Igreja e Sociedade



ID: 2797

Do púlpito ao palanque - Cristiane Erica Petry

01/12/1997

Do púlpito ao palanque

 
¨Fiz uma bela votação¨ — assim a pastora licenciada Cristiane Erica Petry lembra a sua primeira experiência num processo eleitoral. Em 1996, ela foi candidata à vereadora pelo Partido dos Trabalhadores nas eleições municipais de Alvorada, na Grande Porto Alegre (RS). Ela não se elegeu, mas considerou a experiência muito enriquecedora. Cristiane nasceu em Santo Antônio da Patrulha (RS), em 1961, é casada com o pastor Hervig Bühler e tem duas filhas. Cursou a Faculdade de Teologia e atuou dez anos do pastorado: quatro em Mondaí (SC) e seis em Alvorada (RS).


Anuário: O que levou você a candidatar-se à vereança em Alvorada?

Cristiane: Minha candidatura foi consequência de meu envolvimento anterior com o movimento comunitário. Antes de ser candidata, eu participei ativamente do Conselho Municipal de Saúde. Era representante da paróquia de Alvorada no Distrito Sanitário. Entre 1994 e 1996 assumi a presidência do Conselho Municipal de Saúde. Nessa função entrei em contato com várias instituições do município. Participei de muitas discussões sobre as carências no município. Como pastora, eu conhecia os membros e, como conselheira da saúde, conhecia a realidade. O passo de conselheira à candidata foi natural. Como candidata eu atingia um grupo que nenhum outro candidato alcançava. Eu representava a ala ¨igrejeira¨. Além disso, era muito concreta a possibilidade de o PT ganhar as eleições em Alvorada. Quando eu me candidatei, já estava licenciada do pastorado. Eu me propus, após dez anos de pastorado, a tirar um ano de licença para uma avaliação do meu ministério.

Anuário: Por que optou pelo Partido dos Trabalhadores?

Cristiane: Porque o PT favorece a organização das pessoas em grupos, para que elas próprias busquem as respostas para suas questões. O PT politiza as pessoas, democratiza os conhecimentos e possibilita que as pessoas sejam donas de sua história.

Anuário: Como foi a reação dos membros de sua paróquia à sua opção?

Cristiane: Aqueles que são mais ativos na paróquia apoiaram, inclusive fazendo campanha. O meu grupo de apoio era basicamente formado por paroquianos. A paróquia tem 70 famílias espalhadas pela cidade, num universo de 170 habitantes.

Anuário: Você não conseguiu eleger-se. Como analisa isso?

Cristiane: Fiz uma bela votação — 346 votos —, considerando as circunstâncias. Fui a última pessoa dentro do partido a ser definida como candidata. Isso se refletiu na minha votação. Minha candidatura não estava programada desde o início do ano (1996), como a de outras pessoas. Se estivesse, teria sido eleita. Para ser eleita, eu precisava do dobro dos votos que recebi. Mas, para surpresa minha, ganhei votos também em outras partes da cidade.

Anuário: O que mais marcou você nessa experiência?

Cristiane: Foi uma experiência que eu não conhecia de perto. Saí dela mais fortalecida como cidadã, porque ela enriqueceu a minha compreensão da inserção da igreja na sociedade. No campo político, todo o processo é mais ágil e acaba interferindo na vida das pessoas e na vida das comunidades.

Anuário: Qual o seu envolvimento com a política hoje?

Cristiane: Hoje sou membro do Diretório do PT e atuo junto ao gabinete da prefeita (Stela Farias, primeira prefeita petista de Alvorada) como assessora da Coordenação das Relações Comunitárias (CRC). A CRC ocupa-se com o processo de organização do orçamento participativo no município. A cidade foi dividida em onze regiões. Meu papel é acompanhar e documentar esse mecanismo de organização popular.

Anuário: Quais são os seus planos para o futuro?

Cristiane: Pedi a continuidade da minha licença no pastorado enquanto permanecer vinculada à atual administração municipal. Mas permaneço muito próxima da igreja, mesmo porque meu marido é pastor. Portanto, a curto e médio prazos, quero continuar na administração municipal. Mas estou ciente de que uma pessoa pública dentro do PT depende da conjuntura política. Entretanto, quero preservar a ideia de que sou pastora da IECLB e penso em retornar no futuro ao pastorado. No momento, quero colaborar nessa nova forma de organização política em Alvorada.


Entrevista realizada por Rui J. Bender, em maio de 1997


Ver ìndice do Anuário Evangélico - 1998
 


Autor(a): Rui Bender
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade
Título da publicação: Anuário Evangélico - 1998 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1997
ID: 33118

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