Eleições 2002 e Reforma Protestante
Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá;
e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.
(Lucas 12:48b)
Chegou o mês de mais uma eleição. Eleições são sempre uma oportunidade que nós, que votamos, temos de participar do direcionamento que queremos que seja dado por quem nos representa na administração pública. Neste mês também comemoramos mais um aniversário da Reforma iniciada por Martinho Lutero em 1517. Lembrar a Reforma num mês de eleições pede uma reflexão que considere e relacione ambos os eventos. Esta relação não é difícil de se estabelecer se notamos que a Reforma da Igreja se deu justamente porque alguém ousou manifestar-se contra o abuso de poder e os desmandos que se davam na Igreja e conseqüentemente na sociedade. Porém, Lutero jamais teria conseguido as mudanças que a Reforma trouxe, tanto no âmbito eclesial quanto no social e político, se outras pessoas não tivessem comprado sua idéia e lhe dado apoio.
Naquele tempo, quando ainda não se podia fazer uma distinção muito clara entre Igreja e Estado, já que a Igreja influenciava em muito as questões do Estado, vários segmentos da sociedade ansiavam por mudanças radicais na distribuição das riquezas, no acesso aos meios e bens de consumo, na participação das decisões de ordem política e assim por diante.
A motivação que levou Lutero a enfrentar as maiores autoridades de seu tempo - o papa e o imperador - foi sua descoberta das Sagradas Escrituras. Ao contrapor a realidade àquilo que a Bíblia descrevia como ideal de vida, Lutero se convenceu de que as coisas não podiam continuar como estavam.
A peneira que Lutero usava para contrastar o mundo de sua época com a vontade de Deus era o mandamento do amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O mesmo critério vale para cada época e situação em que a cristandade se encontre inserida. É o amor que deve orientar nossos passos, as decisões que tomamos e as nossas realizações. É também desse mandamento que devemos nos lembrar durante um processo eleitoral, usando o direito de votar como uma ferramenta a mais para demonstrar nosso amor e compromisso.
Vivemos num país onde há muitos eleitores com dificuldades para fazer uma análise mais profunda de critérios na hora de escolher seus candidatos. A má escolha de candidatos por uma maioria só favorece uma minoria. Por isso é necessário nos comprometermos mais com assuntos relacionados à política, por exemplo, fiscalizando a atuação de quem for eleito, tenhamos nós votado neles ou não. Votar sem conhecer o candidato e sem prestar atenção àquilo que seu partido defende é uma irresponsabilidade para conosco e para com quem não é capaz de realizar esta análise. Do mesmo modo, anular o voto ou votar em branco é transferir para outros uma responsabilidade que é nossa. É verdade que estamos cheios de exemplos negativos na política, mas, apesar disso, vivemos num país onde quem se organiza tem força. Logo, se as coisas não estão como achamos que deveriam estar, isso é um sinal da nossa omissão ou falta de união e articulação no sentido de lembrar nossos governantes que o poder de que dispõem é um serviço que lhes foi confiado e não uma oportunidade para obter privilégios ou defender os próprios interesses.
Aneli Schwarz
é Pastora da CECLBH