A Igreja que segue nos caminhos de Jesus Cristo tem futuro assegurado à medida que se tornar ágil e souber abrir seus muros e ultrapassar os limites de sua estrutura institucional. Nesse movimento para fora de suas fronteiras, ela manifestará fidelidade à tradição de sua teologia como embasamento teórico e doutrinário e, sobretudo, permanecerá fiel ao testemunho do Evangelho. Será sempre ágil e atual estando disposta à acolhida e ao acompanhamento das pessoas nas alegrias e nas dificuldades..
A vocação de filhos e de filhas de Deus, na sociedade, nos faz colocar sementes de esperança. Jamais fomos chamados para depositarmos carga pesada sobre ombros alheios. Como grandeza sociológica, a Igreja não acontece num espaço etéreo, alienado do mundo, distante dos problemas e das oportunidades que nos são oferecidas neste mundo. O universo da cultura e das artes, o mundo dos pensadores, a realidade do trabalho e do mercado, a realidade do ócio e do lazer, o universo econômico e político, o mundo das ciências, assim como as manifestações das emoções e da razão humana se confrontam com o universo eclesial e se tornaram um enorme desafio à pregação e aos serviços na Igreja de Jesus Cristo.
É muito provável que a Igreja jamais tenha se encontrado diante de tantas perguntas e incertezas como nos dias da atualidade e na sociedade moderna. São desafios que procedem do jeito de ser das famílias, a busca de uma nova realidade de vidas em parceria, as quais se contrapõem à estrutura tradicional da vida matrimonial, as separações de casais e de famílias, revelando a indisposição a todo tipo de reconciliação, a discussão em torno da homossexualidade, os desafios provenientes do filão da bioética, os conceitos do direito à liberdade, a cultura da violência, a dependência das drogas, a escravidão imposta pelo consumismo, o individualismo, assim como a solidão sendo uma nova possibilidade de vida. Nesse contexto, e ele apresenta um mosaico de aspectos e valores, somos chamados a exercitar a prática da piedade e a vivência em comunidade, ser Igreja de Jesus Cristo.
A realidade do mercado religioso em nosso País, as múltiplas ofertas que apostam em soluções imediatas, a ideologia da prosperidade, assim como as tendências espiritualistas de forte influência social representam focos questionadores para a teologia bíblica e refletem a crise dentro da qual a pessoa humana se locomove, constrói a sua existência e desenvolve seus relacionamentos. Importa que tenhamos a competência e a capacidade de analisar esses fenômenos da sociedade à luz do Evangelho. A sensibilidade e a obediência à Boa Notícia de Jesus Cristo promovem o discernimento dos espíritos.
A credibilidade da Igreja cristã e a valorização de seu testemunho dependem de sua abertura em relação aos grandes temas do mundo moderno. Somos motivados à parceria do diálogo com todas as forças pensantes, instados à colocação de balizas e chamados à postura ecumênica. A fé que provém do ouvir da Palavra é inteligente, profunda, por isso não é medíocre e nem superficial. Somos administradores das tradições eclesiásticas, gerenciamos os bens da salvação, assim como é responsável estarmos atentos, em especial, às necessidades fundamentais dos seres humanas, dentro e fora dos limites de nossas paróquias locais e também das igrejas.
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 18/06/2004
