Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Petrópolis

Sínodo Sudeste



Avenida Ipiranga , 346 - Centro
CEP 25685-250 - Petrópolis /RJ - Brasil
Telefone(s): (24) 2242-1703 | (24) 9881-66386
petropolis@luteranos.com.br
ID: 365

Oitava reflexão - Arte sacra no contexto cristão

Música, história e adoração - Ritmos e barulhos

08/06/2007

 

O Canto é Santo (G.Lieven)

Consigo ser
Consigo ver o sol raiar
Consigo fazer você cantar
E você nem percebeu como isso é tão bom.

O canto é santo ele cura o pranto
Com ele a vida pode pulsar
O triste consegue assobiar

O canto é santo desperta a paz
Com ele e Deus a vida é muito mais

O canto é santo, é como o sol da manhã. Inspira os sons e as melodias
Que fazem a vida brilhar.

Consigo ser
Consigo ver você cantar
Consigo fazer você brilhar
E você já percebeu como isso é tão bom

O canto é santo desperta a fé
Com ele e Deus a vida é cheia de paz

 

1.) Introdução - Música: instrumento e conteúdo de evangelização.

Mostrem a sua alegria. Toquem músicas nas harpas, cornetas e trombetas (Sl 98). Toquem com harpas, flautas e liras, com pratos sonoros, pandeiros e danças (Sl 150). Cantem a respeito do amor e da justiça (Sl 101).

Há milênios, a música tem feito parte das experiências e vivências do povo de Deus, desde os tempos de Abraão, Jacó, Mirian, Débora, Raquel, Ana. Mais tarde foi levada para o Templo e depois fez parte do cotidiano daqueles e daquelas que participaram da formação das primeiras comunidades da Igreja de Jesus Cristo.

A música sempre está presente nos encontros com a vida e com Deus. A música com conteúdo de fé tem uma longa história. Ela tem o poder de ensinar, congregar, sintonizar, acalmar, animar; também de facilitar o diálogo para além da razão, para além do objetivo e do óbvio. Ela é simples e matemática, mas, simultaneamente, complexa, múltipla; transcende aos horizontes possíveis das melodias, ritmos, culturas e regras fixas. A música é amiga da pluralidade e da beleza, do amor e do poder de Deus. Certamente, por isso ela é serviço, instrumento, motivação e conteúdo de evangelização.

Platão disse: A música é uma lei moral. Dá alma ao universo, asas ao pensamento, saída à imaginação, encanto à tristeza, alegria e vida a todas as coisas. Ela é a essência da ordem e eleva em direção a tudo o que é bom, justo e belo, e do qual ela é a forma invisível mas, no entanto, deslumbrante, apaixonada, eterna. . .

Na nossa história luterana, os hinos que surgiram a partir da Reforma sustentaram a fé de famílias migrantes isoladas em povoados e colônias; as melodias e os conteúdos acalmaram a saudade e tomaram forma de culto a Deus na ausência da igreja.

Ainda hoje, nos momentos de louvor e adoração, também de luta e sofrimento, os hinos com seus ritmos e melodias marcam ritmos e tons, passos e gestos; organizam os gritos e murmúrios e colhem o suor e as lágrimas. Nas casas, em salões, nas igrejas, nos palcos, nos meios de comunicação de massa e no cotidiano, entre muitas melodias e sons, os hinos com conteúdo de fé comunicam a presença de Deus.

Estou certo de que a música, entre todas as coisas de Deus, é muito especial. Recebemos dons e possibilidades para, com ela, proclamarmos o Cristo que morreu e ressuscitou para vencer a nossa escravidão e doar a liberdade. Em meio a tantos impulsos de ódio e de morte, a música com conteúdos de fé impulsiona o testemunho da vida abundante, as práticas e os gestos da vida que ressuscita.

2.) Um Pouco da História Antiga da Música

Nenhuma hipótese diz com exatidão o momento em que os primitivos começaram a fazer arte com os sons. Suspeita-se que já as pessoas das cavernas brincavam com os sons e davam à sua música um sentido religioso. Consideravam um presente dos deuses, davam a ela um caráter ritualístico, com ela reverenciavam o sagrado, agradecendo-lhe a abundância da caça, a fertilidade da terra e das pessoas humanas, as vitórias na guerra e as novas descobertas. Ritmavam suas danças com pancadas na madeira. Imitavam os barulhos e os sons da natureza, o sopro do vento, o ruído das águas, o canto dos pássaros. Por fim misturavam palmas e roncos, pulos e uivos, batidas e berros. Certamente assim nasceu a música, a partir da organização de muitos sons. Chama a atenção, no entanto, o fato de que a origem da música esteve ligada com a experiência humana com Deus, com o sagrado.

A palavra música nasceu na Grécia, onde Mousikê significava A Arte das Musas, abrangendo também a poesia e a dança.

Os povos de origem semita (Ásia Ocidental) cultivavam a expressão musical, tornando-a bastante elaborada. Os que habitavam a Arábia, principalmente, distinguiram-se pela criatividade. Possuíam uma ampla variedade de instrumentos e dominavam diferentes escalas. Tocavam sobretudo para dançar.

Na China, o peculiar era a própria música. Ela era monumental. Utilizavam 84 escalas. já por volta do ano 2255 a.C. o domínio dos chineses sobre a expressão musical estendeu-se por todo o Oriente, moldando a música do Japão, da Birmânia, da Tailândia e de Java.

Os Hinos e Cânticos já muito cedo inspiravam-se nos Salmos da Bíblia. Solo e Coro, ou Coros alternados, dialogavam nas orações musicadas. Aos poucos, formaram-se artistas profissionais que aperfeiçoaram o canto das melodias. A princípio, dividiram o texto em sílabas, atribuindo apenas um som a cada uma delas (canto silábico). Mais tarde, por influência da música oriental, as sílabas já reuniam vários sons.

Os grandes centros da Igreja - Bizâncio, Roma, Antioquia e Jerusalém - eram também os grandes centros da música, cada qual com sua liturgia musical particular. No século IV, em Milão, Santo Ambrósio criou um estilo que tomou o seu nome - ambrosiano. Na mesma época, Santo Hilário compunha na França uma música de características diferentes, o chamado estilo galicano. E três séculos depois, na Espanha, Santo Isidoro criou o estilo moçárabe. Contudo, foi em Roma que se estabeleceu os padrões que deram ao canto litúrgico da Igreja Romana uma forma fixa. Quem os organizou foi o Papa Gregório Magno - o que explica o nome de Canto Gregoriano com o qual se tomou conhecido esse gênero musical. Caracterizava-se por uma melodia linear e plana - o cantus planus. Por isso chamaram-no também, mais tarde, de cantochão. . .

Mas foram os gregos que estabeleceram as bases para a cultura musical do Ocidente. Como os demais povos antigos, os gregos atribuíam aos deuses sua música, definindo-a como um meio de alcançar a perfeição. Seu sistema musical apoiava-se numa escala elementar de quatro sons - o Tetracorde. Da união de dois tetracordes formaram-se escalas de oito notas, cuja riqueza sonora já permitia traçar linhas melódicas.

Os romanos quase nada acrescentaram ao progresso musical. Inventaram a Tíbia (uma espécie de gaita-de-foles), a Tuba (precursora do trombone) e um órgão primitivo. Entretanto, alguns pesquisadores afirmam que um egípcio chamado Ctesíbio já havia criado o órgão dois ou três séculos antes da era cristã.

3.) Na Bíblia: O Povo de Deus Cantava

A Bíblia mostra que, centenas de anos antes de Cristo, o povo tinha a música como hábito. Conforme os registros em Êxodo 15.1ss Moisés já cantou as maravilhosas obras de Deus. Antes do reinado e da construção do Templo a música era um dom desenvolvido principalmente pelas mulheres. Elas cantavam e dançavam ao celebrarem os eventos especiais do povo. Miriam conduziu um grupo de mulheres cantando e dançando para festejar a derrota dos egípcios (Êxodo 15:19-21). Débora é convidada a cantar. As distribuidoras de água cantam os atos de justiça do Senhor, da justiça em prol de suas aldeias em Israel (Juízes 5.11-12).

As mulheres tocaram e dançaram pela conquista de Davi (I Samuel 18:6-7). A filha de Jefté foi ao encontro de seu pai com adufes e com danças após seu retorno da batalha (Juízes 11:34). Ana orou e cantou a Deus a sua alegria por ser mãe (1 Samuel 2.1ss).

A partir do reinado de Davi (1000 anos antes de Cristo), a música das mulheres foi levada para a capital Jerusalém. Passou a fazer parte das liturgias e das festas do Reinado de Israel e mais tarde incorporou os rituais do Templo. O Reinado e o Templo incorporaram a musicalidade do povo de Deus, a canção das mulheres, das pastoras e pastores de ovelhas, das lideranças e do povo que depois formaram o Reinado de Israel.

As tradições e poderes do Reinado e do Templo aos poucos transferiram para os homens as tarefas da música.

Davi disse aos chefes dos levitas que estabelecessem seus irmãos como cantores com instrumentos de música, cítaras, harpas e címbalos, para que os sons vibrantes e alegres se fizessem ouvir (1Cr 15,16).

Os homens (os levitas) agora passaram a cuidar das canções que animavam o povo nas procissões em que a arca da aliança era transportada e festejada:

Todo o Israel, ao fazer subir a arca da aliança do Senhor, soltava brados de júbilo, ressoando trombetas, trompas e címbalos, retinindo cítaras e harpas (1Cr 15,28).

Apesar da polêmica apropriação por parte do Reinado e do Templo da musicalidade das mulheres e do canto do povo, a memória musical litúrgica da Bíblia é uma obra grandiosa. Os Salmos são a marca maior deste acervo de testemunho e fé musicado. Jesus cantou e citou os Salmos várias vezes. Eles foram citados no Novo Testamento mais de cem vezes.

Quando Jesus nasceu, já não se cantava da mesma maneira. O povo de Israel viva na diáspora, a música litúrgica havia entrado em decadência. Mas isso não impediu que o Povo de Deus cantasse nas sinagogas e nas grandes cerimônias e festas do Templo. Maria cantou a sua alegria, fé e esperança como a mãe do menino Jesus (Lucas 1.46ss) O próprio Jesus cantou os salmos na última ceia antes de ir para o Jardim das Oliveiras (Mt 26.30; Mc 14.26). A música sempre acompanhou a revelação de Deus. Os anjos cantaram ao anunciarem o nascimento de Jesus, o Messias, o Deus Salvador (Lucas 2.13).

As primeiras comunidades cristãs foram além das tradições do Templo. Agora a música cantada pelos grupos que formaram as primeiras comunidades cristãs recebeu a influência da música de origem grega. Outras melodias e poesias surgiram (Ap 5.9; Fl 2.6-11) Dessa maneira, a liturgia cristã passou a misturar as culturas musicais vigente. Os cristãos começaram a cantar os salmos de Davi ao modo das melodias gregas em língua latina. A música das comunidades cristãs passou a mesclar as diversas culturas daquela época, passou por um processo de contextualização.

4.) A Música Na Época da Reforma

Animem uns aos outros com salmos, hinos e canções sagradas. Cantem hinos e salmos ao Senhor, com gratidão nos seus corações.
(Ef 5.19)

A partir da Reforma do século XVI surgiu em algumas comunidades cristãs uma musicalidade nova. Com uma nova teologia, com uma nova proposta comunitária de fé, nasceu também novas formas cantadas e musicadas de adoração e louvor a Deus. A música passou a ser um importante instrumento de divulgação e vivência dos ideais da Reforma. Lutero percebeu que poderia usar a música como suporte para a proclamação do Evangelho e da nova proposta teológica, comunitária e eclesiástica. Ele substituiu vários coros em latim e compôs hinos em alemão para serem cantados por toda a comunidade. Incorporou músicas novas e melodias populares, ajudando na popularização dos conteúdos e propostas da Reforma.

Em carta escrita a Spalatinus, secretário de Frederick I, Lutero escreveu:

A música gospel

O termo Gospel (junção de God e spell) pode ser traduzido como palavra de Deus. É música de origem negra, nascida no final do século dezenove nas igrejas evangélicas do sul dos Estados Unidos. Em sua forma original era geralmente interpretada por um solista, acompanhado de um coro e um pequeno conjunto instrumental. Grandes intérpretes da música norte-americana começaram assim, como cantores de gospel nas igrejas. É o caso de Mahalia Jackson, Bessie Smith e Aretha Franklin, além de Ray Charles. O gospel ajudou a moldar toda a música negra dos Estados Unidos no século passado: ragtime, blues e jazz. E foi também influenciado por ela. É o caso dos quartetos gospel, surgidos após a segunda Guerra Mundial, com suas música gritada, sua dança cheia de sacolejos e roupas extravagantes. Nesta fonte foi beber o rock dos anos 50, desde Bill Halley e seus cometas, ate Elvis Presley passando por Jerry Lee Lewis. Comercialmente e na forma que tem atualmente, o gospel estourou nos Estados Unidos a partir dos anos 70. O rock passa a ser o carro chefe da música gospel. Mas outros ritmos como o funk e o reggae também são por ela adotados.
Hoje o prêmio Grammy, considerado o Oscar da música, inclui a categoria gospel e grupos como o Take 6 cobram cachês milionários por apresentação. No Brasil, além do rock, a música gospel assimilou outros ritmos como samba, pagode, frevo e baião.

(Nosso) plano é seguir o exemplo dos Profetas e os Pais antigos da Igreja e compor salmos para as pessoas no vernáculo... de forma que a Palavra de Deus também possa estar entre as pessoas em forma de música.

As primeiras raízes musicais de Lutero cresceram já na sua infância. Ao ingressar na vida monástica, teve a oportunidade de conhecer a música dos mestres contemporâneos e de aprender o canto gregoriano. Ele expressou em carta de outubro de 1530 a Ludwig Senfl, a convicção de que a música poderia, ao lado da teologia, fornecer paz e alegria à alma humana:

Pois sabemos que os demônios odeiam e não suportam a música. Dou minha opinião bem franca e não hesito em afirmar que, depois da teologia, é a música que consegue uma coisa que no mais só a teologia proporciona: um coração tranqüilo e alegre. Uma prova muito clara disto é que o diabo, o causador de tristes preocupações e de tumultos perturbadores, foge do som da música quase tanto como da palavra da teologia.

Calvino também usou a música como meio para anunciar o Evangelho. Ele não permitia o uso de instrumentos musicais e nem qualquer música no culto. Porém, ele defendia o uso da música para ensinar as pessoas a recitarem a coletânea de salmos.

Nos séculos XVI e XVII surgiram as novas tendências e estilos musicais. Os maiores representantes desta época foram J. S. Bach pela igreja luterana e G. F. Haendel pela anglicana.
Até hoje a música sacra tradicional segue critérios dos séculos passados, marcada pelas tradições e parâmetros herdados do tempo da Reforma.

5.) A Música a Serviço de Teologias e da Missão

Nos círculos evangélicos, principalmente nas igrejas não-litúrgicas, na década de 20, iniciou-se nos Estados Unidos da América a era do gospel song no rádio e, 25 anos depois, na televisão. Esse tipo especial de canção, não comunitária, pois era principalmente para solos, duetos, trios, quartetos e pequenos conjuntos, foi transplantada para os países evangelizados pelos americanos, tal como o Brasil. Na década de 40, o evangelismo nessas igrejas, nos encontros de avivamento esteve principalmente relacionado a Youth for Christ (YFC) e a tradição gospel.

A era do evangelista Billy Graham iniciou também sob os auspícios da YFC e do antigo gospel no ano de 1949, tendo como diretor musical Cliff Barrows, que utilizou repertório da tradição de avivamento do século anterior, comprovadamente eficaz para esse propósito.

Nas décadas de 50 e 60, sob a influência dos Rock, despontaram compositores e grupos do chamado gospel folk (regionalistas), ou gospel rock na Inglaterra. Muitos hinários da década de 60 publicaram música nesse estilo, que acabou por revolucionar a música vigente nas igrejas evangélicas, contextualizando uma linguagem que estava sendo disseminada rapidamente nos círculos não-eclesiásticos, graças à moderna tecnologia de comunicação.

A música é arte, e arte é instrumento é serviço. Quando a música se destina a servir a vocação da Igreja de Jesus Cristo.

A arte sacra é algo feito do ser da Igreja e se põe a serviço da Igreja. A função da arte sacra é testemunhar Jesus Cristo. Ela também é educativa. (Cláudio Pastro)

Em alguns segmentos evangélicos, caracterizados por teologias e propostas de missão distintas, é possível perceber variantes na função da música e, também, na sua identidade cultural e rítmica. Vejamos:

a) As igrejas pentecostais dão destaque às improvisações individuais durante seus cultos. Nessas igrejas e em outras evangélicas sem um rígido padrão litúrgico, a forma de apresentação da música sacra contemporânea mais usual é a que imita os grupos musicais denominados seculares, os quais se colocam no palco à frente da platéia com um líder para o canto. As melodias não são quadradas, isto é, não serve como veículo da métrica ditada pelo texto que, via de regra, foge das rimas antigas. Mas a música segue padrões novos e modernos e, desta forma, quer servir ao momento de culto. Busca envolver a todos e todas, emociona e faz dançar. Os pregadores se beneficiam do momento, criado pela música, e perseguem seus objetivos pastorais e missionários ancorados a ela. O conteúdo das músicas cantadas esta afinado com a teologia e com as propostas missionárias desenvolvidas nessas igrejas. A música tem a função de criar um ambiente espiritual e emocional para os pregadores. Nestas igrejas, com grande participação popular que aglutina as diversas culturas musicais do Brasil, há uma tendência clara de abraçar os ritmos autóctones: samba, baião, sertanejo e bossa nova.

Paulo ensina: cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento
(1 Co 14:15)

Tem-se caído no extremo de consi-derar que um culto em que não há êxtase emocional é um culto morto, que não tem valor. De certa forma tem-se perdido o rumo deixando de lado o aspecto racional e adotando o outro extremo, o subjetivo, emocionalista, e com um toque especial de mistério.
(Miguel Ângelo Darino)

b) Nas Igrejas Neopentecostais a música é um show. O público não precisa cantar. Ele precisa, assistir, ouvir e se emocionar. O altar tem a forma de um grande palco, equipado com as novas tecnologias de luz, som e outros meios de comunicação. Ela tem as características de um produto exposto para ser consumido e comprado. Co-existe com a teologia e com as propostas destas Igrejas. Tem a mesma identidade e função. Assim como Deus é pregado como um poder absoluto que está longe e que precisa ser adquirido, um bem de troca para obter benefícios, assim também a música assume esta característica: um bem enorme que tem o poder de gerar benefícios sagrados, afastado da grande comunidade, que precisa ser adquirido. Nestas Igrejas a música tem uma roupagem comercial explícita, seguindo padrões internacionais.

c) Em outras denominações históricas e litúrgicas, o lugar da música nos cultos e celebrações está melhor definido e, por isso, limitado. Da mesma forma é um grande serviço. Porém, agora mais litúrgico, mesmo que não menos teológico. Pois a palavra e a racionalidade ocupam um espaço de destaque. A música é da comunidade que canta e, que indiretamente, define o repertório ao manifestar suas preferências e gostos musicais. Nestas igrejas a música não é um show e nem um produto. Mesmo sendo uma peça secundária no contexto de culto recebe atenção especial e sofre policiamento na área de conteúdo, ritmo, melodia, etc. A hinologia destas Igrejas é composta e marcada por canções centenárias. A contextualização musical é lenta e cuidadosa. Neste caso é importante observar que a contextualização da teologia, dos conteúdos de fé e dos projetos de missão acontecem com maior rapidez do que a atualização e contextualização da música. A dinâmica da contextualização musical nestas Igrejas tem um ritmo mais lento, na proporção do seu espaço e lugar nas celebrações, cultos e encontros. Já os movimentos e grandes encontros destas mesmas igrejas conseguem atualizar as canções e contextualizá-las numa velocidade muito maior, porque a música nestes eventos ocupa um espaço expressivo e o seu serviço é considerado prioritário. Nestes casos a música anima, reúne, congrega e fala sobre a mensagem de forma mais direta.

6.) A Adoração Contextualizada

Vamos sempre em cultos missionários, tristes ao meu ver, quando se canta Yes, God is good, Sim Deus é bom... com uma alegria burra, crendo que o grande propósito de Deus para o universo humano é formar na terra uma imensa e uniforme igreja evangélica.

...Infelizmente nosso Jesus fala inglês... como um fariseu coloca-se sempre à parte da cultura, acima dela, despre-zando-a completamente em vez de restaurá-la, redimi-la, comu-nicando-se com ela. Este Jesus, fariseu-evangélico ora pelas praças usando shofares, proclamando-se santo e desprezando tudo e todos ao seu redor.
... Deus é amor, Não é fariseu, exclusivista, preconceituoso, racista.

(Bráulia Ribeiro é missionária em Porto Velho)

. . A contextualização e a atualização das canções e hinos de uma Igreja acompanham o conteúdo das teologias pregadas, dos projetos de missão encaminhados. Por exemplo, na década de 70 e 80, nas denominações e nos movimentos que tiveram como base a Teologia da Libertação, os cantos, os hinos, falavam de luta em favor dos pobres e oprimidos e convocava os cristãos a se engajarem nesta luta contra a injustiça, a desigualdade e a opressão dos mais fortes. Os textos dos hinos (cantados até hoje) tinham um conteúdo marcado pelos parâmetros do ecumenismo porque vários movimentos e denominações atuavam na mesma proposta e a maioria das causas era comum. Neste caso a adoração proposta pelas canções passava por uma contextualização exigida pela teologia e pelo projeto missionário específico.

Outro exemplo é a preocupação das lideranças musicais e dos dirigentes de louvor das Igrejas Evangélicas com a educação espiritual dos jovens. Ao buscarem a conversão espiritual e a evangelização dos jovens apóiam e investem nas músicas sacras com as características da música pop. Defendem o canto como um veículo poderoso para o ensino e crescimento espiritual da juventude. Para atingir os seus objetivos adotam o mesmo conteúdo e a mesma linguagem que circula nas rádios, televisões e demais veículos de comunicação, sem priorizar a coerência doutrinária e teológica. Neste caso a música é contextualizada para servir às propostas de evangelização do jovens.

O fenômeno da contextualização da música com conteúdo religioso se fez presente nas várias etapas históricas. Davi se apropriou das músicas e do ministério musical das mulheres e organizou os homens, os levitas, para cuidarem da musicalidade das festas e do Templo. A música passou a servir ao Templo e às suas festas.

No tempo de Jesus, sob o Império Romano e sob a influência cultural grega, a música do povo de Deus sofreu novas influências. Ela adequou-se ao novo momento da fé, quando Jesus, o Messias, tirou do Templo alguns poderes sagrados e levou para as vilas e povoados a presença viva de Deus, ao encarnar pessoalmente o amor e o poder de Deus. Jesus iniciou um novo tempo. Com a vinda do Espírito Santo, nasceram comunidades que cantavam, partilhavam os sacramentos e adoravam a Deus em pequenos grupos, em espaços alternativos, fora das Sinagogas e do Templo. A música, os hinos, os conteúdos, assumiram uma nova forma e colocaram-se a serviço de um novo momento da vivência e da experiência de fé das primeiras comunidades cristãs.

A Igreja Antiga também atualizou a musica e a contextualizou para servir aos seus propósitos e demandas.

Na época da Reforma, no século XVI, Lutero e os outros reformadores adotaram a música como um meio importante para a divulgação dos conteúdos da fé das novas comunidades e Igrejas. A música foi contextualizada para servir ao louvor e à adoração a Deus vestida com os novos conteúdos e propostas.

Hoje com a pluralidade e a diversidade religiosa e cristã, a música, atrelada a este fenômeno, assumiu formas também múltiplas, estilos e ritmos diversos, novas linguagens e formas de conteúdo.

7.) Conclusão: Ritmos e Barulhos, Caminhos da Adoração

Quais os barulhos e ritmos que conhecemos? O que é um barulho para nós? O que é um ritmo e uma linda melodia para nós? Valsa, vanerão, samba, rock, pop, sertanejo, baião, bossa nova, reage? Existem para nós instrumentos santos e profanos? Com facilidade constatamos que a variedade de gostos e de opções musicais estão diretamente associados à cultura, origem e história das pessoas, comunidades e povos.

Por conta disso, a adoração e o louvor seguem por vários trilhos. Em cada trilho tem um trem. Em cada trem vários vagões. Os trilhos representam a variedade e pluralidade da música com conteúdo de fé. Os vários trens são os serviços prestados para cada segmento e/ou denominação religosa/cristã. Por sua vez cada vagão dos trens representam os diferentes ritmos, atrelados às diferentes culturas e tradições. Todo o sistema, os trens e os vagões estão a serviço da teologia, dos projetos comunitários e missionários.

Geralmente nas Igrejas e, especialmente, na nossa Igreja (IECLB) a música não é a vanguarda. Ela não define, ela é definida. Como arte e serviço ela vem depois. Ela nasce e se coloca dentro de um contexto maior de culto, adoração e de vida comunitária de fé. Surge dele e serve a ele. O louvor e a adoração são definidos por quem está louvando e adorando ou por quem estão dirigindo (mandando) a Igreja, a teologia, as propostas comunitárias e missionárias, os movimentos. Podem ser definidos também por projetos individuais. Nas comunidades da IECLB já existe uma pluralidade musical a serviço do louvor e adoração porque já temos uma diversidade de interesses, estamos organizados em regiões geográficas com culturas diferentes e já existe grupos, organizações e movimentos com propostas missionárias e conteúdos teológicos variantes e ênfases diferentes.

Muitas pessoas canalizam o medo provocado pela realidade insegura e violenta, pelas novidades do mundo pós-moderno para a construção de defesas, e se agarram aos bens subjetivos e emocionais experimen-tados e vivenciados no passado. A música é um destes tesouros. Logo os novos instrumentos, melodias e ritmos passam a integrar o leque das ameaças e soam como barulhos inexprimíveis. Para aqueles e aquelas que não conhecem as heranças do passado, os seus ritmos, tradições e valores, toda esta bagagem, são sem valor e têm uma linguagem incompreensível.
. .

A música sempre é contextualizada. Todos os povos e culturas tem a sua tradição e a sua linguagem musical. Estamos falando da diversidade. A nível de Brasil isso se traduz assim: o povo do sul, o povo do norte, o povo do nordeste, o povo de São Paulo, o povo do Rio de Janeiro, os jovens com a influência americana, os jovens com a influência da cultura rural. Somos várias tribos, somos resultado da influência de várias linguagens e culturas. Neste contexto a música acontece, ela nasce e ocupa o seu lugar.

Os povos com culturas e tradições diferentes desenvolveram valores e bens subjetivos culturais e religiosos também diferentes. Por exemplo, quem nasceu ouvindo samba ou timbalada não entenderá, sem nenhuma iniciação e convivência, a linguagem do órgão ou dos sons marcados pelos códigos musicais antigos, também aqueles definidos como clássicos.

O que são doces ritmos e melodias para uns podem ser barulhos para outros. Esta é a conseqüência da diversidade e da pluralidade. Geralmente não há unanimidade. Uns adoram e se emocionam com o samba, com o rock, com o pop, com o ritmo e a sonoridade sertaneja. Outros adoram ouvir e vibram com a música acompanhada pelo órgão (de preferência órgão de tubos). Já outros não conseguem entender e nem ouvir este instrumento, para eles e elas, tão arcaico.

Não dá certo orar o Pai Nosso em português para quem aprendeu a oração de Jesus na língua alemã. O contrário é a mesma coisa. Não é sensato ensinar um cânone com os códigos musicais europeus para os povos indígenas... Não é fácil evangelizar as comunidades luteranas com hinos ritmados com o Reage.

Precisamos, no entanto, cultivar um dos dons e tesouros de todos e todas que estão diretamente envolvidos com a música, compositores, coralistas e músicos: a sensibilidade.

Antes e depois da sensibilidade a Palavra de Deus é a fonte de orientação e de luz para o serviço da música de adoração e louvor. Ao final se faz necessário apontar alguns aspectos bíblicos desta dimensão ética de todas e todos que se dispõem a servir a Deus a partir da música.

a) Crer: Marcos 16.16; João 3.16; Romanos 5.1ss
b) Nascer de novo: João 3.3; 2 Coríntios 5.16-18
c) Cultivar a união e a paz: Efésios 4.2-6(7)
d) Orar uns pelos outros pedindo o amor de Cristo: Efésios 3.16-19
e) Ser racional, tornar-se compreensível: 1 Co 14.14-15.
f) Amar uns aos outros: 1 João 4.7-10; João 13.34-35
g) Ser humilde e servir: João 13.12-17; Mateus 20.25-28
h) Ser livre, alegre, sem preconceitos: Gálatas 5.1; Lucas 18.15-17; João 10.10;Gálatas 3.26-29.


- Introdução ao tema

- Início da reflexão

- Segunda reflexão

- Terceira reflexão - Música

- Quarta reflexão - Arte sacra na expressão corporal

- Quinta reflexão - Um exemplo de mensagem através da arte

- Sexta reflexão - A Arte a serviço de quem ou de que?

- Sétima reflexão - Profano ou santo?

- Oitava reflexão - Música, história e adoração

- Nona reflexão - A Ceia do Senhor (Prédica)


AÇÃO CONJUNTA
+
tema
vai_vem
pami
fe pecc

A vida cristã não é mais do que Batismo diário.
Martim Lutero
EDUCAÇÃO CRISTÃ CONTÍNUA
+

REDE DE RECURSOS
+
Um coração repleto de alegria vê tudo claro, mas, para um coração triste, tudo parece tenebroso.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br