Meus queridos irmãos e irmãs em Cristo.
A vida em família nem sempre é fácil e pacífica. Cometemos erros, nos machucamos e machucamos as pessoas que amamos. A vida em comunidade é parecida com a vida em família. Também não é isenta de conflitos, desencontros, faltas e pecados. Assim como na família, também na igreja, às vezes, nos desentendemos, nos machucamos e ofendemos.
Por isso, o perdão deve ser uma prática constante. Sem perdão, a vida, tanto na família como na Igreja, se tornaria praticamente impossível. É sobre isso que fala o nosso texto.
O desafio do perdão
“Se teu irmão por sete vezes no dia pecar contra ti e se arrepender, perdoa-lhe” (v.3,4). Que desafio enorme Jesus lança para os seus seguidores. Perdão, palavra fácil de pronunciar. Atitude, às vezes, bem difícil de praticar. Perdão, quando precisamos dele sabemos o valor que ele tem. Quando somos convidados a concedê-lo nem sempre damos a ele a mesma importância.
Quanto a isso, vale lembrar que na lei judaica os rabinos exortavam que se devia perdoar ao irmão por três vezes. Em Mateus 18, Pedro, querendo ser generoso, pergunta a Jesus: Devo perdoar até sete vezes? Ao que Jesus respondeu: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” (Mt 18.22).
Aqui, em nosso texto, Jesus é ainda mais radical e diz: Sete vezes no dia! É preciso lembrar que o número 7 simboliza a perfeição, a completude. Jesus quer dizer: O perdão não tem limites! Devemos praticá-lo sempre, sem contar quantas vezes fomos ofendidos. Sem enumerar quantas vezes perdoamos a quem nos ofendeu, ainda que seja necessário perdoar muitas vezes num só dia.
O pedido dos discípulos: Aumenta-nos a fé
Diante desta exigência de Jesus, do perdão ilimitado, os discípulos reconhecem suas limitações e sua incapacidade de fazer o que Cristo pede e oram: Aumenta-nos a fé.
Certamente os discípulos fizeram pedido semelhante em outras situações. Mas aqui o pedido dos discípulos está ligado à exigência de praticar o perdão.
Algumas coisas são importantes para a nossa reflexão: Quem faz o pedido: Aumenta-nos a fé? Em qual contexto/situação ele é feito? Qual é a resposta de Jesus?
Quem faz o pedido?
São os discípulos, é a comunidade cristã. Ou seja, são as pessoas que acompanham Jesus, que convivem com o mestre, que ouvem seu ensino, que escutam suas palavras. Não é o ateu, não é o descrente, mas é o crente que ora: Aumenta-nos a fé! Por que isso é importante?
É importante porque deixa claro de onde vem a fé. A fé vem de Deus. Ele a produz em nós, pela ação do Espírito Santo, usando como meio a sua Palavra.
Além disso, a fé não é algo apenas pessoal, mas sempre relacional. A fé em Cristo sempre precisa ser vivida comunitariamente. Por isso o pedido está no plural: Aumenta a nossa fé!
Aqui somos desafiados a olhar para dentro de nós mesmos e perguntar: Eu creio? Eu confio? Até que ponto eu confio no Senhor e nas suas palavras? Como a minha fé pessoal se concretiza na vida familiar, comunitária e social?
Em qual contexto os discípulos fazem o pedido?
É diante do desafio de Jesus para a prática do perdão que os discípulos pedem: Aumenta-nos a fé! Portanto, a fé está relacionada ao perdão. Para perdoar é preciso ter fé.
Na epístola aos Colossenses Paulo nos lembrava o modelo de como devemos perdoar: Assim como o Senhor vos perdoou, assim perdoem vocês também (Cl 3.13). Para perdoar como Jesus nos perdoou é preciso confiar no perdão de Deus; caso contrário o perdão entre as pessoas se torna uma exigência impossível de ser praticada.
Assim, o tamanho da nossa fé pode ser medido pela nossa disposição e capacidade de perdoar. Esta é uma capacidade que somente Deus pode dar. Por isso o pedido: Aumenta-nos a fé!
Aumenta-nos a fé! É atitude de humildade de quem se reconhece incapaz de cumprir o que Jesus pede quanto ao perdão.
Aumenta-nos a fé! É expressão de confiança de quem quer servir e obedecer a Deus, também quanto ao perdão.
Aumenta-nos a fé! É manifestação de inconformismo com situações de conflito e desentendimento. É uma disposição sincera de transformar situações de conflito; procurando a reconciliação e a paz entre as pessoas.
Diante da exigência de Jesus quanto à prática e vivência do perdão também nós podemos e precisamos pedir: Aumenta-nos a fé!
Falta ainda considerar a resposta que Jesus deu diante do pedido dos discípulos.
A resposta de Jesus
Jesus afirma:
“Se vocês tiverem fé como um grão de mostarda...” (v.6). Esta é uma palavra de Jesus que aparece quatro vezes nos Evangelhos (Mt 17.20; Mt 21.21; Mc 11.23; Lc 17.6), em contextos diferentes. Mas sempre ela significa o seguinte: O que é impossível para os homens é possível para Deus! Deus torna possível até mesmo perdoar sete vezes num mesmo dia. “Se tiverdes fé como um grão de mostarda.”
Vocês sabem o tamanho de um grão de mostarda?
E a amoreira? Aqui se trata, na verdade, do sicômoro, uma espécie de figueira, a mesma árvore sobre a qual Zaqueu subiu para ver Jesus (Lc 19.4). Era uma árvore de raízes profundas, que podia atingir até 16 metros de altura e viver até 600 anos.
O que Jesus quer dizer?
Algo tão pequeno e minúsculo como um grão de mostarda contrasta com algo tão firme, profundo, imponente e estável como o sicômoro. Assim é a fé em Cristo. Algo pequeno, mas com grandes conseqüências na vida das pessoas, tornando possível o que aos homens é impossível.
A resposta de Jesus é uma palavra de incentivo, de encorajamento e motivação diante do pedido dos discípulos. Mesmo uma fé tão pequena pode produzir grandes efeitos.
Aqui se fala do poder da fé que nos capacita para fazer aquilo que nos parece impossível – até mesmo perdoar de forma ilimitada.
Meus amados irmãos e irmãs.
O desafio do perdão permanece. Quem se acha incapaz de pedir perdão ou de perdoar, na verdade precisa pedir a Jesus: Aumenta a minha fé! Aumenta a minha confiança no perdão de Deus. E se você foi ofendido, ferido ou machucado e acha que não consegue perdoar, também pode vir a Jesus e fazer a mesma oração dos discípulos: Aumenta a minha fé!
É para isso que somos convidados por Jesus através deste texto. Que Deus abençoe esta palavra em nós. Amém!
P. Germanio Bender - Paróquia Martin Luther - Joinville, SC.