PALAVRA DA DIRETORIA DO CONSELHO SINODAL E DO PASTOR SINODAL
“Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graça, em favor de todas as pessoas, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos uma vida tranquila e pacífica com dedicação a Deus e respeito aos outros” (1 Timóteo 2.1-2)
A missão da Igreja de Jesus Cristo no mundo é fazer discípulos/as “ensinando-os/as a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mateus 28.18-20). Neste sentido, tarefa da Igreja é evangelizar e profetizar, anunciar e denunciar. Em Amós 7.10ss., fica evidente o conflito entre o sacerdote e o profeta, quando Amós desvela a corrupção e a injustiça existentes na sociedade da época e causadoras de grande sofrimento para o povo, enquanto que Amazias as esconde e maquia. Até que ponto estamos caminhando nesta direção na IECLB?
Qual é nossa missão na sociedade brasileira? Função primeira é anunciar Jesus Cristo como Senhor e Salvador, fazer discípulos e ensiná-los a seguir os passos do seu Senhor em atitudes, palavras e ações (o que pode significar cruz no contexto transtornado, corrupto e injusto em que vivemos). A oração e a intercessão em favor das pessoas sofridas conduz às ações correspondentes. Tornamo-nos responsáveis pelas pessoas em favor das quais oramos. Lamentavelmente, há igrejas que fazem o discurso que agrada aos corruptos e/ou se agregam ao poder político-partidário para colher benefícios próprios e pessoais. A IECLB não tem vocação para isto.
Em meio às crescentes tensões político-religiosas resultantes da Reforma (Martim Lutero acabara de ser excomungado, perdera seus direitos políticos e fora condenado à morte, refugiando-se no Castelo de Wartburg), o Príncipe João Frederico perguntou a Lutero sobre a maneira correta e justa de se governar. Lutero apontou para o exemplo de humildade de Maria (Magnificat – 1521): “Desejo à Vossa Alteza a graça e a ajuda divina. Isso é muito necessário. O bem-estar de muita gente depende de um príncipe tão importante, quando ele é governado pela graça de Deus. Por outro lado, dele depende a desgraça de muitos, quando ele se volta para si próprio e não é governado pela graça divina”.
O Grupo Gestor da Rede de Diaconia divulgou o “Manifesto contra a Intervenção Militar no Rio de Janeiro” (28/02/2018). Em seu conteúdo, repudia o constrangimento ao qual crianças e adolescentes de comunidades pobres teriam sido submetidos por meio de revista sob mira de armas de fogo, conforme fora divulgado por alguns meios e comunicação. Há quem afirme que tais fotos são de anos anteriores, durante ações militares na Copa do Mundo e na Olimpíada. Também se tem divulgado por alguns meios de comunicação que, por trás da intervenção, há interesses eleitoreiros. Tais afirmações deveriam vir acompanhadas de provas para serem confiáveis. Fica difícil tecer um juízo sobre informações desencontradas. Os fatos provarão a veracidade. Em resumo, o manifesto exige o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, que protege crianças e adolescentes. Houve reação por parte de ministros e de comunidades da IECLB no Rio de Janeiro. Reclama-se que as mesmas não foram consultadas sobre sua percepção e experiência quanto à situação que o Rio de Janeiro está enfrentando, principalmente na questão da falência do Estado e na ausência mínima de segurança. A população como um todo vive acuada. Na ausência do Estado, crianças e adolescentes, que deveriam estar na escola e serem protegidos, são usados pelo tráfico para o transporte e distribuição de drogas e armas. Na ausência de um governo, sucateado, cada qual dita suas próprias leis. O que se reclama é que o Grupo Gestor da Diaconia fez um manifesto à distância sem incluir na discussão quem vive e sofre a realidade local e que poderia contribuir com informações, experiências de fatos comprovados.
Apelamos para o diálogo cristão e fraterno e não para o embate de opiniões político-partidárias. O que nos preocupa como Diretoria do Conselho do Sínodo Sudeste é a polarização entre dois extremos (tão fortemente presentes na sociedade brasileira desde as manifestações de 2013) cada vez mais marcada por partidarismos na IECLB. Sentimentos de amor e ódio se fundem e se confundem. Os extremos se digladiam por palavras jogadas nas redes sociais (O Facebook se transformou no “Grande Ventilador”) e exigem da direção da IECLB intervenções e posicionamentos – desde que atendam as opiniões do grupo! Verificamos que isto não é edificante e não ajuda na incumbência de nossa missão evangélica – anúncio e denúncia. Pelo contrário, assusta e constrange as comunidades, quando veem o nome da IECLB sendo agredido e mal falado.
Remetemos para as palavras do apóstolo Paulo, em 1 Timóteo 2.1-2, para que, juntos, oremos pelo bem-estar e pela paz, não só no Rio de Janeiro, mas em toda a sociedade brasileira, que vive uma insegurança crescente. Oremos por governantes justos e honestos, que se propõem a servir, que se deixem governar pela graça de Deus (Lutero) e, em tudo, perguntem pelo jeito de ser de Jesus Cristo (Mateus 28.20a). Simultaneamente, não percamos nossa voz profética – sem cairmos nos extremismos partidários; que saibamos levantar nossa voz (evangelho e profecia), para que, em diálogo e juntos, corajosamente possamos agir em defesa da vida; para que nossas ações diaconais sejam fortalecidas por ações comunitárias conjuntas. É anseio das comunidades no Rio de Janeiro fortalecer sua presença e ação diaconal na realidade em que estão inseridas. Para tanto, esperam que, de forma dialogal, a FLD lhes seja um suporte para que se encontrem formas contextualizadas de ações solidárias.
Oramos a Deus suplicando que ele ilumine corações e mentes de todos os envolvidos na solução da segurança, não só no Rio de Janeiro, para que o povo volte a se sentir seguro e protegido, para que não se combata violência através da violência, para que o Estado ofereça e garanta os direitos fundamentais de todas as pessoas: escola, transporte, saúde, segurança... E que internamente não percamos o respeito mútuo, o diálogo e, sobretudo, não percamos nossa capacidade de anunciar esperança e de denunciar o mal.
São Paulo, 05 de março de 2018
Diretoria do Conselho Sinodal
Pastor Sinodal
Sínodo sudeste - IECLB