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ID: 2690

Mateus 1.18-25

Auxílio Homilético

18/12/2016

Marcia Blasi
Ketlin Schurchardt
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Prédica: Mateus 1.18-25
Leituras: Isaías 7.10-16 e Romanos 1.1-7
Autoria: Marcia Blasi e Ketlin Laís Schuchardt
Data Litúrgica: 4º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 18 /12/2016
Proclamar Libertação - Volume: XLI

1. Introdução

Nos textos indicados para o tempo de Advento, mais especificamente para o 4° Domingo, o evangelista Mateus relata o anúncio do nascimento de Jesus, o Salvador. O que une o texto de Mateus aos textos paralelos é justamente o cumprimento da promessa feita por Deus ao povo de enviar o Salvador. Isaías destaca a presença de Deus entre o povo; Mateus, o nascimento de Jesus, e a Carta aos Romanos, a descendência davídica de Jesus e sua ressurreição.

Comparado a outros relatos, o texto de Mateus é o que descreve com menos detalhes o nascimento de Jesus, dando ênfase especial à concepção virginal e ao papel de José. O texto fala de seu carácter, de suas dúvidas e das escolhas que precisa fazer.

2. Exegese

V. 18 – Precisamos entender o que significava o casamento. No caso de Maria e José, estabeleceu-se o compromisso de noivado, em que a noiva, em geral, estava na idade de 12 a 13 anos e legalmente já estava sob tutela do futuro marido, que tinha direitos sobre a mulher e podia chamá-la de esposa, mas não ter relações sexuais com ela. Qualquer violação dos direitos legais do marido era considerada adultério, portanto passível de punição, inclusive até de morte. Era pressuposto que a noiva fosse virgem, portanto não é de estranhar que o texto de Mateus tenha um tom de escândalo quando relata que, antes de ter relações com José, Maria havia engravidado. O escândalo é abafado através da continuação da frase: “grávida pelo Espírito Santo”. No entanto, o texto também não explica como esse processo aconteceu e nem como repercutiu na comunidade.

V. 19 – José era um homem obediente às leis de sua época e também era justo, mas era Maria quem estava em uma situação difícil. A acusação mais comum para essas situações era o adultério. Mas Maria também poderia ter sido violentada ou seduzida. No caso de adultério, a punição para Maria seria o apedrejamento (Dt 22.21-22). Se José se divorciasse de Maria em silêncio, evitaria essa punição, e isso significaria que José não acreditava que Maria tivesse cometido adultério. O verbo utilizado na frase, apolyō, tem o sentido primário de soltar, deixar ir embora, libertar. Pode também significar liberar alguém de uma obrigação ou até perdoar. Nesse contexto, pessoas que traduzem o texto preferem a tradução divorciar-se, fazendo uma ligação com as palavras do anjo no v. 20. José, então, tem duas opções: expor Maria, envergonhá-la publicamente, ou divorciar-se dela em segredo.

V. 20 – A decisão de José é interrompida quando um anjo aparece em um sonho. Anjos têm um papel importante de anúncio nos evangelhos. Diferentemente de Lucas, aqui o anjo aparece a José e não a Maria. O anjo afirma que a criança foi gerada pelo Espírito Santo, removendo qualquer suspeita sobre os atos de Maria referente à sua gravidez. A ênfase aqui talvez seja muito mais no “não tenha medo” do que em “receber Maria como esposa”. Numa cultura construída sobre valores de honra e vergonha, a decisão de ficar com Maria requeria de José um coração afetuoso e uma boa dose de coragem, pois sua própria reputação estava em jogo. Talvez fosse isso que o narrador queria enfatizar ao dizer que José é um homem “justo”, que “sempre fazia as coisas certas”. Essa escolha já questiona a sociedade patriarcal da época e atual, que coloca toda a responsabilidade na vivência da sexualidade sobre as mulheres e coloca o termo “justo” no significado de ficar ao lado da parte mais fraca, de agir com justiça.

V. 21 – José passa de espectador para integrante da história. O anjo diz-lhe para assumir a criança que não gerou e dar a ela o nome de Jesus. O nome não era incomum, e é José quem deve nomear a criança, conforme diz a tradição. Mateus parece muito preocupado em garantir a legalidade da criança. José, aceitando uma mulher grávida, também aceita a responsabilidade sobre a criança, que é destacada na genealogia de Jesus, que não é a da mãe biológica, mas sim do pai “adotivo” (Jacó, José e Jesus).

V. 22-23 – O anjo continua a instrução: tudo aconteceu para cumprir a profecia. Mateus faz referência ao texto de Isaías 7.14, onde já havia sido previsto uma virgem para conceber o Salvador. A palavra parthenos, no texto grego de Isaías (Septuaginta), pode ser traduzida, sobretudo a partir do original hebraico, como “moça” ou “jovem em idade para casar” e não como virgem. Mateus usa a mesma palavra com o sentido de “virgem” para destacar o papel do Espírito Santo na concepção. O que precisa ficar claro para José (e por isso a ênfase do anjo) é que essa criança é Emanuel, o Deus conosco, e está em continuidade com a história de Israel, significando a presença constante de Deus dentro da história de seu povo.

V. 24-25 – Ao acordar, José faz conforme a instrução recebida pelo anjo. Mesmo não sendo o pai biológico de Jesus, José recebe Maria como sua esposa, mas não tem relações sexuais com ela até a criança nascer. Quando a criança nasceu, cumpriu também com a tarefa recebida de dar nome ao menino. Com essa atitude, tanto a mãe como a criança estão legalmente protegidas e aceitas na sociedade.

3. Meditação

Para a comunidade de Mateus, com fortes antecedentes judaicos, fazia-se necessária uma justificativa sobre a concepção de Jesus. Por isso Mateus precisa preocupar-se tanto em enfatizar esse fato. O que não deveria receber ênfase na narrativa é a concepção “virginal”. Associar a justificativa de uma concepção virginal de Jesus e seu papel de Salvador pode ser muito perigoso. O fato de dizer que Jesus não tinha pecados não tem a ver com a forma de sua concepção. Fazer essa ligação pode abrir caminho para que a Bíblia seja usada para relacionar sexualidade a pecado. A concepção virginal é informação exclusiva de Mateus e Lucas. Para os demais evangelistas, essa informação não é importante e não deve ser determinante para nossa fé hoje.

Em sua versão, Mateus escolhe contar história na perspectiva de José. Havia muitas coisas em risco para esse homem, noivo da jovem Maria. Ele tinha o poder de decisão sobre o futuro de Maria e da criança em suas mãos. A vida e a aceitação pública da jovem e da criança dependem da sua decisão.

Maria, pelo relato de Mateus, é quase uma coautora da história. Tem um papel secundário. É do “justo” José que dependem seu presente e seu futuro. Com toda a certeza, a decisão de José era difícil. Numa sociedade patriarcal, é muito importante para os homens terem o domínio sobre “sua mulher” e sobre “seu filho” no ventre. Aceitar uma mulher grávida de outro homem é algo que não é comum ainda hoje, como não era comum no tempo e contexto do nascimento de Jesus. A atitude de José poderia ser motivo de piada, desonra, exclusão do círculo de homens “de verdade”. Para Maria, a situação era muito mais difícil: era uma situação de vida e morte.

A ênfase de Mateus na situação de José encobre a realidade de Maria. Não há nenhuma preocupação com a situação angustiante em que ela se encontrava. A intervenção do anjo não é somente uma maneira de organizar a situação, mas é a escolha de Deus em favor das pessoas fracas e em maior perigo. Deus assumiu um risco enorme no plano do nascimento de Jesus. Precisou, além de confiar numa jovem moça para carregar a criança, também assumir o risco de convencer um homem a assumir uma criança que não era sua. O anjo é enviado para garantir a vida e a dignidade da jovem escolhida.

4. Imagens para a prédica

Sugerimos iniciar a pregação falando sobre riscos: como é arriscar-se a fazer alguma coisa que dentro de nós parece certa ou de acordo com nossa compreensão de justiça a partir do evangelho, enquanto que para todas as outras pessoas isso parece ridículo? Ou então qual é o sentimento de ter que fazer uma escolha entre duas opções que não parecem certas? Qual é o sofrimento, a dor que está presente nessas situações? Busque exemplos em sua experiência pessoal. Num segundo momento, descreva o contexto da comunidade de Mateus, enfatizando as questões legais envolvendo o casamento, para que a comunidade compreenda o dilema de José.

É preciso tomar muito cuidado para não transformar José em um herói. A situação de José é difícil, não é possível negar, mas a de Maria é pior. Dentro de uma sociedade patriarcal, há uma cobrança enorme para que o corpo e a sexualidade da mulher pertençam ao marido. Qualquer situação que foge a essa regra legitima o abandono ou a violência contra a mulher. Homens que continuam uma relação com mulheres grávidas de outro homem são ridicularizados e diminuídos em sua masculinidade. Logicamente, os homens sofrem e também são vítimas desse sistema, mas é sobre as mulheres que as cargas mais pesadas são colocadas, e isso não deve ficar invisibilizado na pregação. Uma jovem solteira e grávida é motivo de vergonha, de exclusão da família e do círculo de amizades. Isso raramente acontece com um homem. É muito importante enfatizar a escolha de José (após a visita do anjo) dentro da sociedade em que vivia e também dentro de nossa sociedade.

Conte também que a intervenção do anjo funciona como uma justificativa legal para a aceitação de Maria e da criança naquela comunidade, mas acima de tudo enfatize a atitude de Deus, que se coloca ao lado de Maria e da criança. Aqui também é possível falar da realidade das mulheres na sociedade atual, das cargas colocadas sobre as mães solteiras, daquelas que são vítimas de violência e excluídas dos espaços. Mencione também os pais que, assim como José, assumem filhos que não são seus e os amam de todo o coração.

O Natal aproxima-se. Motive a comunidade a assumir riscos de amor e a não ter medo do que as outras pessoas vão dizer. Motive a comunidade a relembrar o nascimento de Jesus, as dificuldades presentes, os riscos envolvidos e a confiar em Deus, que continua arriscando muito ao confiar nos seres humanos.

5. Subsídios litúrgicos

Hinos

HPD 2 – Advento de Cristo (n° 307); O Povo Canta – Cântico de Maria

(p. 40).

Oração

Deus de ternura e misericórdia: agradecemos-te por enviar, por meio de Maria, teu Filho Amado, nosso Senhor e Salvador. Permita que sejamos pessoas justas como José e corajosas e fortes como Maria. Permita que ouçamos o que tu tens a nos ensinar e capacita-nos para romper com os obstáculos legais e sociais, que oprimem homens e mulheres em nossa sociedade. Dá-nos alegria de poder estar ao lado de outras pessoas, de saber que tu enviaste a nós teu Filho Amado, que nasceu como ser humano, viveu e morreu por nós. Amém.

Bênção

Que a bênção do Deus de Sara, Abraão e Agar, a bênção do Filho nascido de Maria, a bênção do Espírito Santo de amor, que cuida com carinho qual mãe cuida da gente, estejam sobre todos nós. Amém!

Envio

Agora vão em paz, assumam riscos de amor e preparem com alegria e esperança a chegada do menino Jesus.

Bibliografia

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. V. 6. São Paulo, SP: Milenium, 1982.
DEIFELT, Wanda. Mateus 1.18-25. In: Proclamar Libertação XVIII. São Leopoldo: Sinodal, 1992. p. 25-30.


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Autor(a): Marcia Blasi e Ketlin Laís Schuchardt
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 4º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 25
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2016 / Volume: 41
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 45361

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