A PUCPR recebeu, nesta segunda-feira dia 24 de maio, a arcebispa luterana de Uppsala, Suécia, e primaz da Igreja Sueca, Dr.ª Antje Jackelén, diante de um público internacional, para a conferência Os cinco tóxicos “p’s” e seus remédios – considerações teológicas para uma era digital. Polarização, populismo, protecionismo, pós-verdade e patriarcado, todas palavras que começam com a letra “p”, formam um “coquetel perigoso de ingredientes tóxicos” que as pessoas hoje bebem em muitos países do mundo e que são impulsionados pelo medo e pela falta de esperança. “Como cristãos, não é possível fazer outra coisa do que opor-se a estes”, ressaltou a arcebispa. Para fazê-lo, é preciso utilizar os recursos que há na teologia e na espiritualidade, fomentando, entre outras, a confiança, a compaixão e a cooperação como remédios para aquele coquetel tóxico. Este precisa ser compreendido dentro do contexto da crescente digitalização e do desenvolvimento da inteligência artificial que já traz e ainda trará mudanças substanciais em todos os aspectos da vida. Se este desenvolvimento é para trazer benefícios para as pessoas e o planeta, alguns desafios precisam ser atendidos. O discurso ciência-tecnologia-teologia precisa preparar respostas não apenas intelectualmente, mas espiritualmente. Segundo Jackelén, a ética deveria fazer parte desde o início e não apenas ser chamada quando os problemas já estão postos. Nisto, comunidades de fé têm um papel profético, diaconal, ético e teológico, promovendo a resiliência, a coexistência e a esperança como componentes chave para navegar os reinos ainda não mapeados da era digital.
A conferência da arcebispa encerrou uma série internacional de doze preleções sobre “Poder ao Povo?” Populismo, pluralismo e religião pública – uma conversa global teológica e interdisciplinar, promovida pelo Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUCPR em colaboração com universidades de Campinas (PUC), Edimburgo (Escócia), Linz (Áustria), Tübingen (Alemanha), e Stellenbosch (África do Sul). No centro da atenção da série estava a questão de como levar ao sério os anseios, desejos, necessidades e receios da população, procurando ser inclusivo em relação a este povo como sujeito plural do político numa democracia, sem instrumentalizá-lo numa definição unilateral de quem e o que seria “o povo”.
Em sua saudação, o reitor da PUCPR, Prof. Dr. Waldemiro Gremski, ressaltou que “o cristianismo é basicamente uma religião que afirma a ciência [...] Porque tudo o que ajuda as pessoas a prosperar, tudo o que alivia o sofrimento, tudo o que é bom para os mais vulneráveis é um sinal do reino de Deus. A questão é como a digitalização pode servir a esses propósitos.” E perguntou: “Como ficamos nós, como fica a educação, a ciência, a formação de pessoas nesse ambiente, como fica uma universidade cujos valores estão assentados em pilares da ciência, sim, mas também na fé e na vida?”, lembrando o escudo da universidade de scientia, vita et fides – ciência, vida e fé.
Nascida na Alemanha, a arcebispa criou raízes na Suécia, onde serviu por 17 anos em várias paróquias como pastora, antes de conquistar seu doutorado na Universidade de Lund, sob orientação do teólogo católico alemão, Werner G. Jeanrond, com uma tese sobre “tempo e eternidade na igreja, na ciência e na teologia”. Tornou-se especialista no diálogo entre ciência, fé e teologia, sendo professora na Escola Luterana de Teologia em Chicago e diretora do renomado Centro Zygon de Religião e Ciência de 2001 a 2007. De 2007 a 2014 foi bispa da diocese de Lund antes de ser eleita a primeira arcebispa mulher e primaz da Igreja Sueca, com sede em Uppsala. Co-presidente da iniciativa “Religiões pela Paz”, em 2017 foi agraciada pela Cruz de Lambeth, outorgada pelo arcebispo de Cantuária, “pelos serviços dela prestados ao ecumenismo – especialmente sua liderança em enfrentar questões humanas, teológicas e sociais em parceria e diálogo”.
P. Dr. Rudolf von Sinner