Escrevo no Dia da Independência. Em meio à história da política nacional, que continua manchada, acontece a busca pela valorização da cidadania. Em 1948, quando da fundação do Conselho Mundial de Igrejas, em Amsterdã (Holanda), fortaleceu-se o conceito de sociedade responsável, com liberdade de expressão, tolerância mútua, garantia de liberdade individual e cidadã; capaz de controlar o poder público e de substituir governantes quando necessário.
O Evangelho fundamenta uma nova ética na política e na organização social. O Evangelho fundamenta atitudes éticas a serviço da cidadania e da edificação da nova sociedade. Trata-se de um projeto coletivo, um desafio à sociedade e à igreja.
A sociedade uniformiza a vida. O ser humano perdeu individualidade e deixa de viver sua verdadeira identidade. A pessoa se transformou num número, uma gota no meio do oceano. O indivíduo desaparece em meio à massa. Notória é sua dificuldade para orientar-se, traçar rumos que lhe permitem viver a vida de fé e também para expressar a sua razão. Crer em quem, como? E pensar o quê?
A paisagem do mundo religioso está pintada com as cores fortes das emoções. A vivência da fé, que é antes individual que comunitária, é estranha à espiritualidade praticada nas igrejas históricas. É uma espiritualidade que nasce da angústia individual e busca satisfação particular, além de cura e bem-estar através de práticas estranhas; é vivida entre mim e o meu Deus. Em alta encontra-se a religiosidade que nega a cidadania enquanto desconsidera a realidade na qual vivemos. A pessoa perde a liberdade, torna-se massa de manobra e sem espírito crítico.
O Evangelho quer ser vivido na prática. Caso contrário é só palavra humana e doutrina. Por causa da sua dimensão prática, a Boa Notícia é como o fermento na massa. O Evangelho indica para um porto seguro, que se torna visível na comunidade. É oferta que transforma; traz esperança aos desesperados, integra os marginalizados, organiza a sociedade desordenada, promove a reconciliação; é oferta de amor. É Boa Notícia a serviço da cidadania, do espírito crítico, promove a liberdade e está a serviço da bondade de Deus! Sem dúvida, uma nova visão de Deus e contribuição importante da Igreja da Reforma. Um marco de destaque, quando celebramos o Dia da Reforma.
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
O Caminho - 10/2005