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ID: 2690

Romanos 5.1-8

Auxílio Homilético

18/06/2017

 

Prédica: Romanos 5.1-8
Leituras: Êxodo 19.2-8a e Mateus 9.35-10-8
Autoria: Claiton André Kunz
Data Litúrgica: 2º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 18/06/2017
Proclamar Libertação - Volume: XLI

As bênçãos da justificação pela fé

1. Introdução

A Carta aos Romanos é um escrito fantástico do apóstolo Paulo. Ela foi escrita para uma igreja que não havia sido fundada por Paulo e que ele ainda não havia visitado. A carta tem sido há muito tempo reputada como a espinha dorsal da teologia por expor sistematicamente as principais doutrinas da teologia cristã. Poderíamos dizer que o problema central na Carta aos Romanos é a seguinte pergunta: “Como o ser humano pecador pode alcançar uma posição (ou relação) justa perante Deus?”. A resposta já aparece na introdução da carta quando Paulo lança mão de uma citação de Habacuque (2.4) e afirma que o “justo viverá pela fé” (Rm 1.17).

Paulo passa então a esboçar sua teologia. Trata primeiro da condenação de todos (cap. 1-3): fala da condenação dos gentios (1.18-32), da condenação dos moralistas (2.1-16), da condenação dos judeus (2.17-3.8) e termina afirmando a condenação de todos (3.9-20). Depois disso, trata da justificação (3.21-5.21), fazendo uma descrição da justiça divina (3.21-31), ilustrando a justiça divina (4.1- 25), falando dos benefícios da justiça divina (5.1-11) e, finalmente, aplicando a justiça divina (5.12-21). Depois ainda tratará da santificação (cap. 6-8), falando dos princípios, da aplicação e do poder da santificação.

Em Paulo fica claro que a justificação não significa que a pessoa é tornada justa, pois ainda poderá vir a pecar, mas sim que ela é “declarada justa” por Deus, de forma que, ao olhar para ela, Deus não a verá como pecadora e sim como justa, por vê-la através do sangue de Cristo. Essa justificação não é de forma alguma operada por obras que essa pessoa possa ter praticada ou pela obediência à lei, que, embora requerida, não é alcançável por nenhuma pessoa. Essa justificação ocorre única e exclusivamente por graça e pela fé em Jesus Cristo, que cumpriu a lei a favor de todas as pessoas.

No texto da mensagem dessa data, Paulo apresenta vários benefícios de uma pessoa justificada pela fé. Vamos primeiramente verificar alguns aspectos exegéticos do texto e depois esboçar os benefícios apresentados no texto.

2. Exegese

No trecho que inicia no capítulo 5 desaparecem palavras-chave como “fé” e “crer”, que eram centrais nos dois capítulos anteriores. Em seu lugar aparecem conceitos como “paz”, “graça”, “esperança”, “amor”, “Espírito”, “reconciliação”, “redenção” e “vida”. O conceito “vida”, que só ocorrera em 2.7, agora aparecerá em 5.10,17,18,21; 6.2,4,8,10,11,13,22,23; 7.1,2,3,9,10; 8.2,6,10,12,13,38.

V. 1 – O trecho anterior encerrava, em 4.25, com as palavras: “nossa justificação”. O trecho de Romanos 5.1 começa: “justificados, pois...”. Essa justificação acontece mediante a fé. Nós não experimentamos isso através daquilo que nós temos ou somos, mas por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto espaço de graça na qual estamos firmes (v. 2).

V. 2 – “Acesso” denota o privilégio de aproximar-se ou ser introduzido à presença de alguém de alta posição, especialmente uma personagem real ou divina. Nesse texto, Cristo é visto como aquele que introduz os cristãos em seu novo estado de graça e de aceitação diante de Deus.

V. 3 – A palavra “tribulação” vem do latim tribulum. Na época do NT, tribulum era um pedaço pesado de madeira com cravos de metal usado para debulhar cereais. Ao ser arrastado sobre os cereais, o tribulum separava o grão da palha. Ao passarmos por tribulações e dependermos da graça de Deus, as dificuldades purificam-nos e nos ajudam a eliminar a palha. O cristão não se gloria apesar de sofrer, mas precisamente porque sofre, pois sabe que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança (v. 4). De repente, descobrimos o sofrimento para Cristo como sendo um sofrimento com Cristo, como um presente da mais íntima comunhão com ele e como marca da autenticidade de nosso seguimento a ele.

V. 5 – Aparece a expressão “não confunde / não decepciona / não envergonha”. Isaías 28.16 afirma que “todo aquele que nele crer não será envergonhado (confundido)”. Uma esperança que não se realiza deixa a pessoa envergonhada, mas a que se baseia na promessa de Deus tem seu cumprimento garantido. Poderíamos nos perguntar: de onde um atribulado retira sempre de novo seu vigor? O texto afirma que é devido ao amor de Deus derramado em nosso coração.

V. 6 – Paulo faz questão de apresentar a condição daqueles por quem Cristo entregou sua vida com amor. “Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios”. O “ainda” ressalta que a paixão de Cristo alcançou pessoas num estado de fraqueza absoluta. “Fracos” refere-se a uma condição sem Deus. Nessas pessoas, a força ética e a dignidade humana estão totalmente quebradas. Estão rendidas a suas paixões (Rm 1.24,26,28), são incapazes de uma vida com Deus.

V. 7 – Dificilmente alguém morreria por um justo, embora pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Os gregos e romanos glorificavam a morte de um soldado. “É doce e honroso morrer pela pátria” (Horácio, séc. I a.C.). Entre os judeus, o martírio pela religião dos pais era considerado de máxima honra (2 Macabeus 6.18-7.42). Reconhecem-se aqui motivos compreensíveis, mas que são restringidos e postos de lado pela expressão “poderá ser”.

V. 8 – Deus provou seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós... Na cruz não aconteceu um heroísmo na potência máxima, mas uma humilhação extrema, um contrassenso escandaloso (Fp 2.8; 1Co 1.18).

3. Meditação

A justificação pela fé em Cristo não é apenas uma garantia do cristão ir para o céu, por mais empolgante que seja essa ideia. A justificação é ao mesmo tempo uma fonte imensa de bênçãos que podem ser desfrutadas ainda neste mundo. Entre essas bênçãos que podem ser desfrutadas estão:

a) Paz com Deus (v. 1) – uma pessoa não salva é inimiga de Deus (cf. Rm 5.10; 8.7) pelo fato de que não pode cumprir a lei de Deus e também não pode obedecer à sua vontade. Uma pessoa assim não poderia experimentar a paz, pois já o profeta Isaías havia afirmado: “Para os perversos, todavia, não há paz, diz o Senhor” (Is 48.22). Enquanto condenado por Deus, o ser humano encontra-se separado de Deus, numa espécie de “declaração de guerra”. Já no capítulo anterior, Paulo afirmou que a “lei suscita a ira” (Rm 4.15), ou seja, nenhum conde- nado pela lei pode desfrutar da paz com Deus. Entretanto, quando uma pessoa é justificada pela fé, quando é declarada justa, a lei não pode mais condená-la nem declarar guerra. Isso representa agora uma declaração de paz, possibilitada pela morte de Cristo na cruz.

b) Acesso a Deus (v. 2a) – Quando se observa o templo, somos informados de que os judeus eram separados da presença de Deus pelo véu do santuário ao mesmo tempo em que os gentios eram isolados pelo muro externo do templo. Havia advertências claras quanto aos gentios de que, se passassem daquele ponto, seriam mortos. Mas em Cristo essa situação é radicalmente modificada. Através da sua morte Cristo rasgou o véu (Lc 23.45) e derrubou o muro de separação (Ef 2.14). Em Jesus Cristo, todos, judeus e gentios, podem ter acesso a Deus (Ef 2.18; Hb 10.19-25). O acesso, nesse caso, significa a “permissão para entrar na presença do rei mediante o favor de outro”.

c) Esperança gloriosa (v. 2b) – Enquanto a “paz com Deus” trata do passado, pois Deus não condena mais o ser humano por seus pecados, e o “acesso a Deus” trata do presente, pois o cristão pode entrar em sua presença a qualquer momento para obter a ajuda de que necessita, a “esperança gloriosa” trata do futuro, pois um dia participaremos da glória de Deus. Enquanto pecadores, os seres humanos não têm do que se gloriar (Rm 3.27), pois estamos separados da glória de Deus (Rm 3.23). Mas agora, em Cristo, podemos gloriar-nos na sua justiça e na sua glória. Em Romanos 8, Paulo desenvolve mais esse tema ao falar da glorificação final (Rm 8.18-30).

d) Caráter cristão (v. 3-4) – A justificação experimentada pelo cristão não é uma fuga da realidade da vida nem das tribulações. Jesus já havia deixado claro que “no mundo passaríamos por aflições” (Jo 16.33). Entretanto, no caso dos cristãos, as tribulações não trabalham contra eles, mas a favor. As tribulações aproximam o cristão do seu Senhor e tornam-no mais semelhante a Ele. O próprio sofrimento ajuda a moldar o caráter cristão. Tiago também nos ensina que as provações/tribulações devem ser, inclusive, motivo de alegria, pois nos ajudam a perseverar e a tornar-nos íntegros e maduros (Tg 1.2-4).

e) Amor de Deus em nós (v. 5-8) – Paulo também afirma que o amor de Deus é derramado sobre o cristão em todo esse processo. Antes do cristão ser salvo, Deus já havia provado seu amor, enviando Cristo para morrer na cruz. Deus fez isso quando “ainda éramos pecadores” (v. 8). Isso demonstra que é um amor inquestionável, pois, como diz o texto, por uma pessoa boa “talvez” alguém até se habilite a morrer. Mas Cristo fez isso por pecadores. Agora, como filhos e filhas de Deus, as pessoas cristãs certamente serão ainda mais amadas por ele. É esse amor que o ajuda a suportar as tribulações mencionadas nos versículos anteriores.

Essas são algumas das bênçãos que a pessoa já pode experimentar aqui neste mundo, se de fato for justificada pela fé. Se são tantas e tão preciosas as bênçãos aqui nesta vida, com certeza serão ainda maiores na era por vir.

4. Imagens para a prédica

“E da parte de Jesus Cristo, a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados [...]” (Ap 1.5). A palavra sangue é mencionada cerca de 460 vezes na Bíblia. No Novo Testamento, Jesus falou 14 vezes de seu próprio sangue. Porque, pelo derramamento do seu sangue, ele propiciou a possibilidade de nossa salvação e pagou a pena por nosso pecado e nos remiu. Voluntariamente, ele aniquilou sua vida e pagou a pena que nós devíamos pagar. É esse o significado da cruz. O sangue de Jesus Cristo não nos redime apenas, mas também nos justifica. Ser justificado significa mais do que ser perdoado. Posso dizer: “Eu te perdoo, mas não te justifico”. Deus, no entanto, não somente perdoa o passado. Ele reveste a nova criatura de justiça como se jamais houvesse pecado. Isso custou o sangue de seu Filho na cruz.

5. Subsídios litúrgicos

Podem ser utilizadas algumas frases de efeito na introdução ou no decorrer do culto:

• A justiça de Cristo, declarada na corte de justiça, é nossa absolvição completa e final.

• Na justificação, o pecador não é apenas perdoado, é promovido. (J. Blanchard)

• Deus tem duas mãos: a mão direita de misericórdia e a esquerda de justiça. (John Boys)

• A justificação acontece na mente de Deus, não no sistema nervoso do crente. (C. I. Scofield)

• Ninguém entende o cristianismo se não entende a palavra “justificado”. (John R. W. Stott)

• A justificação é o eixo e o alicerce do cristianismo. (Thomas Watson)

Bibliografia

POHL, Adolf. Carta aos Romanos: comentário esperança. Tradução de Werner Fuchs. Curitiba: Esperança, 1999.
WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Novo Testamento 1. Tradução de Susana E. Klassen. Santo André: Geográfica, 2008.


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Autor(a): Claiton André Kunz
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 2º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Romanos / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2016 / Volume: 41
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 45484

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