A China recebe a atenção muito especial neste mês de agosto. Economia emergente e próspera, país com a maior população mundial e berço de uma cultura milenar, ela é palco dos XXIX Jogos Olímpicos de Verão - Pequim 2008. Graças aos meios de comunicação, bilhões de pessoas podem acompanhar ao vivo o desenrolar das competições nas mais diversas modalidades esportivas.
Os Jogos Olímpicos são um evento de alcance extraordinário. Reúnem durante o período de duas semanas num mesmo espaço uma grande diversidade de povos. Delegações de atletas de inúmeros países e de todos os continentes se encontram para competir e confraternizar. Trata-se de um acontecimento ímpar que mostra a enorme diversidade cultural e étnica do planeta. Ele recebe mais atenção e mobiliza bem mais pessoas do que a Organização das Nações Unidas. Permite ao cidadão comum uma percepção da possibilidade de convivência dos povos a despeito de tantos conflitos que acontecem no mundo. Poderia até confirmar a tese de que as competições esportivas são uma sublimação da guerra entre povos e tribos.
É claro que os Jogos Olímpicos estão permeados de grandes interesses. Governos e empresas ocupam o seu espaço neste cenário. Estão presentes os interesses políticos dos anfitriões ou dos contestadores do seu regime bem como os interesses econômicos dos grandes patrocinadores de marcas e produtos esportivos.
Os Jogos também podem dar a impressão de que o que acontece em Pequim está muito distante do cotidiano das pessoas que sequer praticam algum esporte (malgrado todo o esforço de veículos de comunicação de estimulá-lo). O esporte neste caso parece mais entretenimento do que motivação para exercício físico saudável. Os/As superatletas, que submetem seus corpos a uma disciplina de treinamentos rígidos para alcançar a vitória nas competições, podem até inibir os/as pobres mortais à prática esportiva já que os/as atletas se situam num “olimpo” inalcançável.
A despeito do lado sombrio do evento, desfilam nele milhares de histórias de vida, de sacrifícios e de sonhos. Em meio às contradições e às ambigüidades da condição humana pode-se ver exemplos bonitos de dedicação e desprendimento. Homens e mulheres fazem renúncias para alcançar seus objetivos. Estabelecem prioridades em função de metas estabelecidas. Foi no seu exemplo que o apóstolo Paulo se inspirou para ilustrar a sua dedicação para a causa evangélica (1 Coríntios 9.23ss).
Os Jogos Olímpicos misturam interesses pessoais e coletivos. Pessoas com orientações de fé muito diferentes entre si competem e também confraternizam. Se o esporte propicia esse tipo de encontro, não poderiam também as religiões construir pontes para o fortalecimento da cooperação e da solidariedade?
P. Rolf Schünemann
Publicado na edição 75 do Informativo dos Luteranos - agosto/2008