Neste mês, mais precisamente no dia 16 de outubro, comemora-se o Dia Mundial da Alimentação. Em muitos países do mundo e também no Brasil procura-se chamar a atenção para aquilo que é o mais básico da existência humana – a alimentação. Uma infinidade de eventos marca esta data. Vão desde divulgação de receitas caseiras até apresentação de estudos por parte de especialistas da área de nutrição, de seminários sobre a produção de alimentos a denúncias e manifestações políticas sobre carências alimentares de milhões de pessoas no país e no mundo.
Nos últimos anos consolida-se uma visão nova em nosso país e no mundo acerca das necessidades alimentares das pessoas. Essa nova visão passa pelo reconhecimento da alimentação e a nutrição como direito humano. Um conceito desenvolvido nestes anos é o da Segurança Alimentar e Nutricional que consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.
Situações de insegurança alimentar e nutricional podem ser detectadas a partir de diferentes tipos de problemas, tais como, fome, obesidade, doenças associadas à má alimentação, consumo de alimentos de qualidade duvidosa ou prejudicial à saúde, estrutura de produção de alimentos predatória em relação ao ambiente e bens essenciais com preços abusivos e imposição de padrões alimentares que não respeitem a diversidade cultural e regional.
Jesus inclui na oração do Pai Nosso a dimensão do alimento como elemento integrante da espiritualidade. Como comunidades cristãs, repetimos de forma invariável em nossas celebrações a petição: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. Ao recitá-la evidenciamos a sua dimensão coletiva com o uso do plural “nosso”. Como já dizia um teólogo famoso: “A minha falta de pão pode ser um problema econômico-financeiro. A carência de pão de meu próximo é uma questão de fé, de espiritualidade”.
Como Igrejas, temos um patrimônio ético e um conjunto de valores evangélicos que estão em consonância com a causa da segurança alimentar e nutricional. A promoção e defesa da vida e o reconhecimento da dignidade humana a partir da criação de Deus nos comprometem com uma atuação clara e decidida junto à sociedade civil organizada na consecução do direito humano à alimentação adequada e saudável. Sejamos, pois, filhos e filhas de Deus participantes deste mutirão nacional. Seja em comunidades, seja em organizações e instituições, onde quer que estejamos inseridos, façamos do direito humano à alimentação adequada e saudável o conteúdo de nossa espiritualidade.
P. Rolf Schünemann
Publicado na edição 77 do Informativo dos Luteranos - outubro/2008