Justiça é, sem dúvida, uma palavra muito comum no vocabulário do povo brasileiro. Fala-se muito em justiça. Diante do crescimento da criminalidade, cresce o número de pessoas vitimadas e com sede de justiça. A própria repercussão na mídia em casos cruéis faz com que toda a sociedade queira ver a justiça acontecer. Frente a tanta corrupção política, também nos queixamos pela falta de governantes justos, e assim, por diante. Somos lembrados da importância da justiça e a falta que esta faz. Infelizmente, a injustiça se impõe em toda a humanidade, com mais ou menos força, ao redor de todo o mundo.
Na bíblia, lemos que na antiguidade, Deus prometeu ao povo a vinda de um Rei Justo que não governaria de acordo com a justiça humana e, sim, divina. Neste texto de Isaías a palavra justiça aparece quatro vezes. É-nos dito que o objetivo da vinda deste Rei ou Servo de Deus é estabelecer a justiça. A sua missão é trazer justiça ao mundo. Gostaria de citar do texto a fala sobre a justiça do Messias:
V.1 – “... e ele trará justiça às nações.”
V.3 – “... Com fidelidade fará justiça;”
V.4 – “... até que estabeleça a justiça na terra...”
V.6 – “Eu, o Senhor, o chamei para justiça;...”
Contudo, é interessante perceber que, quando Deus fala da justiça do seu enviado, parece dizer ao povo que, não esperasse por alguém que fizesse justiça na forma do povo. A razão é lógica: A justiça humana está envolta e sujeita às injustiças. Somos uma sociedade que clama por justiça, mas também cometemos injustiças. Podemos não tirar a vida de ninguém, mas tantas vezes deixamos de nos dispor a auxiliar pessoas. Ou podemos não concordar com a corrupção política, mas se mentimos ou omitimos algo em favor de um interesse, também estamos agindo de forma corrupta. Jesus Cristo, o próprio Filho enviado pelo Pai celestial, não apenas teria ações justas e, sim, seria como permanece essencialmente Justo.
Os evangelhos nos contam que quando Jesus iniciou a sua missão, logo de início as pessoas que mais tiveram dificuldade com a sua justiça foram aqueles que eram considerados os “justos” daquele tempo. A justiça de Cristo trazia à tona a hipocrisia daqueles homens. E, desta forma, Jesus foi acusado e odiado como homem que envergonhava a sua nação. Ter finalmente alguém justo era muito incômodo.
Mas a cruz tornou-se o maior marco da justiça de Deus. Nela Deus condenou o pecado e concedeu perdão ao pecador ao mesmo tempo, e sem envolver nenhuma punição ao pecador, mas oferecer-lhe graça e misericórdia.
No Antigo Testamento era olho por olho e dente por dente. A vinda do escolhido Servo de Deus inaugurou o Novo Testamento onde em primeiro lugar não se pergunta ao pecador o que ele fez, mas se anuncia o que Deus lhe fez e pode ainda lhe fazer, isto é justiça revelada através da graça. O anúncio de Deus é que o Senhor Jesus será mediador “para abrir os olhos aos cegos, para libertar da prisão os cativos e para livrar do calabouço os que habitam na escuridão.” Não se quer mais saber por que estão aprisionados, todos somos pecadores desde o nascimento e isso basta. Jesus veio a fim de libertar e libertar a todos igualmente. Não há quem seja mais ou menos pecador. Quem ainda precise sofrer mais um pouco ou pagar por algo para alcançar a bondade de Deus. Não, a liberdade trazida por Jesus é abundantemente oferecida a todos! Quantas vezes esta visão está em falta na nossa ótica de justiça? Se, fomos libertos por Cristo, temos que correr e nos apressar, para que, os que ainda estão aprisionados, também sejam libertos. Não é mais tempo destes estarem sofrendo nas angústias de um calabouço, a liberdade já foi decretada e o libertador também nos diz “assim como o Pai me enviou eu também vos envio” (Jo 20.21). E “se o Filho vós libertar verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36).
Em resumo, podemos dizer que, a maior injustiça é o ato de um pecador que recebeu liberdade e vida nova em Jesus, e não dispõem a sua vida para a liberdade dos que ainda permanecem escravos do pecado e oprimidos pela suas consequências.
O que temos feito? Vivemos segundo a justiça divina ou segundo a justiça humana falida? Com a nossa justiça própria nem sequer podemos ser cristãos. É preciso reconhecer diante de Deus as nossas falências, a fim de, assumir o que Deus tem para nós, num novo modo de vida. Que Deus assim nos abençoe. Amém!
Missionária Elfriede Krause
Paróquia da Paz de Ijuí/RS