AUTORIDADES — CRIADOS DE DEUS
Romanos 13.1-7 (Leitura: Salmo 72)
O nosso tema, hoje, trata das autoridades públicas e de nossas relações para com elas. Um tema político, portanto. Um tema quente para qualquer um de nós. Entre as nossas comunidades cristãs, no Brasil, a política não tem cotação alta. Pelo contrário. Ouvimos, ainda recentemente, um provérbio bem significativo: «Política é como feijão de molho. Só os feijões podres e bichados sobem à superfície.» Outro ditado, semelhante a este, também corre mundo, ou, melhor, corre igreja: «Quem se mete na política, fica de mãos sujas.» Ou: «Padre e pastor não devem nunca meter-se em política.»
Compreendemos a razão deste medo da política. Seria realmente uma coisa horrível, imaginar padres e pastores fazendo sua politicazinha no confessionário, no púlpito e nas casas, promovendo nomes e fazendo campanhas para ganhar talvez uma contribuiçãozinha do governo para o novo centro comunitário ou uma isenção para o carro da paróquia.. .Compreendemos o medo de nossos membros, de que os líderes da igreja tentem atrelar Jesus Cristo ao carro da ARENA ou do MDB ou de qualquer outro grupo de poder. Confesso que uma tal visão também a mim me deixa de cabelos arrepiados. Assim, afastemos a possibilidade de que estas linhas queiram fazer propaganda para qualquer partido ou para qualquer sistema político. O que deveremos fazer, no entanto, é tratar de nossa responsabilidade política à luz da palavra de Deus — para aprendermos que um cristão não se deve omitir em nenhum campo onde for chamado a dar testemunho da justiça de Deus.
Há pouco temos ouvido aquele trecho da carta do apóstolo Paulo aos Romanos, isto é, à comunidade cristã de Roma. Encostemos bem o ouvido aos primeiros versículos: «Cada pessoa se sujeite aos poderes que estão por cima dele. Pois não há poder que não venha de Deus, e os poderes que existem, por Deus foram postos lá onde estão. Assim que aquele que vai contra o poder, resiste à ordenação de Deus. Mas os que resistem, receberão condenação por si mesmos. Pois os que governam, não são motivo de medo, quando fazemos o bem, mas sim, quando fazemos o mal. Não queres temer o governo? Faze o bem e terás louvor dele. Pois o governo é o criado de Deus — para ti — para o teu bem.»
A quem o apóstolo diz estas palavras? — A uma comunidade cristã. A uma comunidade pequena e frágil, que vive numa cidade grande e poderosa — em Roma, capital do mundo. Por que é que ele diz o que acabamos de ouvir — que os cristãos devem respeitar as autoridades? Porque evidentemente havia pessoas que afirmavam o contrário. Que resistiam ao governo, que lhe negavam lealdade, que se negavam a pagar impostos --- tudo, por julgar que este governo, instalado nos palácios de Roma, não era de Deus. Que só podia ser do diabo. E olhem bem — não era para menos: Era o governo, cujo representante tinha sido Pônei° Pilatos. Aquele governador, cujo nome ainda hoje pronunciamos no Credo Apostólico: «Padeceu sob o poder de Pônei° Pilatos.» Aquele governo era dos duros. Não era nenhum cachorrinho manso. Era que nem um lobo. O que tinham feito com Jesus, no Império Romano, era prática corrente. Quem desagradava ao governo de Roma, não ia longe. O que o esperava, era chicote, a espada ou a cruz.
E este governo: Ele não tinha prendido por quatro vezes o próprio apóstolo Paulo? Este governo não mostrara desde o princípio que era contra os cristãos? Pagar impostos a tal governo? A gente não vai trabalhar contra si mesmo! Este governo era mesmo demoníaco, era uma coisa ruim, da qual o cristão se devia afastar — para não ficar culpado, para não sujar as mãos ... Nós conhecemos esta atitude extrema: Ela existe ainda hoje, entre as «Testemunhas de Jeová», por exemplo. E naqueles tempos, onde a democracia era desconhecida, a situação era muito mais difícil: César, o Imperador, ele se dizia deus! Isso não era prova de que só podia ser o Anticristo?
Paulo diz: Não. Se as autoridades romanas pensam que são deuses, isto é lá com eles. O que vale é o que são na realidade. E na realidade elas não são deuses. Elas são criados de Deus, quer o saibam, quer não. Não podemos impedir que o criado queira bancar o dono. Mas o que importa, é o que ele realmente é. Aqui Paulo diz aos cristãos — e ao governo o que as autoridades realmente são. É como na história da criação, na primeira página da Bíblia: Os povos antigos achavam que o sol, a lua e as estrelas eram deuses que governavam a vida dos homens. A Bíblia diz que isso não é verdade que Deus os colocou no céu para serem lâmpadas — para iluminar a terra, o dia e a noite: A grande luz, a pequena luz, as estrelas. É como se dissesse: O presidente, eu o coloquei para governar o Brasil, o governador, para governar o Rio Grande ou Santa Catarina. O prefeito, para governar Campinas — ou Estância Velha. Assim são, pois, as coisas com o governo. Ele ganhou de Deus uma tarefa clara a cumprir: Combater o mal, agir para o bem dos homens. Assim o governo não tem nada de temível. Não é coisa do outro mundo. Você se lembra do tempo em que a gente ficava de mãos frias, durante a última guerra, quando aparecia um policial no lugar? Quando pessoas, que não roubaram, que não mataram — ficam com medo do governo — aí qualquer coisa está errada, muito errada mesmo. Não. O governo não é para dar temor, a não ser os que o desrespeitam como ministro de Deus. O governo é que nem máquina de costura: Ela foi feita para costurar. É uma coisa funcional, técnica. O governo foi feito para cuidar da boa ordem, para estabelecer uma ordem justa entre os homens. Tudo que ele faz — leis, impostos, previdência social escolas, estradas polícia, exército: Tudo tem que ser funcional, tem que servir ao propósito que Deus tem com o governo. Se não servir, então não está agindo assim como Deus quer. Então alguém que sabe o que Deus quer, tem de falar. Ou diretamente, ou através de atividade política, de oposição, se for necessário -- para estabelecer um governo melhor, que respeite a ordem de Deus, que seja ministro de Deus para o bem. Cada um de nós, mesmo os mais simples, poderão compreender isto, Poderão verificar, se o governo está agindo dentro da linha que Deus estabeleceu. Um governo não poderá simplesmente estabelecer uma justiça própria prendendo ou até matando, por exemplo, sem perguntar pela justiça divina. Os dez mandamentos são claros. O governo está abaixo deles não acima deles. Alguém matou? — Processo! E se for comprovado, cadeia! Alguém roubou ou logrou? Processo, e se for comprovado, castigo! Alguém procurou defraudar o fisco em sua declaração de renda? Multa! Avançou o sinal, ou andou a cem quilômetros? Ora — aí nem é preciso falar. A coisa é simples e clara, como a luz do dia!
Sendo o governo criado de Deus (e é bom saber que não só a igreja é criada de Deus — que Ele também tem criados como Pôncio Pilatos), o cristão não tem escolha. Ele se submete. Não só por medo de castigo, diz Paulo, mas por causa da consciência. Sabem, às vezes a coisa é dura. Quando se trata de um governo tirânico, que tem mão de ferro. Um bispo evangélico da Alemanha, agora já falecido, que tinha feito más experiências com o governo comunista de Berlim Oriental, disse certa vez que ele não podia mais reconhecer as leis deste governo que nem as leis de tráfego dele tinham mais significação para ele. Porque este governo não era mais governo. Era um sistema tirânico, ao qual se deveria resistir de qualquer maneira. ~- Alto lá, senhor bispo! Se o senhor der uma pechada com o seu Volks em outro carro, ou se atropelar um pedestre, por ter avançado um sinal, a multa ou o castigo que vai receber não lhe vão pesar só na bolsa. Vão lhe pesar também na consciência. Porque o senhor fez uma coisa contra Deus. Não respeitou uma autoridade onde ela estava mantendo uma ordem boa, destinada a proteger a vida dos homens. Senhor bispo, senhor comerciante, senhor pastor, senhor operário, senhor colono, a coisa é assim: Onde o governo fizer uma coisa sensata, que serve para o bem dos homens, aí ele está cumprindo sua função que lhe foi dada por Deus. Aí ele merece nossa obediência. E nosso apoio. Seja ele socialista, capitalista ou democrata. Estamos lembrados? Autoridades não são para temer, quando se faz o bem, mas sim, quando se faz o mal. Qualquer autoridade é um funcionário de Deus a bem dos homens. Será que todos os funcionários sabem disto? E se não sabem — quem é que vai lhes contar? — E nós — nós realmente sabemos, qual é a obrigação da autoridade? E se soubermos — vivemos de acordo? O governo nota por nossas palavras e ações, por nossa atuação política e pública, que sabemos quem ele é, segundo a vontade de Deus? Pagamos nossos impostos conforme a lei justa manda? Ou passamos a perna no governo, enganamos ou compramos o fiscal, vendemos sem nota ou declaramos renda falsa . . .? Isso tudo aparece agora numa luz bem diferente. O governo, com estas atitudes de cristãos que não o respeitam, fica sempre mais cego. Quem leva a culpa? Não dissemos que o assunto era quente? Pois é mesmo. É para dar bolhas nas mãos. E nas consciências. . .
«Mas — se o governo for trapaceiro?» — Se o pessoal só procura cargos políticos para encher os bolsos? Se o dinheiro público é gasto à toa? Vou eu, que pouco tenho, ainda financiar esta empresa? Não preciso até desrespeitar os sinais de trânsito de tal governo? Não preciso ajudar a acabar com ele de vez? Vamos ser sóbrios e coerentes: Se você não quiser ser honesto com o governo, como poderá exigir que o governo seja honesto para você? Se você quer deixar claro que esta terra é de Deus, não do diabo, então tem que tratar também o governo segundo a lei de Deus. Precisa dar-lhe a honra que Deus lhe deu. Para podermos falar e agir em nome de Jesus, que foi designado por Deus para ser o Senhor do mundo, precisamos ser sinais vivos da justiça de nosso Senhor. Quem será a boca de Deus junto ao governo -- quem terá credibilidade numa campanha democrática destinada a substituir o governo por outro, melhor, se os cristãos não agirem dentro da verdade e da justiça, em suas relações com o governo? Eles precisam lembrar também os funcionários políticos de Deus, de suas funções legítimas. O governo e a oposição. Precisam ser como os profetas do Antigo Testamento: Apontar sem medo as injustiças flagrantes que se cometem na vida pública não com ódio e com segundas intenções, mas por amor a seus irmãos! Mas, adianta falar mesmo? Se adianta, não sabemos. Mas sabemos que Deus é Deus e que em seu nome lidamos com as autoridades terrenas -- até que a vinda de Cristo venha estabelecer a autoridade definitiva e eterna.
Oremos: Senhor — rogamos-te por nosso país e por nosso governo. Ajuda-nos a sermos tuas testemunhas fiéis, também perante as autoridades públicas. Ilumina o nosso governo para que aja com responsabilidade e justiça. Amém.
Veja:
Lindolfo Weingärtner
Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS