Leitura Bíblica Básica: Lucas 10.38-42
Outras Leituras:
Autor: P. Germanio Bender
e-mail: germaniobender@luteranos.com.br
Origem: CEJ - Paróquia Martin Luther
Cidade: Joinville - SC
Data da pregação: 01 de agosto de 2010
Data Litúrgica: 10º Domingo após Pentecostes / 9º Domingo após Trindade
Prédica:
A caminho de Jerusalém, Jesus e seus discípulos chegam ao povoado de Betânia, que ficava uns 4 quilômetros da cidade santa. Ali eles são hospedados pelas irmãs Marta e Maria.
O texto descreve o comportamento das duas irmãs enquanto Jesus está com elas.
Numa primeira leitura, este texto do Evangelho nos surpreende, talvez até nos intrigue.
Marta é ativa, serve a Jesus, se ocupa com muitas tarefas, mas é repreendida por agir assim. Já Maria é passiva, senta aos pés de Jesus, deixa Marta servir sozinha, e é elogiada por Jesus.
Marta hospedou alguém importante e se ocupa em oferecer tranqüilidade a seu hóspede. A ação de Marta nos parece muito mais simpática do que a passividade de Maria.
Não deveria ser Marta o modelo que precisamos seguir? Não é isso que queremos? Pessoas engajadas, ativas, que servem sem medir esforços, que fazem diaconia?
Não é uma comunidade assim que todos desejam? Uma Igreja onde os membros trabalham e não se contentam apenas em ficar ouvindo a pregação nos cultos do domingo de manhã?
Então, porque Marta estaria errada, e porque Maria estaria certa?
Nosso olhar não deve deixar-se enganar pelo sentimento de simpatia ou antipatia que nutrimos por uma ou outra dessas amigas de Jesus. O próprio texto fornece um critério muito claro para que Jesus escolhesse a atitude de Maria como a mais apropriada naquele momento.
O critério é a presença de Jesus. As duas irmãs não estão sozinhas em casa. Jesus está com elas; e talvez seja esta a sua última visita antes de enfrentar a morte solitária na cruz.
É, pois, na perspectiva da presença de Jesus que a atividade de Marta e a passividade de Maria precisam ser examinadas.
Jesus não critica o serviço de Marta em si mesmo, mas naquele momento ele não está preocupado com a boa hospedagem, com o cardápio para o almoço ou outros detalhes que faziam parte da boa hospitalidade.
Exatamente porque Jesus está ali é tempo de deixar-se presentear pela Palavra de Deus. Essa é a questão principal naquele momento. Foi nisso que Maria acertou. Foi nisso que Maria errou.
A Marta não conseguiu distinguir entre quando é o momento de servir um chá e quando é o momento de aquietar-se na presença de Jesus. Mas Maria aquieta-se e quer ouvir atentamente o que o mestre tem dizer.
Estes dois momentos precisam estar presentes em nossa vida cristã. Ouvir atentamente e agir conforme aquilo que ouvimos.
Marta e Maria são exemplos, modelos do Evangelho para a nossa própria vivência da fé. O seu exemplo levanta perguntas que precisamos responder com sinceridade:
Qual tem sido a nossa atitude para com Jesus Cristo? Qual é o lugar que o Evangelho ocupa em nossa vida? Conseguimos aplicar, fazer, vivenciar aquilo que temos ouvido?
Olhando para as irmãs Marta e Maria, somos lembrados que existem diferentes tipos de pessoas na igreja.
Existem pessoas que não querem ouvir o que Jesus tem a dizer. Não é difícil encontrar pessoas que não têm tempo para ouvir o Evangelho.
Normalmente são pessoas que, como a Marta, sempre acham algo mais importante para fazer; deixam-se escravizar pelo seu trabalho, pelos afazeres domésticos e jamais encontram tempo para sentar aos pés de Jesus como fez Maria. Pessoas para quem uma hora e meia de encontro na Igreja é tempo demais – não suportam aquietar-se na presença de Deus tanto tempo.
Por outro lado, também existem pessoas que estão tão preocupadas em servir na igreja, estão tão envolvidas e ocupadas, que se tornam ativistas. Elas também não têm mais tempo para ouvir a Jesus.
São pessoas sinceras, que querem ser úteis, que querem servir, mas nesta ânsia de quererem servir, esquecem do mais importante: a palavra de Jesus que precisa fundamentar todo o nosso agir.
Quantas vezes fazemos muitas coisas, nos ocupamos com tanto afazeres, mas deixamos de realizar o essencial, porque fundamentamos a nossa ação naquilo que nós achamos ser o certo e não naquilo que Cristo espera da gente.
Felizmente também existem pessoas que, a exemplo de Maria, param para ouvir a Jesus. Tiram tempo para aquietar-se e aprender com o mestre.
Então a palavra do Evangelho traz libertação e transforma relacionamentos. Ela nos conscientiza e prepara para uma ação condizente com a vontade de Deus.
É a Palavra de Deus que nos orienta e nos faz entender e diferenciar os momentos. Quando precisamos aquietar-nos para ouvir? Quando precisamos levantar-nos para servir?
Queridos irmãos e irmãs.
Como nós agimos diante de Cristo que nos visita e nos fala por meio do Evangelho?
Diante da Palavra de Cristo que nos é anunciada, quais são as atitudes possíveis que nós temos como seus ouvintes? Em João 14.23 Jesus nos alerta: Se alguém me ama, guardará a minha palavra.
Meus queridos irmãos e irmãs!
Agir, como a Marta, sem ao mesmo tempo ouvir atentamente a Palavra de Deus, como a Maria, pode levar-nos a um ativismo religioso sem sentido e vazio de significado pessoal. Nem sempre a nossa ação é aquilo que Deus espera de nós.
Ouvir, como a Maria, mas sem transformar esta palavra em ação, como a Marta, pode levar a um desperdício da Palavra de Deus e a um comodismo ou uma passividade que também contrariam o Evangelho.
Portanto, o ouvir de Maria e o servir de Marta são modelos que querem nos mostrar a importância dessas duas coisas.
Precisamos ouvir com a atenção de Maria e trabalhar com a dedicação de Marta. Então se cumprirá a recomendação do apóstolo Tiago: “Tornai-vos praticantes da Palavra de Deus, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”.
Que Deus abençoe esta palavra em nós. Amém.