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ID: 365

Segunda reflexão - Arte sacra no contexto cristão

08/06/2007

(Sl 78, 1-8a) História da ingratidão de Israel Poema didático de Asaf. Escuta minha doutrina, povo meu, presta ouvido às palavras de minha boca! Vou abrir a boca para um provérbio e enunciar enigmas de tempos idos. O que ouvimos e aprendemos, o que os pais nos contaram, não o ocultaremos aos filhos, mas o transmitiremos à geração seguinte: os feitos gloriosos do Senhor, seu poder e as maravilhas que operou. Estabeleceu um estatuto em Jacó e deu uma lei a Israel. Mandou a nossos pais que o ensinassem aos filhos, para que a geração seguinte o aprendesse, e os filhos que haviam de nascer, quando crescidos, o transmitissem a seus filhos, para que pusessem em Deus sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas guardassem seus mandamentos...

Esta, entre muitas passagens, mesmo sendo um Saltério, quer em suas entrelinhas narrar e exemplificar a grande experiência na libertação de Israel da escravidão no Egito, assim como encontramos várias manifestações ao longo da Bíblia em que as gerações foram instruídas e admoestadas com base no passado para a vida no presente, remetendo ensinamentos para o futuro.

Este texto é citado por Mateus, quando revela:
Mt 13, 34-35: Jesus ensina em parábolas. Tudo isso Jesus falou à multidão em parábolas e nada lhes falava sem parábolas, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Começarei a falar em parábolas,e anunciarei as coisas ocultas desde a criação do mundo.

Ao refletir sobre estas duas passagens bíblicas, e a estratégia pedagógica e didática de Jesus, através das parábolas, podemos imaginar com facilidade, como a imaginação humana é fértil para compor uma imagem, mesmo que virtual, facilitando o entendimento da mensagem pretendida. Os eloqüentes oradores e especialistas em retórica, sabem perfeitamente que a mensagem que se pretende veicular, não está na eficiência de quem a transmite, mas no quanto o ouvinte consegue assimilar, o que, obviamente e conseqüentemente, atinge ao público de diferentes maneiras.

As Artes visuais e sensoriais trazem consigo a eficácia da transmissão dos dados, não em forma linear (literal, verbal), mas em bloco, isto é: transmite sua mensagem de forma global e não analítica. Betty Edwards, esclarece quando nos fala dos dois hemisférios cerebrais: ...O seu cérebro direito é não-verbal, intuitivo; ele pensa em padrões e imagens compostas de 'coisas inteiras'...

Assim somos, quando permitirmos que a criatividade, o devaneio, o êxtase, e mais quantos sentidos que nos envolvem, nos transporte para a compreensão de fatos, carecemos da estimulação do cérebro situado no hemisfério direito, isto é, deixamos a razão (a matemática), e aceitamos ou assumimos a sensibilidade sensorial da imagem panorâmica total. Daí a importância da mensagem transmitida através do visual pleno: A Obra de Arte (pintura, escultura, arquitetura...).

Mas, ... O que nos falam os músicos? Como pode em sã racionalidade matemática um Músico interpretar um grande Mestre como Bach, Beethoven, Händel, Schubert, Vivaldi, e outros tantos?

Estes Músicos e suas complexas partituras não poderiam inserir harmonia, cor, sensibilidade, sem que fizessem suas leituras em plena sintonia com o hemisfério direito do cérebro...
E quando foi que a Música tomou uma posição mais destacada nas Artes Sacras?

As Artes Sacras através da Música. Buscando informações nesta área, encontrei o seguinte: Dario Pires de Araújo, é pastor e professor, tendo exercido seu ministério e magistério já por 37 anos em diversas instituições e igrejas. Concluiu Teologia em 1957, em 1962 o curso de Educação Musical na Caetano de Campos e, no ano seguinte, o curso de Violino no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.

Este temente a Deus, define com grade propriedade a música sacra, quando diz:
A Bíblia é a Sagrada Escritura que veio de um Deus santo através de homens santos de Deus que falaram inspirados pelo Espírito Santo (II Pd.1,21); assim também a música sacra provém de um Deus santo e é um instrumento de salvação no mundo. Os homens e mulheres que a compõem e executam, se forem mordomos cristãos, reconhecerão que ela é legitimamente usada quando não for objeto de exploração comercial com vistas a lucros e enriquecimento próprios, e sim, usada na grande causa divina de salvação.

Carecemos de retornar à história e perceber que exatamente no séc. XVI, isto é, no auge da Reforma, a manifestação de Louvor a Deus vem tomar destaque no ceio das famílias e no Culto, exatamente pela cisão da Igreja Cristã, como vimos anteriormente, e que se projeta aos idos de 1050.

Sim, Lutero foi a seu tempo o principal protagonista do Louvor a Deus (também) através da Música. Não creio ser necessário remontar aos hinos de Louvor evidentes nos Salmos e em outros momentos, tanto no Antigo Testamento, como no Novo Testamento. Basta que façamos uma conferência especial no Salmo 150, que certificaremos a importância da música no louvor divino. Ou ainda uma profunda análise do Magnificat, ou Cântico de Maria (Lc 1,46-56), belissimamente interpretado pelos grandes Compositores.

Carece no entanto, atenção redobrada para o que nos esclarece Pastor Dario Araújo, supra citado, de que a Música Sacra, a exemplo de nosso grifo inicial nas Artes Plásticas, precisam estar isentas de qualquer especulação comercial.

Com relação ainda à música, e diante das extensas matérias e depoimentos a respeito, abro a terceira reflexão após esta inserção abaixo:

O protestantismo no incentivo ou na contenção de movimentos artísticos
(Paulo Victorino 08/2004)

... Isto posto, vamos ao assunto proposto, qual seja, o protestantismo no incentivo ou na contenção de movimentos artísticos. Busquei em vão achar manifestações artísticas válidas nos países ou agrupamentos de formação protestante. Elas simplesmente não existiram, ou ficaram restritas à música e à literatura, ainda assim quando se prestavam aos propósitos de preservação e propagação do sistema doutrinário vigente em cada denominação evangélica. A dança sempre foi proibida como manifestação carnal; a pintura e a escultura lembravam a veneração à imagem, por extensão, à idolatria.

Muito ao contrário, a igreja católica, e a ortodoxa também, usaram a imagem como um instrumento para incrementar proselitismo e a devoção. Isso fez toda a diferença. No romanismo e no gótico, Deus era tudo e o homem apenas um servo, então, a arte era exercida de forma quase anônima. O pintor ou escultor executada a obra encomendada como um marceneiro faz um armário ou o pedreiro uma casa. Ao final, recebia o pagamento e se desvinculava do trabalho, que não mais lhe pertencia e do qual não recebera qualquer crédito moral.

O Renascimento veio restaurar a dignidade humana tão presente no período clássico (greco-romano). O homem voltara a ser o centro, com sua dignidade restaurada e todo trabalho artístico, liberto do anonimato, passou a ser vinculado ao seu autor, o que acontece até os dias de hoje. Mas, como o grande mecenas era a igreja, ou o poder político ligado a ela, a arte, embora individualizada pelo artista, continuou sendo predominantemente religiosa e proselitista. Serviu para marcar o poderio católico na Renascença, assim como se tornou instrumento da contra-reforma no Barroco.

Acabaria fazendo outra monografia se me estendesse mais neste assunto, mas acho que deixei clara minha convicção de que o catolicismo soube aproveitar-se melhor do valor da comunicação proporcionado pelas artes plásticas, enquanto o protestantismo se fechava em uma visão iconoclasta. Assim, o catolicismo deixou rastro, criou uma história da arte, uma linha do tempo que possibilita ter a visão social, política e intelectual de cada época: o românico, o gótico, o renascentismo, o maneirismo, o barroco, o rococó, o romantismo, o neo-clássico e por aí afora. O protestantismo ficou nos devendo esse registro e nunca mais poderá fazê-lo, porque o tempo é passado e não volta mais.
 

Foi um prazer discorrer, ainda que de leve, sobre assunto tão interessante. No Brasil, o protestantismo, que se instalou ainda por volta da década 1820, com a vida da imperatriz Leopoldina, somente começou a se desenvolver no final do Século 19, com a liberdade e tolerância de D. Pedro II, um dos maiores estadistas e conciliadores que o Brasil já conheceu. Foi nesse final de século que as várias denominações religiosas começaram a chegar e, em São Paulo, se instalaram aqui à minha volta. O Mackenzie College iniciou suas atividades na Praça Princesa Isabel, onde hoje está o Caxias de Brecheret (bem em frente à minha janela). A 1ª Igreja Batista (1899) está na mesma praça, também visível por mim. Assim como é visível a catedral da Igreja Presbiteriana Unida, na rua Helvétia. A [catedral] da Igreja Luterana, como já lhe falei, se acha na avenida Rio Branco, que corta a praça citada. E manifestações católicas, idem: O Colégio N. S. do Loreto, vizinho ao apartamento. O Liceu Coração de Jesus, com 20 mil metros quadrados de terreno tem 110 anos e fica a um quarteirão. Com tudo isso contribuiu a presença do Palácio dos Campos Elíseos (antigo palácio do governo do Estado), bem aqui em frente. O lugar onde moro respira história...


 - Introdução ao tema

- Início da reflexão

- Segunda reflexão

- Terceira reflexão - Música

- Quarta reflexão - Arte sacra na expressão corporal

- Quinta reflexão - Um exemplo de mensagem através da arte

- Sexta reflexão - A Arte a serviço de quem ou de que?

- Sétima reflexão - Profano ou santo?

- Oitava reflexão - Música, história e adoração

- Nona reflexão - A Ceia do Senhor (Prédica)


Autor(a): Walter L. Berner
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Petrópolis (RJ)
Natureza do Texto: Artigo
ID: 6737

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