“Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós.
Das lutas na tempestade dá que ouçamos tua voz.”
As palavras acima descritas compõem o “Hino da Proclamação da República”. Penso que são palavras pertinentes nesse momento histórico de nossa Igreja e de nossa pátria. Palavras que expressam o desejo de quem não desfrutava de dignidade, e clamor de um valor precioso para a existência humana. A liberdade constitui característica essencial da vida criada e mantida por Deus, conquistada e concedida no amor incondicional de Jesus Cristo e presenteada ao ser humano na ação do Espírito Santo. A liberdade é expressão da vida desejada por Deus. O apóstolo Paulo escreveu com clareza: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, ao jugo de escravidão. (...) não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor.” (Gl 5.1;13)
Em Cristo Jesus fomos verdadeiramente libertados. Nenhuma força deveria nos submeter à escravidão. Mas, o mau uso da liberdade pode nos tornar prisioneiros. E isto não estaria de acordo com o propósito da entrega de Cristo, por nós. Nossa liberdade é muito valiosa para Deus. Infelizmente, quando nos deixamos dominar pela carne, quando nos entregamos a desejos e paixões deste mundo, a liberdade concedida a nós por Jesus Cristo é desprezada e passamos a servir a deuses que não nos dão paz, e nos impõem o “jugo” pesado que nos cansa e nos deixa derrotados neste mundo.
É fundamental entender que, para nós, cristãos, a liberdade está ligada à disposição de amar o que está fora de nós, para além de nós: Deus e o nosso próximo. Quando colocamos a vontade de Deus e a vida do outro como prioridades em nossas vidas, não seremos escravizados pelos artifícios do egoísmo. O amor faz sucumbir toda forma de amarras do pecado. O verdadeiro amor “não se ensoberbece (...) procura seus interesses (...) não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade (I Co 13.4ss). Este é o amor de Cristo, que impede que nos percamos no falso atendimento de nossos desejos pessoais, que nos enganam e crescem dentro de nós, a ponto de nos afastar de Deus e uns dos outros. Esse afastamento é a prisão a qual podemos voltar se usarmos nossa liberdade “dando ocasião à carne”.
Lutero vivia aprisionado pelo medo de um Deus cruel a quem suas obras de penitência e caridade não satisfaziam. Quando lhe foi revelada a libertação pela misericórdia de Deus, no amor de Jesus, Lutero transbordou de alegria e essa boa nova quis repartir com a Igreja e comprometer a Igreja a servi-la. Porém, a Igreja, sob o jugo de poder e riquezas não podia lhe dar ouvidos e nem deixar que suas palavras ecoassem. Mas era tarde. O Espírito Santo não o deixou calado. O Espírito Santo soprava a novidade de vida, a vontade do Pai e do Filho: a liberdade. A “descoberta” da Reforma desatou laços de escravidão impostos pelos desejos carnais daqueles que dirigiam a Igreja. Ao servir-se do evangelho e não servir ao evangelho, condenavam-se uns aos outros a prisões que Cristo havia destruído.
É preciso honrar a liberdade recebida em Cristo Jesus, e, por gratidão e alegria, ir para fora de nós mesmos. Amar. Anunciar a preciosa graça. Desatar nós. Abrir celas. Quebrar correntes. Fazendo isto com os dons, com a força e com a sabedoria que o Espírito Santo concede.