Pessoas com Deficiência



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Manifesto por uma Educação Teológica Inclusiva

15/12/2016

ASTE
Simpósio ASTE 2016
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Manifesto por uma Educação Teológica Inclusiva


O Simpósio anual da Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE), realizado de 12 a 15 de dezembro de 2016, em São Leopoldo (RS), na Faculdades EST, reuniu mulheres e homens de diferentes confissões e instituições teológicas. Como pessoas comprometidas com uma educação teológica de qualidade em nosso país e a serviço de nossas igrejas, depois de ouvirmos conferências, realizarmos debates, em profissão de fé cristã, resolvemos tornar público este Manifesto por uma Educação Teológica Inclusiva.

Entendemos que é preciso desconfiar de toda ausência, cuja origem seja barreira socialmente imposta às pessoas com deficiência. Perguntamos pela pessoa com deficiência como um lugar teológico. Entendemos a inclusão como um princípio que nos leva a indagar, cotidianamente, pela graça que alcança e está ao alcance de todas as pessoas, tal qual se fez nos caminhos percorridos pelo Cristo. Como pessoas cristãs, há que afirmar, coerentemente, que o evangelho de Jesus Cristo é para todas as pessoas. Pelo compromisso com o acesso de todas as pessoas ao Cristo que é “caminho, a verdade e a vida” (João 14.6), preferimos a inclusão à exclusão; o reconhecimento recíproco à dicotomia; a graça à lei. Não um estado de graça nivelador, mas sim, a graça como abertura gratuita a outra pessoa, sem discriminação de qualquer espécie.

Recordamos um pensamento de Jürgen Moltmann, que escreveu: “o certo é que Deus ama toda vida humana. Por isso, não há na realidade nenhuma vida ‘reduzida’ ou ‘menos-válida’. Cada vida é, a sua maneira, vida divina, e como tal devemos reconhecê-la e respeitá-la”. Desafiados pelas pessoas com deficiência e sua presença questionadora entre nós e na vida de nossas igrejas, renovamos nosso compromisso, não apenas por exigência legal, mas pela voz profética que nos cabe no anúncio da graça universal de Cristo, que deve chegar a todas as pessoas, independentemente de suas diferenças. “Deus não faz acepção de pessoas”, é o que ouvimos nos Atos dos Apóstolos (10.34).

Há que perguntar, hoje e sempre, como as instituições de educação teológica podem ser protagonistas nos processos de construção da sociedade inclusiva, voltando-nos para a tradição profética de anúncio e denúncia. Anúncio do caminho acessível construído pelos caminhantes em suas diferentes trilhas. Denúncia da ilusória perfectibilidade humana.

Frente ao protagonismo das pessoas com deficiência nas trilhas da educação teológica inclusiva, constatamos hoje, no entanto, a impossibilidade de tal protagonismo sem a partilha do caminho comum entre os caminhantes com e sem deficiência. O caminho da educação teológica somente será inclusivo se percorrido conjuntamente por pessoas com deficiência e sem deficiência. Não há fórmulas prontas nessa caminhada, mas descobertas a serem feitas reiterada e cotidianamente. Com humildade, amor e sensibilidade.

Frente ao preconceito e ao medo que ainda fundamentam o rechaço social e eclesial em relação às pessoas com deficiência, entendemos que o evangelho nos conduz a uma nova realidade, um movimento cheio de Graça – a promoção da convivência por meio dos encontros. Vimo-nos, portanto, impactados pelo desafio constante da conversão do olhar, que somente é possível na convivência com as diferenças e os diferentes. Como, entretanto, conviver sem acessibilidade?

A espiritualidade cristã tem uma tarefa crítico-profética nos termos de uma antropologia teológica que construa e não diminua o ser humano em função de suas deficiências. Tanto as igrejas quanto a educação teológica devem rever seus conceitos e ações no sentido da inclusão das pessoas com deficiência – seja como lugar teológico (a experiência de Deus na perspectiva das pessoas com deficiência) ou em suas práticas pastorais (com a implantação da acessibilidade nos espaços eclesiais). A construção da Educação Teológica Inclusiva nos remete, portanto, a um desafio interno (eclesial) e externo (atuação profética na sociedade).

Assumimos, neste manifesto, que não somos iguais. Compomos a diversidade da criação em toda a sua complexidade. Nossas diferenças passam por aspectos físicos, sensoriais, intelectuais, atitudinais e tantos outros. Todavia, nossas semelhanças testemunham a condição humana em sua vulnerabilidade e fragilidade e, por isso mesmo, a condição humana em sua intrínseca dignidade e graça.

Conclamamos nossas instituições teológicas a assumirem decididamente a Educação Teológica Inclusiva não como mais uma carga, mas como o fardo leve de que falava Jesus, pois toda vez que uma pessoa com deficiência se sente incluída todas as demais pessoas também o serão.


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