Igreja e Sociedade



ID: 2797

Pelo fim da guerra santa nas eleições - 2010

Carta Pastoral da Presidência

14/10/2010

A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB tem exercido na área pública e no cenário político uma postura de vigilância profética e de ação calcada no princípio do amor ao próximo. Não tem perseguido interesses próprios institucionais, mas tem buscado, no âmbito de sua responsabilidade, servir as pessoas em suas necessidades físicas e espirituais.

Em seu próprio nome e em sua Constituição, a IECLB adotou deliberadamente a designação de ser igreja no Brasil, com “todas as consequências que daí resultarem para a pregação do Evangelho neste país e a corresponsabilidade para a formação da vida política, cultural e econômica de seu povo”, como formulado pelo Pastor Presidente H. Dohms já em 1949, no Concílio constitutivo da então denominada Federação Sinodal. Marco histórico foi também o chamado Manifesto de Curitiba, adotado no Concílio Geral de 1970, quando em meio ao período mais sombrio do regime militar, a IECLB estabeleceu critérios claros de distinção entre Igreja e Estado, entre esferas pública e privada, sem, contudo, separá-los como autônomas ou estanques. Realçou, por isso mesmo, o papel de vigia da igreja, por exemplo, na denúncia de infrações aos direitos humanos.

Um princípio fundamental da Reforma, no século XVI, e parte integrante da confessionalidade luterana, é também o total respeito à consciência de cada pessoa e a suas próprias decisões de fé, ainda que a Igreja deva proclamar sempre e em todos os lugares os valores da Palavra de Deus. Entre estes se destacam o cuidado para com toda a criação, a dignidade de todo ser humano como criatura criada à imagem de Deus e a edificação de comunidades acolhedoras e fraternas, nas quais não haja exclusões e onde, por isso mesmo, gozam de especial carinho todas as pessoas pobres, as que padecem necessidades ou sofrem injustiças e opressão.

Esses são princípios básicos que norteiam quem é cristão em seu discernimento ético e também na avaliação das propostas políticas em debate na Nação. Repudiamos como incompatível com a fé cristã todas as tentativas de “sacralizar” o embate político, sobretudo qualquer tentativa de “satanizar”ou “demonizar” pessoas ou forças políticas adversárias. Quem o faz deve se perguntar e ser questionado se não está sendo ele próprio instrumento da injustiça e do mal. Já há quase cinco séculos, o Reformador Lutero repudiou completamente o conceito de “guerra santa” como falsificação da palavra de Deus. Devemos resistir à tentação de reintroduzi-lo em nossas consciências e na vida política.

Uma preocupação especial temos com o uso, melhor dito, o abuso da internet. Nesta campanha, ela tem se revelado como instrumento poderoso não apenas para a difusão de notícias e opiniões, bem como para análises da realidade, mas também, em larga medida, para disseminar calúnias e difamações, muitas vezes de forma acobertada pelo anonimato ou até mesmo fazendo uso indevido de nomes de pessoas ou entidades respeitáveis e conceituadas.

Exortamos, portanto, a todas as pessoas, em particular os membros da IECLB, a que não se deixem seduzir por acusações oportunistas ou temáticas diversionistas, nem se deixar levar por emoções artificialmente induzidas.Ao contrário, examine-se com sobriedade, à luz dos valores de nossa convicção evangélica, acima arrolados, a nossa realidade, suas mazelas e suas belezas, o momento peculiar que vivemos como Nação, a qualidade de vida que temos e pretendemos alcançar. Avaliem-se também as propostas de programa da candidata Dilma e do candidato Serra. Em que consistem? Qual seu alcance e resultado? Avançam a justiça e a solidariedade no país? São exequíveis ou apenas promessas de campanha?

Assim, decida cada qual em sua consciência.

Porto Alegre, 14 de outubro de 2010

Dr. Walter Altmann
Pastor Presidente
 


Autor(a): Walter Altmann
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade / Instância Nacional: Presidência
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Manifestação oficial
ID: 12585

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Cada qual deve se tornar para o outro como que um Cristo, para que sejamos Cristos um para o outro e o próprio Cristo esteja em todos, isto é, para que sejamos verdadeiros cristãos.
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