I Sm 8.1-9
Deus escolheu os camponeses sem terra escravos no Egito para a partir deles construir o seu Projeto nas montanhas da Palestina. Durante 250 anos houve nas montanhas da Palestina uma sociedade sem Estado, sem rei, sem Templo, onde todos tinham o direito ao acesso a terra, sem classes sociais, igualitária onde havia proteção mútua, não havia nem ricos e nem pobres, todos estavam no mesmo nível.
Mas com o passar dos anos alguns começaram a concentrar renda e terras e assim começaram a surgir duas classes sociais: camponeses empobrecidos (I Sm 22.2) e camponeses ricos (I Sm 25.2), que já tinham escravos. Estes últimos precisavam de um instrumento e um aparato que lhes protegesse os bens acumulados. A partir daí surge a idéia de ter um rei que governaria a partir de um aparto estatal.
Nosso texto diz que Deus é contra, pois o rei vai querer ser deus, como era no Egito. Além do mais, nos relatam a confissão de fé do povo de Israel em Dt 6.20-23 que Deus lutou contra o Estado egípcio e contra as cidades-estado da Palestina no período da conquista da Terra Prometida. Deus defende uma sociedade onde há igualdade e fraternidade e não há classes sociais.
Por causa das desigualdades sociais que se instalaram no meio do povo surge também a corrupção entre as lideranças. Em vez eliminar as injustiças o povo decide aprofundar as injustiças através da constituição de um rei a partir de um aparato estatal. O povo não atacou as origens das injustiças, mas tentou apenas acabar com as desigualdades e a corrupção fazendo uma injustiça maior constituindo um rei. Diz em I Sm 12.19 “Além de todos os nossos pecados, ainda pecamos ao pedir um rei”.
Deus adverte o povo através de Samuel, que se chateou com esta proposta, achando que o povo não gostava mais de sua liderança. Mas Deus lhe diz no v. 7: “não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele”.
Deus é contra a constituição de uma sociedade que necessita do Estado, pois o Estado é o resultados das desigualdades sociais na sociedade para defender sempre os mais ricos. A Bíblia já fala disto em Gn 11 onde Deus desmantela a construção da cidade, que significa o Estado, e continua dizendo o mesmo nos relatos do Êxodo e na tomada da terra, repente isto através dos profetas e no final da Bíblia no livro do Apocalipse continua repetindo que ele é contra o Estado (Ap 13). Pois o Estado faz parte de uma necessidade de toda sociedade dividida em classes sociais antagônicas. Foi o Estado, o governador Pôncio Pilatos, que mandou crucificar Jesus. Esta sociedade Deus não aprova e propõe através de Jesus Cristo uma nova sociedade que ele chamou de Reino de Deus em contraposição ao reino do mundo. Os dois se excluem mutuamente, não há nada de comum entre eles.
Günter Adolf Wolff, Pastor, Condor/RS.