Nem mesmo a prisão o fez resignar
Ferdinand Schlünzen nasceu em 28/8/1880 em Hamburgo na Alemanha. Esta cidade sempre foi um portal para o mundo. De lá saiu Dr. Blumenau e um grande número de imigrantes. Talvez foi o contato com tantos compatriotas que de lá se arriscavam para o além-mar, que o incentivou com apenas 18 anos a ingressar no Instituto Missionário de Neuendettelsau, bem no sul da Alemanha. Quatro anos após foi ordenado e enviado ao Brasil. P. Schlünzen foi o sétimo pastor enviado pelo ¨Gotteskasten¨ (A Sociedade Missionário da Igreja Evangélica da Baviera) ao Brasil. Ele veio com o navio ¨Guahyba¨.
E aqui ele trabalhou durante 52 anos —principalmente em ¨Brüdertal¨ e em Jaraguá do Sul — até seu falecimento, em fevereiro de 1954. De 1933 até a sua morte, P. Schlünzen foi ¨Praeses¨ (Presidente) da ¨Igreja Luterana no Brasil¨. Isto juntamente com seus afazeres paroquiais.
Durante a II Guerra Mundial — juntamente com vários outros colegas — foi preso. Seu companheiro de prisão. P. Wüstner, mais tarde escreve sobre ele:
— Quando nós pastores fomos presos como ¨elementos indesejáveis¨, nosso Praeses estava conosco. Sem pestanejar aceitou tudo que se relacionava com o estar preso. Certa manhã fomos levados para um local de trabalho (para arrancar tocos). ¨É, disse ele, agora somos pregadores e comunidade ao mesmo tempo. ¨Desta forma ele foi para nós, colegas mais jovens, um exemplo, mesmo que já fosse mais idoso e sua saúde não fosse mais das melhores.
Após a guerra e depois de sair da prisão, poder-se-ia imaginar que ele, bem como outros, estivessem enjoados do Brasil e quisessem retornar a sua pátria. Mas nem mesmo a humilhação da prisão o fez resignar.
Imediatamente retornou a suas atividades paroquiais e de Praeses. Sua preocupação pelo crescimento da Igreja Evangélica Luterana no Brasil foi maior ainda. Por isso contribuiu, dentro de suas funções, decisivamente para dois fatos importantes no pós-guerra:
— A criação da Faculdade de Teologia, em 1946.
— A fundação da Federação Sinodal, em 1949, unindo os quatro sínodos da época.
Já em agosto de 1945 Praeses Schlünzen escrevia:
— Justamente a atualidade nos lembra que devemos evoluir para uma Igreja autóctone no Brasil. Para tal se torna necessário que nossas comunidades recebam pastores que tenham nascido aqui.
Em 47 escreveu no Castelo Forte — o jornal de sua comunidade:
— Queremos colaborar com os outros três sínodos que estão sob a mesma base confessional, para que surja uma ¨Igreja Evangélica Luterana no Brasil¨.
No mesmo jornal ele traz um chamado da Faculdade de Teologia de São Leopoldo, onde é dito:
— Não pense que tua Igreja pode prosseguir em seu trabalho sem a tua colaboração. Ela que foi a Igreja de teus pais e que será a Igreja de teus filhos, espera por ti e a tua ajuda. Vem, sem esperar até que sejas procurado. Vem logo e ajuda!
As palavras abaixo Praeses Ferdinand Schlünzen escreveu sobre um pastor que trabalhou no Brasil, mas elas servem justamente para ele e O CAMINHO faz suas estas palavras e as aplica a ele mesmo:
— Onde após decênios e além das fronteiras uma comunidade conserva e testemunha sua gratidão a seu pastor, ali realmente se respeita a palavra da Epístola aos Hebreus (Hb 13.7): ¨Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram¨.
Voltar para o índice O Caminho Agosto 1987