POR UM PROJETO PARA O BRASIL
Eleições fazem parte da história de nossas comunidades. Temos eleições de presbitérios, nos sínodos e para a direção nacional da Igreja. Eleições são, pois, de grande importância para a vida de nossa igreja. Imaginem então que importância têm as eleições para nossos estados e para o nosso país! Votar é algo que faz parte de nosso compromisso social como pessoas luteranas. Lutero foi alguém que não se descuidava dos assuntos políticos e tinha uma palavra de orientação evangélica para essa área. A política deve contribuir para a paz, o bem-estar e a justiça sociais. Conclamamos nossos irmãos e irmãs a refletirem sobre esse assunto e a ajudarem outras pessoas a pensar a respeito:
De certo modo, estas eleições são diferentes de outras. Constatamos, com inconformidade, que grande parte das esperanças do povo brasileiro num governo e instituições democráticas comprometidas com a justiça social e a dignidade humana foram frustradas. Uma grave crise ética se abala sobre a Nação. O povo brasileiro sempre suspeitou de que tem havido corrupção bastante generalizada no país, em todos os níveis. Mas ela agora apareceu escancarada a nossos olhos. A decepção é muito profunda. Novamente encontramo-nos em uma situação de crise que gera, por parte da população, a descrença nas instituições e na ação política, seduzindo-a a abster-se de votar ou a anular o seu voto.
Tudo isso é doloroso, mas talvez seja um preço necessário para colocarmos um fim na história de impunidade no país. Ainda assim, quando olhamos para as eleições, o país precisa também discutir questões mais de fundo. Vamos continuar indefinidamente com uma injusta distribuição de suas riquezas, das mais injustas do mundo, inclusive com a destruição de nossos bens naturais, como a floresta amazônica? Precisamos de novo sistema tributário, democratização do acesso à terra e uma reforma urbana, democratização e controle dos meios de comunicação, distribuição de riquezas, utilização de recursos para a geração de empregos, novo modelo agrícola e agrário, uma escola pública de qualidade em todos os níveis, fim da impunidade dos corruptos e daquelas pessoas que violam os direitos humanos, e, não por último, de uma reforma política.
Como comunidade cristã, em obediência ao mandato de nosso Senhor Jesus Cristo somos desafiados a refletir sobre o país que somos e a democracia que desejamos. Na medida em que buscarmos a solução ou superação dos problemas que marcam a nossa história no momento, estaremos contribuindo não apenas para renovar radicalmente nossa sociedade, mas também para oferecer ao mundo um novo projeto de qualidade de vida. Nessa reflexão, pedimos a orientação do Espírito Santo.
Precisamos reaprender que grande não é quem se serve, mas quem está disposto e disposta a servir. “O maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve” (Lucas 22.26). Algo dessa importante dimensão do servir experimentamos no aumento da participação das igrejas cristãs em programas sociais, a convite do governo, no povo organizado que re-inventa a democracia e ocupa novos espaços públicos de participação com alternativas de vida e de sobrevivência, e não por último na esperança motivadora que nos vem da promessa de um “novo céu e uma nova terra nos quais habita a justiça” (2 Pedro 3.13).
Dentre nossas tarefas como pessoas que seguem a Jesus Cristo no mundo em que vivemos, está o ato de votar conscientemente. Esta tarefa não se esgota no voto consciente, mas nos leva também a uma participação em movimentos populares, sindicatos, ONGs, conselhos municipais (por exemplo, na área da saúde e da educação).
Para as eleições, sugerimos e apelamos:
- Vote! Não anule o seu voto! Valorize sua opinião e convide outras pessoas a fazerem o mesmo.
- Verifique quem são as pessoas que disputam seu voto, busque conhecer o histórico de cada qual. Elas estão ou já estiveram envolvidas em casos de corrupção?
- Lembre-se: nem todos os políticos são iguais. Examine bem e busque os melhores e mais confiáveis!
- Confira quem financia o seu candidato ou a sua candidata. Você acha que ele ou ela vai trabalhar em favor da sociedade ou de quem deu o financiamento?
- Política não pode ser desenvolvimento de projetos pessoais ou de grupos privilegiados. Procure dar seu voto a quem busca o bem geral do povo, em particular as pessoas de maior necessidade.
- Busque conhecer o projeto do seu candidato ou de sua candidata, e também de seu partido. E pergunte-se: é apenas discurso ou realmente compromisso?
Não se esqueça: o exercício do voto consciente também faz parte do amor ao próximo!
Porto Alegre, 7 de setembro de 2006, Dia da Independência
Wlater Altmann
Pastor Presidente