O Sopro do Espírito
....Louvai o Senhor ao som da trombeta; louvai-o com saltério e com harpa. Louvai-o com adufes e danças; louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas. Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes. Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia! (Salmo150)
Como anda a Espiritualidade dos Luteranos? A vivenciamos na ação diaconal, nos grupos e em nossas festas, como também em nosso dia a dia lá onde trabalhamos e vivemos. Como está, porém, a Espiritualidade em nossos Cultos? São calorosos, envolventes, animados e participativos? Ou será que lhes falta algo?
Levantou-se esta pergunta em particular no Domingo de Pentecostes, Domingo em que tinha, curiosamente, bem poucas pessoas no culto. Porque será que justamente neste Domingo, dedicado ao Espírito Santo que criou e mantém a Igreja (At 2.1-4), nós Luteranos lhe damos pouca importância? O texto bíblico do Domingo de Pentecostes nos fala do Aniversário da Igreja de Cristo. O dia em que uma coisa extraordinária aconteceu em Jerusalém, algo que animou e habilitou os discípulos para a sua missão. Houve o fenômeno da glossolalia, uma alegria carismática e aconteceram profecias; iniciou-se então o tempo de Testemunho e Missão. O Espírito Santo veio como um forte e grande vento. “Apareceram, distribuídas entre eles, línguas como de fogo que pousaram sobre cada um deles.” O fogo aquece e purifica, a linguagem cria a compreensão, a união e o amor entre as pessoas. Deus mesmo, naquela ocasião, desceu à terra, na forma do Consolador, na forma da Terceira Pessoa da Trindade. E acho que convém constatar que nós Luteranos temos alguma dificuldade em nos abrirmos para o Espírito de Deus.
Conta-se que um dia perguntaram ao Joãozinho quais seriam as festas mais importantes da sua Igreja. (É obsoleto observar que o Joãozinho neste caso era um pequeno Luterano.) “Bom”, ele respondeu, “deixa-me pensar. Acho que é em primeiro lugar o Dia das Crianças. Depois vem o Dia das Mães e o Dia dos Pais, depois Natal e a Páscoa.” “Joãozinho - não falta alguma coisa aí?” perguntou o interrogador. “Ah sim, respondeu o pequeno, quase esqueci - a Festa Junina.” (A resposta certa teria sido o Pentecostes, mas isso o caro leitor, diferente do Joãozinho, certamente já sabia. )
Não se trata aqui de polemizar contra esta realidade que não deixa de ter sua dignidade e beleza particular, pois para um Cristão toda vida é santa e não somente o Culto. Devemos viver sim o ser Comunidade de uma forma alegre e unida. E justamente para isso as festas também são importantes. Não se trata de divulgar um legalismo tipo “tem que se ir aos cultos todos os domingos”. Isso não seria luterano. Por outro lado, também não podemos esvaziar os nossos Cultos, pois é a convite do próprio Deus que santificamos desta forma o dia do descanso.
Deve-se voltar, então, à pergunta principal: o que falta aos nossos Cultos para torná-los mais vivos e envolventes? O que faz com que, em uma de nossas maiores festas, Domingo de Pentecostes, venham bem menos pessoas ao Culto do que no Dia da Mães? É verdade que, neste sentido, no sentido das suas origens, toda e qualquer Igreja sempre será pentecostal, também a Igreja Luterana, porque é o Espírito Santo que a anima e capacita para o anúncio do Evangelho.
Qual é, então, a nossa relação, como Luteranos, com o Espírito Santo?
Historicamente sabemos que já o próprio Lutero teve que enfrentar lutas duras com parceiros da Reforma que começaram a se tornar extremistas, apoiando-se para isso justamente no poder do Espírito. Cito os nomes de Thomas Müntzer e Karlstadt. Sabemos que “o vento sopra onde quer” (Jo 3,8a), mas não podemos, como Luteranos, nos tornar “carismáticos” no sentido de apoiar manifestações como houve, por exemplo, na comunidade de Corínto. Manifestações extremas, individualistas, à revelia e às vezes até violentas. Toda manifestação espiritual há de passar pelo crivo dos Ensinamentos Bíblicos. Buscamos a fé no Trino Deus e não uma fé que prestigie uma das três pessoas em detrimento das demais.
Se olhamos na Bíblia constatamos o seguinte, referente ao nosso assunto: O Espírito Santo ocupa na Bíblia um lugar de grande destaque. Assim está escrito expressamente em 1 Ts 5,19: “Não apagueis o Espírito”. Ou em Gl 5,22: “O fruto do Espírito é amor”. Olhamos nos Evangelhos e encontramos o seguinte: “Deus é Espírito e importa que os seus adoradores o adorem em Espírito e em verdade” (João 4,22). E, para finalizar: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus.” (João 3,5b). Está certo - precisamos discernimento ao nos abrirmos para as forças do Consolador. Como está escrito também em 1 Ts 5,21: “Julgai todas as coisas, retende o que é bom.”
Porém, com toda certeza, será bom para nós nos abrirmos mais para a Terceira Pessoa da Trindade, mas também e sobretudo na hora dos nossos Cultos. Pois é possível que, neste momento, seja isso que nos falta: o sopro do Espírito, ou seja, mais alegria e convicção de fé, um testemunho mais livre, mais liberdade nas formas de expressão, músicas e hinos novos e também aspectos visuais mais enriquecidos. Pois é o Espírito que nos impulsiona para a missão e para um uso mais rico dos diversos dons da comunidade, como também para a conquista de novos horizontes. Finalizo citando Fp 3,12: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.”
Bärbel Vogel - Pastora