Igreja e Sociedade



ID: 2797

Um sinal contra o ódio e a violência

Igreja Luterana da Saxônia opõe-se à violência e ao populismo

03/09/2018

 
“Requer coragem opor-se veementemente à mensagem de ódio e violência expressando outra de reconciliação” diz o P. Dr Carsten Rentzing, bispo da Igreja Evangélica Luterana da Saxônia, Alemanha. Esta Igreja da Comunhão Luterana membro da FLM organizou uma demonstração contra o ódio e a violência na cidade alemã de Chemnitz no dia 2 de setembro de 2018, uma semana após terem ocorrido manifestações violentas de grupos radicais contra estrangeiros.

Com a sua demonstração, a Igreja Luterana da Saxônia aderiu a uma iniciativa organizada pela municipalidade de Chemnitz juntamente com parceiros ecumênicos e inter-religiosos, associações locais e sociedade civil. As violentas manifestações em Chemnitz aconteceram depois que um cidadão alemão de 35 anos de idade foi esfaqueado no festival da cidade que celebrava o 875º aniversário de Chemnitz. Os suspeitos, um iraquiano e um sírio, estão sob custódia policial.

Tirando vantagem de uma morte violenta

Horas depois do evento, antes mesmo de a polícia revelar a nacionalidade dos suspeitos, os extremistas de direita assumiram a narrativa nas redes sociais. Manifestações contra estrangeiros foram organizadas, algumas das quais se tornaram violentas. Imagens de vídeo mostram estrangeiros sendo perseguidos pelas ruas. A chanceler alemã Angela Merkel, além de vários funcionários do governo e atores da sociedade civil, condenou veementemente a violência.

Cerca de 1000 pessoas acompanharam a convocação da Igreja Luterana da Saxônia sob o tema “Nós em Chemnitz - escutem uns aos outros, ajam juntos”, que promove a não-violência, o respeito, o diálogo e a democracia. A Igreja condenou os manifestantes radicais que usaram o ataque para promover sua causa. Como igreja, estamos preocupados quando grupos violentos e radicais em nossa sociedade questionam o monopólio estatal sobre o uso legítimo da força, disse um comunicado da Igreja. A igreja enfatizou ser dever das autoridades investigar o incidente e aplicar a punição justa aos perpetradores.

Preservar a decência e a dignidade

Os protestos seguem uma narrativa praticada pelo partido alternativo Alternative für Deutschland (Alternativa para a Alemanha) e pelo movimento PEGIDA (Europeus Patriotas contra a islamização da Europa Ocidental), após a crise dos refugiados em 2015, alegando que imigrantes muçulmanos estavam molestando mulheres e moças alemãs.

O Bispo Rentzing pediu que as pessoas se mantivessem confiantes, apesar dos eventos da semana anterior. Ele disse que era preciso coragem para preservar a decência e a dignidade, mesmo que o coração estivesse cheio de raiva pela violência sem sentido.

Antes do esfaqueamento fatal, a Igreja Luterana da Saxônia celebrou um culto ecumênico na igreja de São Pedro. O Bispo Rentzing e o seu homólogo católico Heinrich Timmerevers, Bispo da Diocese de Dresden-Meissen, pregaram sobre o versículo bíblico “E trabalhem pela paz da cidade e façam oração ao Senhor por isso” (Jeremias 29: 7), sublinhando a influência frutífera dos cristãos na cidade. Como na maior parte da Saxônia, os cristãos são uma minoria em uma sociedade predominantemente ateísta.

Nos últimos anos, a Alemanha testemunhou um aumento de movimentos populistas de direita. Desde 2014, a organização xenófoba e anti-islamista PEGIDA organiza demonstrações semanais. Desafios relacionados com a crise dos refugiados e a chegada de cerca de um milhão de refugiados e migrantes à Alemanha em 2015 e 2016 criaram um debate público sobre a política de asilo e refugiados na União Europeia e na Alemanha em particular.

Nas eleições federais de 2017, o partido de direita Alternativa para a Alemanha obteve uma média de 12% dos votos. A Saxônia é considerada um reduto do partido, que obteve 25% dos votos e é agora o segundo maior partido no parlamento. As igrejas e a sociedade civil têm criticado repetidamente a violência e o ódio, e apoiam muitas iniciativas que ajudam os refugiados e aqueles que buscam proteção para integrar-se e buscar legalmente seus direitos.


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