Dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde do Brasil indicam que a incidência da Aids entre pessoas com mais de 50 anos dobrou entre 1996 e 2006. Estima-se que em nosso país cerca de 48 mil pessoas idosas vivem com o HIV/Aids.
O avanço da epidemia entre as pessoas com tal faixa etária pode surpreender muita gente, mas o fato é que, ao longo dos anos, as políticas de prevenção em nosso país não estiveram voltadas para este público. Afinal – pensam alguns – a vida sexual ativa, principal forma de transmissão do vírus do HIV, parece estar presente entre jovens e adultos. Por que, então, falar sobre a Aids para pessoas que não possuem parceiros, permanecem em suas casas e estão envolvidas com interesses que dispensam a paixão, o relacionamento amoroso, o erotismo e o prazer?
É preciso reconhecer que há muitos preconceitos quando o assunto é o exercício da sexualidade entre pessoas idosas. Numa sociedade marcada pelo culto ao corpo e pela busca incansável da beleza estética, parece difícil encontrar espaço para dialogar sobre um tema aparentemente restrito aos mais novos.
Quem sabe neste plano seja bom destacar como importante ponto de partida a admissão do óbvio: pessoas idosas têm corpo, coração, mente e fazem sexo. Com regularidades distintas é bem verdade, homens e mulheres, com todas as transformações inerentes ao envelhecimento, vivenciam seus afetos, suas sexualidades e encontram outros parceiros nos mais diversos ambientes sociais. Se por um lado a freqüência dos atos sexuais pode diminuir, vale ressaltar que experiências e aptidões adquiridas com o passar dos anos podem dar um sabor diferenciado nas relações – estímulos de procura e satisfação.
Pesquisas indicam que pessoas da terceira idade têm relativa dificuldade para incorporar o uso do preservativo em suas relações sexuais. Ainda está presente no imaginário desta população que a camisinha é um excelente meio anticonceptivo; e só. A compreensão e a prática de não usa-lá como meio preventivo, particularmente entre homens, é enorme.
Neste cenário, campanhas educativas permanentes que ressaltem os perigos da vulnerabilidade e a importância do uso do preservativo, podem ser fundamentais para a diminuição de índices tão preocupantes. Se por um lado o envelhecimento da população brasileira é irreversível, não devemos afirmar o mesmo quando milhares de vidas estão em jogo.
É preciso mais. Num país onde a população idosa tem crescido constantemente como resultado da melhoria das condições de vida, o governo e a sociedade civil organizada estão convocadas para refletir e agir na construção de programas sólidos de inclusão social e na implementação de políticas públicas que sejam abrangentes, respeitosas e dignas, deixando de lado o caráter temporal, secundário e descuidado que tem marcado esta importante e ativa parcela populacional.
Rev. Sérgio Andrade, coordenador do Programa de Apoio à Ação Diaconal das Igrejas – Diaconia - Recife-PE