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ID: 2690

Marcos 16.1-8

Auxílio Homilético

01/04/2018

 

Prédica: Marcos 16.1-8
Leituras: Salmo 118.1-2,14-24 e 1 Coríntios 15.1-11
Autoria: Nilton Giese
Data Litúrgica: Domingo da Páscoa 
Data da Pregação: 01/04/2018
Proclamar Libertação - Volume: XLII

1. Exegese

O texto de Marcos 16.1-8 vem sendo refletido nos volumes de Proclamar Libertação desde 1979. Portanto já temos excelente material exegético e homilético. Apresento alguns comentários desses volumes, que serão importantes para a reflexão neste momento.

Ninguém contava com a ressurreição. As mulheres que foram ao túmulo no domingo de Páscoa contam com a morte definitiva de Jesus. Esse foi amado e merece sinais e gestos desse amor; por isso é certo e justo que se derrame bálsamo sobre ele. Com esse propósito elas peregrinam até sua sepultura, assim como nós peregrinamos em finados até as sepulturas de nossos mortos. É um gesto de piedade, com que demonstramos o amor por quem foi, mas que não é mais capaz de perceber nosso gesto. (Martin Norberto Dreher, PL 27)

Elucidar o que se crê. O Evangelho de Marcos enfatiza que não bastou anunciar às mulheres a mensagem da ressurreição, mas também foi necessário indicar o lugar vazio. Na dimensão educacional é muito salientada a necessidade de se trabalhar com questões concretas. Ou seja, o processo de aprendizagem na fé não ocorre somente de forma abstrata e intelectual, mas precisa integrar elementos palpáveis, momentos vivenciais e situações concretas. Portanto não devemos compreender esse fato como uma demonstração de falta de fé das mulheres, mas como a necessidade de elucidar o que se crê. (Manfredo Wachs, PL 22)

Quem eram essas mulheres? As mulheres que são descritas nos primeiros versículos de Marcos 16.1-8 são as mesmas relacionadas em 15.40. Elas foram as testemunhas dos últimos momentos da vida de Jesus. Mas elas não são simplesmente pessoas curiosas que presenciam a morte de alguém polêmico nem são moradoras de Jerusalém. O evangelista Marcos salienta que elas eram seguidoras de Jesus na Galileia e o acompanharam até Jerusalém. Portanto essas mulheres não são seguidoras recentes. Duas delas, Maria Madalena e Maria, mãe de José, assistem, provavelmente de longe, a José de Arimateia tirar o corpo de Jesus da cruz e enterrá-lo. Portanto elas sabem o lugar do túmulo de Jesus. (Manfredo Wachs, PL 22)

A ressurreição é um milagre: O certo é que a ressureição não faz parte de nossa visão de mundo, ela não pode ser comprovada, nem mesmo com a sepultura vazia. Por isso é um exercício inútil tratar de prová-la por analogia e correlação. Só entende a ressurreição quem não contou com ela como uma possibilidade. Só a entende quem a percebe como milagre. A fé não crê em si mesma e naquilo que conseguiu elaborar historicamente, mas em Deus e naquilo que ele fez. A fé não diz: “Viva! Podemos crer novamente porque provamos por analogia e correlação!”, mas: O Senhor ressuscitou! Somente a fé sabe disso, porque sabe que é ação de Deus que não depende dela, mas dele. Quando todos puderem ver o ressurreto, inclusive aqueles que o transpassaram (Ap 1.7), então constataremos que tudo o que pretendemos afirmar a respeito dele terá sido insuficiente (lCo 13.12). (Martin Norberto Dreher, PL 28)

A ressurreição é um protesto de Deus. A ressurreição é um protesto contra a morte, um protesto do próprio Deus, criador e doador da vida. A mensagem da ressurreição anuncia que a morte que cerca e marca a humanidade já não é mais a derrocada do ser humano. Isso abre espaço para a esperança que vai além do nosso campo de visão demarcado pelos túmulos em nossos cemitérios. Essa mensagem grandiosa deve ser pregada a plenos pulmões. Cristo é as primícias dos que dormem (1Co 15.20). O mesmo Deus que confessamos ser o criador do céu e da terra, tem e usou o seu poder para ressuscitar o seu Filho.

No entanto, a mensagem da ressurreição não se restringe à proclamação de uma nova vida, à esperança pós-morte. Se a ressurreição é um protesto contra a morte, então isso não significa que ela o seja somente em relação à morte física de cada um, mas é um protesto contra todos os tipos de morte que estão aí e caracterizam o mundo e a (des)convivência humana. E a morte se manifesta ali onde pessoas não têm espaço para a sua vida.

Deus não se deixou vencer por aqueles que lhe decretaram a morte e ele não quer que a sua criatura se deixe vencer por aqueles que decidiram e decidem que só uma minoria tem direito à vida. Por isso a mensagem da ressurreição encerra um desafi o: protestar, a partir do protesto de Deus, contra a morte em todas as suas formas de aparição; falar e agir contra a morte e a favor da vida. Protestar é levantar sinais de vida plena desejada por Deus em meio a um mundo marcado pela morte. (Harald Malschitzky, PL X)

2. Meditação: O que aprendemos da Páscoa?

Uma pessoa da comunidade me disse que as celebrações da Semana Santa e da Páscoa apenas confirmam a convicção de que a vida não é justa. Jesus era uma pessoa jovem, estava na plenitude de suas forças. Ele passou sua vida fazendo o bem, curando os doentes, abraçando os leprosos, reunindo-se com pecadores, com as pessoas marginalizadas da sociedade. Ele se encontrou até mesmo com os corruptos daquele tempo, com a intenção de convencê-los a mudar de vida. Jesus foi um homem bom, que tinha dedicado sua vida a Deus e à construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Foi capaz de simplificar todas as leis religiosas em um só mandamento: amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. Como foi possível prender, condenar e executar alguém assim? As pessoas poderosas daquele tempo condenaram Jesus por ser uma pessoa perigosa. Que crime ele cometeu?

A vida não é justa. Muitas pessoas também hoje se perguntam: por que isso está acontecendo comigo? Por que tenho que sofrer essa doença? Por que Deus permite que tanta gente esteja sofrendo? Na maioria das vezes, não encontramos resposta. Muitas vezes apenas podemos abraçar e concordar que a vida não é justa. E se o sofrimento caiu sobre Jesus – e ele acabou morrendo de uma maneira brutal e injusta –, então qualquer pessoa está sujeita a sofrer injustiças. Por isso muitas vezes devemos aceitar as coisas como Deus manda.

Mas será que é essa a atitude que Jesus espera de nós como seus seguidores? Uma atitude passiva? Uma atitude conformista? Uma atitude fatalista? Se olharmos para a vida de Jesus, vamos perceber que ele lutava todos os dias contra os sinais de morte. Ele curou leprosos, cegos, paralíticos, alimentou uma multidão de famintos, andou sobre as águas, defendeu os estrangeiros e até mesmo ressuscitou mortos. Diante do sofrimento, Jesus se empenhava por sinais de vida, de superação do sofrimento. Lutar por sinais de vida, isso também é necessário para alimentar a nossa fé. A aprendizagem na fé não ocorre somente de forma abstrata e intelectual, mas precisa integrar elementos palpáveis, momentos vivenciais e situações concretas.

Aquele senhor no início dessa meditação dizia que a vida não era justa porque Jesus foi condenado, ele que só fazia o bem. No entanto, Jesus não veio para este mundo para nos mostrar como se vive bem. Ele veio para nos mostrar que atitudes Deus espera de cada um de nós para enfrentar esta vida injusta. Quem confia em Deus não se conforma com as injustiças desta vida. Ele não se conforma com a presença constante dos sinais de morte.

A mensagem e a ressurreição de Jesus nos dizem que a fé cristã não se conforma com a morte. Jesus mostrou que Deus não quer nos deixar largados ao azar desta vida. Jesus curou doentes, libertou pessoas atormentadas. Sua mensagem trouxe conforto e consolo para muitos. Não foi o conformismo que curou o paralítico, o leproso, o cego Bartimeu, a filha de Jairo, a mulher que sofria há doze anos com uma hemorragia. Elas encontraram ajuda em Jesus porque lutavam contra a sua situação, não se conformaram, não resignaram.

Os sinais de morte neste mundo e o sofrimento que eles causam não são vontade de Deus. Deus não se alegra com o sofrimento de ninguém. A existência dos sinais de morte denuncia as injustiças neste mundo e a falta de solidariedade entre nós. A maior parte do sofrimento humano e da natureza pode ser transformada. E naquelas situações onde não podemos fazer mais nada, ali ainda podemos ser solidários e não deixar que a pessoa sofra sozinha.

Mensagens que pregam o conformismo não vêm do evangelho. A fé em Deus não pede resignação ao sofrimento humano. A fé cristã deve afrontar o sofrimento, deve superá-lo. Quem tem fé luta, busca forças em Deus para resistir. E quando já não pudermos lutar porque a morte física parece ter-nos derrotado, então podemos confiar que Deus mesmo lutará contra a morte por nós.

Uma senhora lá no Equador passou vários anos acamada. Nos seus últimos momentos de vida, ela me pediu que na cerimônia de sepultamento eu colocasse uma colher de sobremesa nas suas mãos. Eu perguntei a ela qual era o sentido disso, e ela me disse o seguinte: Quando eu participava de um almoço ou jantar, depois que os pratos eram retirados da mesa, ainda ficava a colher de sobremesa. A colher de sobremesa era o sinal de que algo bom ainda estava por vir. Desta forma, minha fé em Deus me diz que, apesar de ter lutado nesta vida pela paz com justiça, agora que chegou a minha morte, eu sei que algo bom ainda está por vir.

É por isso que a fé em Deus é tão importante na nossa vida. A vida por si só não é justa, mas a fé em Deus nos fortalece para lutar por uma vida digna. Quem confi a em Deus vai encontrar na fé em Deus fortaleza para resistir e lutar contra as fatalidades da vida. A vida e a ressurreição de Jesus nos mostram o enorme poder de Deus, que não nos desamparará.

Só entende a ressurreição quem a recebe como um milagre de Deus. Quem confia em Deus no meio das tempestades da vida entenderá as palavras de Isaías 43.1-2 e a palavra de Jesus, que promete: Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28.20) .

A ressurreição é um protesto de Deus contra os sinais de morte e contra a própria morte em si. O Deus Criador e Doador da vida nos faz ver, pela fé em Jesus Cristo, os espaços de esperança que ele mesmo abre e vão além de nosso campo de visão e de nossas forças. Assim como Deus não se deixou vencer por aqueles que decretaram a morte de Jesus Cristo na cruz, assim ele não quer que nenhum de seus filhos e filhas se deixe vencer pelos sinais de morte. Tu duvidas? Pois confia em Deus, luta contra os sinais de morte ao teu redor, e verás. Amém.

3. Recursos litúrgicos

Confissão de pecados: “A grande culpa do ser humano não são os pecados que ele comete. A tentação é poderosa e sua resistência é pequena. A grande culpa do ser humano consiste em poder se arrepender a qualquer instante – e não o fazer”
(Rabí Bunam).

Oremos: Misericordioso Deus, que nos perdoas e sempre nos dás uma nova oportunidade de vivermos como teus filhos e filhas, para nós é difícil perdoar uma vez, muito mais setenta vezes sete. Mas sabemos que a falta de perdão quebra a comunhão entre nós, enfraquece nossa fé em ti e começamos a carregar intrigas, desgostos, rancor, ofensas e a guardar ressentimentos. Isso nos faz muito mal. Ajuda-nos, Senhor, no esforço para perdoar e assim podermos outra vez ter paz em nosso coração. Em nome de Jesus, Amém.
Pelas dores deste mundo...

Anúncio da graça de Deus: Aquele que atravessa portas trancadas para trazer paz, aquele que se coloca diante dos olhos das pessoas que duvidam e dissipa todo medo, ele quer aproximar-se também de ti. Que Deus nos torne audazes na fé, puros no amor e inflame nossos corações e línguas para despertar a comunidade. E ainda que nossos olhos não possam perscrutar seu plano, tenhamos confiança que ele nos levará das trevas à luz, arrebentará trancas e fechaduras (Friedrich Spitta). Assim Deus alivie e fortaleça o teu coração. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Que isso nos leve a cantar alegremente: Aleluia!

Oração de intercessão: (Para preparar essa oração: Na hora do temporal, quando falta energia elétrica, uma pequena vela é sufi ciente para nos orientar. Deus quer nos orientar também nos temporais da vida. Ter um local preparado com tijolos, por exemplo, e convidar as pessoas da comunidade reunida para acender uma pequena vela (tea light), pedindo que a luz de Deus brilhe sobre uma pessoa querida que atravessa um momento difícil em sua vida, para que ela não perca a fé e as forças para continuar lutando. Durante esse momento espontâneo, pode-se cantar suavemente a canção “Cuida bem, Senhor”, do Grupo Ânima.

Oremos: Senhor, ajuda-nos a silenciar. As agitações do dia confundem os nossos pensamentos. Imagens nos afligem, notícias e discussões dispersam as nossas forças. Que a tua paz venha sobre nós como a sombra das nuvens em um dia de forte calor. Que vejamos chegar a tua justiça como um nevoeiro que aparece por cima da serra, e que aos poucos vai se tornando mais denso, até que a chuva caia suavemente sobre a terra e faz brotar um perfume da terra agradecida. Que a dignidade dos humildes não seja vendida nos mercados. Que os meninos e as meninas adolescentes não tenham que se vender nas ruas. Que nada seja mais sagrado do que teu tempo sagrado: as pessoas. Que não haja um só rincão de nossa pátria (continente latino-americano) que não receba a atenção e os serviços merecidos. Que nossa maior glória seja a dignidade dos mais pobres e a tranquilidade dos desamparados. Resgata-nos, Senhor, do inferno de todas as violências: da guerra, das ditaduras, da impunidade, da corrupção, das dívidas e dos ajustes, dos governos impopulares e da riqueza depredatória sem medida. Que as riquezas que tu nos presenteaste sejam retiradas da mãe terra sem forçá-la, para que também nossos netos e netas possam um dia desfrutá-las. Pai nosso...

Bênção: Que Deus te dê para cada tempestade um arco-íris; para cada lágrima um sorriso; para cada provação uma bênção; para cada problema, que Deus te traga alguém fiel que te faça olhar para o seu amor e, assim, fortaleça a tua fé e a necessidade de continuar a tua luta. Que Deus te faça ver uma resposta para cada oração. Assim te abençoe Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.


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Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2017 / Volume: 42
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50150

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Nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte nem a vida; nem o presente nem o futuro.
Romanos 8.38
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