O MAGNIFICAT E AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES
Seguidamente, encontramos nas redes sociais manifestações de pessoas que não concordam com publicações de cristãos, que abordam temas de cunho político (não fica claro se criticam a política como um todo ou a política partidária). Nestes últimos dias, somos confrontados com debates acalorados sobre o tema escola sem política. Enquanto isso se aproximam as eleições de outubro. A campanha política já está nas ruas e entope nossas caixas de correio (sobretudo o eletrônico). Entre muitos candidatos desconhecidos e suspeitos, há também nossos amigos e conhecidos, pessoas estas às quais pretendemos confiar nosso voto.
Então se retoma à velha discussão: Igreja deve ou não deve se manifestar sobre política? O tema é ainda mais polêmico em uma sociedade onde se confunde política com corrupção.
O livro Magnificat - o louvor de Maria (Editora Sinodal e Editora Santuário, 2015), escrito por Martim Lutero em 1521, ajuda na reflexão sobre este assunto: Lutero escreveu o comentário sobre Lucas 1.46-55, respondendo ao Duque João Frederico da Saxônia, que pedira de Lutero orientação sobre como governar cristãmente. Lutero escreveu: Desejo a Vossa Alteza a graça e a ajuda divina, pois o bem-estar ou a desgraça de muita gente dependem do fato se o príncipe é ou não é governado pela graça de Deus, se ele se torna humilde sob o poder de Deus ou se ele se volta para si mesmo.
O exercício do poder revela o tipo de pessoa que alguém é. Isso se percebe claramente quando alguém passa a ocupar um cargo público. Nem todas as pessoas conseguem resistir à tentação de usar o poder em benefício próprio, prejudicando e fazendo sofrer muita gente. Quando uma pessoa acumula poder, bens e honra, ela corre o risco de se esquecer de Deus e desprezar as pessoas que estão sob a sua responsabilidade, diz Lutero. Por isso, é fundamental que as autoridades sejam pessoas tementes a Deus.
Lutero parte do exemplo de Maria para exemplificar o tipo de pessoa que devemos ser. No Magnificat, Maria canta a glória e o poder de Deus. Deus, que criou o mundo do nada, da insignificância, escolheu Maria. Ela era uma jovem, filha de gente pobre e simples, da distante vila de Nazaré. Deus a escolheu para uma importante tarefa: Ser a mãe do Salvador. Que nobre missão! Essa notícia poderia ter subido à cabeça de Maria. No entanto, ela se revela humilde e não se deixa seduzir pela arrogância e pelo poder. Ela se entende a serviço de Deus em uma nobre missão. Através de sua sublime fé, ela expressa profunda alegria e gratidão a Deus por tê-la escolhido apesar de sua insignificância. Ela reconhece que Deus tem poder para transformar situações, corrigir injustiças e resgatar a dignidades de quem foi humilhado.
Citando este exemplo da humildade e da fé confiante de Maria, Lutero lembra que o poder só pode existir como serviço em favor das pessoas que estão confiadas aos que exercem um cargo de governo. Esse poder lhes foi confiado por Deus e deve ser exercido com humildade e fé, na boa confiança na graça visível de Deus (Lutero).
Oxalá, todos e todas que aspiram a cargos políticos tenham esta consciência de humildade e fé, que sejam pessoas tementes a Deus e exerçam o poder que lhes é confiado unicamente para a glória de Deus e para o bem-estar das pessoas. E que todos e todas que perguntam se Igreja e Política têm algo em comum, leiam o Magnificat de Lutero e percebam como é importante influenciar os rumos da política através de uma saudável ética cristã (luterana). Isso faz da política aquilo que ela deve ser: Política designa aquilo que é público. O significado de política é muito abrangente e está, em geral, relacionado com aquilo que diz respeito ao bem-estar da coletividade. Fazer política é querer o bem do lugar onde vivemos. O verdadeiro bem é dádiva de Deus e a forma de praticá-lo Lutero nos mostra através do exemplo de Maria.
Pastor Sinodal Geraldo Graf
Sínodo Sudeste - IECLB