“Tu fazes surgir nascentes nos vales, e os rios correm entre os montes. Da sua água bebem todos os animais selvagens; com ela os jumentos selvagens matam a sede. Nas margens dos rios, os pássaros fazem os seus ninhos e cantam entre os galhos das árvores. Do céu tu envias chuvas para os montes, e a terra fica cheia das tuas bênçãos. Fazes crescer capim para o gado e verduras e cereais para as pessoas, que assim tiram da terra o seu alimento”. Salmo 104.10-14
Não quero falar da crise hídrica. Quero falar da água. Não quero falar de escassez, nem de racionamento. Quero falar de promessas e fartura. Mas... está difícil! Onipresente em todos os meios de comunicação, pauta de nossas celebrações, romarias, súplicas, tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2015, é a água, bem precioso e necessário à nossa sobrevivência, e a constatação de que esse bem tão caro e precioso pode acabar.
Quando falamos de crise hídrica, tenho a impressão de que a maior preocupação do momento é ter água para produzir energia elétrica pra poder ligar a TV, o computador, o climatizador de ar, a geladeira... Não é só isso. Nosso país depende da água para gerar energia elétrica, e aqui cabe uma reflexão bem importante: somos simples consumidores e consumidoras, perceberam? Poucos e poucas de nós conseguiram produzir sua fonte de energia elétrica e até fornecer o excedente, o que sobra, para o sistema. No mais, estamos apenas recebendo o que os governos ao longo das últimas décadas decidiram vender para nós. E a decisão dos governos, desde os tempos dos militares, e da grande Usina de Itaipu, foi gerar energia através da utilização da água, e depois vendê-la para nós.
A crise hídrica toca em dois outros pontos muito doloridos: ter água suficiente para produzir alimentos e também suficiente quantidade de água potável, água própria para o consumo humano. Não apenas para essa geração, mas para o futuro, para as filhas das filhas das filhas das filhas das nossas filhas e filhos. O salmista louva a Deus pela água, e se alegra que tantas bênçãos venham de Deus através da água. Tenho medo! Tenho medo e me arrependo, como povo de Deus, de ter caído na conversa que me venderam décadas atrás, de que eu não deveria produzir a energia elétrica para o consumo da minha família. De que o poço d’água não fornecia água de qualidade pra minha família. Que rios são meros canais onde derramamos nossos esgotos domésticos e industriais. Choro com os agricultores e agricultoras que choram, porque ligaram o esgoto da casa ao velho poço, pois agora são compradores e compradoras da água que uma empresa lhes fornece. Como choramos!
Creio que esse é o momento de nossa resposta de fé. Refletir sobre a variedade da criação divina, e sobre como nossas ações influenciam e modificam para melhor ou pior o meio em que vivemos, sim, com certeza. Mas junto com isso realizar ações locais e também globais buscando alternativas para que a sobrevivência das futuras gerações seja boa e digna, muito abençoada, como canta o salmista: deixar de ser meros consumidores e consumidoras e termos a consciência de que temos a responsabilidade de cuidar e zelar por toda a criação divina. Sim, água, terra, vida!