgadinhos e sorvetes no almoço. Ela sempre “fuçava” nossos e-mails. Ela violava as leis do trabalho infantil e nós tínhamos que tirar a louça da mesa, lavá-la e enxugá-la. Tínhamos que fazer todo tipo de trabalho. Ela insistia que sempre falássemos a verdade. A nossa vida era muito chata, enquanto todos podiam voltar tarde, tivemos que esperar até os 16 anos para chegar um pouco mais tarde e mesmo assim ela levantava para saber como foi e com quem estávamos.
Por causa de nossa mãe perdemos inúmeras experiências na adolescência. Não nos envolvemos com drogas, roubo e vandalismo. Agora somos adultos, honestos e educados e estamos procurando fazer o melhor para ser pais maus, como minha mãe foi.
Eu acho que este é um dos males do mundo hoje: Não há suficientes mães más.
Adaptado por Carlos Alberto Kunz. Escrito pelo psiquiatra Carlos Hecktheuer. Publicado por ocasião da morte de Tarcila Gusmão e Maria E. Dourado, ambas de 16 anos, em Maracaípe - Pernambuco (Maio 2003). Depois de 13 dias desaparecidas, as mães revelaram desconhecer os proprietários da casa onde as filhas tinham ido curtir o fim-de-semana.