Querida comunidade. Irmãos e irmãs em Cristo.
No calendário da Igreja este domingo chama-se Misericordias Domini, que significa: A misericórdia do Senhor. Somos lembrados, neste terceiro domingo da Páscoa, que a misericórdia de Deus é muito maior do que nossos pecados, nossas fraquezas e fracassos.
O que acontece no texto do Evangelho que lemos ilustra muito bem esta verdade. Na figura de Pedro e como Jesus age com ele neste último encontro entre os dois, fica claro que nosso passado só nos condena se não confiarmos na misericórdia de Deus e não recebermos o seu perdão.
A história de Pedro e o seu passado com Jesus são conhecidos de todos nós. Destaque recebe o incidente em que Pedro, numa hora crucial na vida do mestre, nega por três vezes sequer conhecê-lo.
Essa atitude covarde de Pedro faz alguns estudiosos levantarem a hipótese de que ele poderia ter perdido o seu prestígio entre os discípulos.
Possivelmente o próprio Pedro estivesse duvidando da sua qualificação para o trabalho na igreja. O fato de decidir voltar a pescar, após o sepultamento de Jesus, parece indicar nesta direção (Jo 21.3).
É por isso mesmo que Jesus agora por três vezes pergunta a Pedro: Tu me amas?
Vejam que Jesus não menciona o passado de Pedro; este devia estar bem presente em sua memória. Jesus não recrimina, nem acusa ou denuncia.
Jesus não recorda o triste incidente da negação, mas o confronta com uma pergunta incisiva: Pedro, tu me amas?
É como se Jesus deixasse ao encargo do próprio Pedro decidir o que ele quer: ficar preso nos erros do passado ou remodelar o futuro. Para esta segunda possibilidade Jesus o acolhe e reabilita ao grupo dos apóstolos.
Jesus o interroga três vezes e três vezes lhe dá a mesma ordem: Apascenta as minhas ovelhas. Com isso Jesus demonstra o apreço que tem pelo seu rebanho, pois faz do cuidado do mesmo a maior prova de amor para com ele.
Cabe a Pedro, desse ponto em diante, demonstrar aquele amor apaixonado que sempre demonstrou pelo seu Senhor.
João Calvino sustenta que aqui vemos o Mestre conferindo publicamente o seu perdão e demonstrando abertamente o seu amor ao discípulo ferido.
Para demonstrar a Pedro que ele podia confiar no seu perdão, Jesus lhe dá agora o destaque entre os seus irmãos, mas também o alerta quanto ao preço do discipulado cristão (v.18).
Queridos irmãos e irmãs.
Pedro serve como um espelho para todos nós. Somos muito parecidos com ele em muitas coisas. Por isso, o modo como Jesus tratou este discípulo ferido demonstra como ele quer cuidar de todos nós, ovelhas do seu rebanho.
Nós também temos nossas contradições entre o que falamos e fazemos. Temos vontade de seguir e servir a Jesus Cristo, mas também lidamos com dúvidas e incertezas.
Nossas declarações de compromisso que fazemos, também na igreja, depois, muitas vezes não se cumprem. Isso acontece nas promessas do batismo, nas confirmações, etc.
Por isso Jesus quer perguntar a cada um de nós: Pedro, Paulo, João, Joana, Maria, Isabel tu me amas verdadeiramente?
Tu confias verdadeiramente no meu amor?
Nossa resposta pode ser dada na confiança de quem se apega a misericórdia de Deus e se deixa acolher por Jesus, mesmo depois dos nossos erros e fracassos.
Nossa resposta afirmativa pode ser dada através de nossas atitudes de respeito e consideração, de acolhida e amor para com aqueles que, assim como nós, também falham e negam o seu Senhor.
Depois da terceira vez que Jesus pergunta, Pedro se entristece e se lança diante de Jesus: Tu sabes que te amo; tu conheces tudo, diz ele, tanto o presente quanto o futuro.
Vejam como Pedro se tornou humilde, como perdeu sua arrogância e sua autoconfiança. Talvez o entristecesse a idéia de que Jesus não confiava no seu amor. Talvez ele pensasse agora: Eu estava tão seguro de mim mesmo no passado, mas como falhei feio naquela vez. Será que dessa vez eu inspiro confiança?
Pedro teve que aprender que quem nos habilita para trabalhar no Reino de Deus não são nossas capacidades ou virtudes. Nosso bom pastor é Jesus Cristo, que nos acolhe e perdoa, que nos ergue e dá uma nova oportunidade.
Quem confia neste bom pastor pode declarar com reiterada confiança: Nada me faltará. Quem se apega a Jesus Cristo pode dizer: Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor, apesar de meus fracassos.
Louvado seja Deus por isso. Amém.
P. Germanio Bender
Paróquia Martin Luther
Joinville
Pregação do dia 14 de abril de 2013.
Domingo Misericordias Domini