Prédica: Lucas 8.26-39
Leituras: Isaías 65.1-9 e Gálatas 3.23-39
Autoria: Marcelo Jung
Data Litúrgica: 2º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 19/06/2022
Proclamar Libertação - Volume: XLVI
Em sintonia com Jesus Cristo e a sua salvação
1. Introdução
Estamos no início do tempo após Pentecostes. É tempo da comunidade cristã lembrar de modo especial e celebrar a realidade do Espírito Santo enviado do Pai e do Filho. Espírito Santo que, pela Palavra, chama à fé e cria a fé; cria, reúne e mantém a comunidade cristã; capacita e move a comunidade cristã para a comunhão e para o testemunho de Jesus Cristo; concede nova vida e capacita para nova vida em Jesus Cristo; cria e alimenta a esperança na ressurreição e na vida eterna em Jesus Cristo, nosso Senhor.
O texto da prédica e os textos para as leituras estão sintonizados com a ação do Espírito Santo. No Espírito Santo, os discípulos receberam poder para serem testemunhas de Jesus Cristo desde Jerusalém até aos confins da terra (At 1.8); desde os judeus até aos gentios; desde o povo escolhido para ser bênção de Deus até os povos escolhidos para receber a bênção de Deus (Gn 12.1-3). Isaías 65.1-9 profetiza o que se concretizará em Atos dos Apóstolos. Deus revelará seu amor e salvação em Jesus Cristo e grande parte do povo judeu o rejeitará como Messias e a salvação em seu nome. A salvação se estenderá aos gentios e esses a receberão (At 28.17-28). Gálatas 3.23-29 desenha o mesmo movimento: os gentios – todas as pessoas, sem distinção – recebem a salvação em Jesus Cristo que foi revelada aos judeus e rejeitada por muitos deles. Todas as pessoas, sem exceção, são alvo do amor de Deus e da salvação em Jesus Cristo.
Lucas (que é também o autor de Atos), em seu evangelho registra muitas marcas dessa oferta da salvação em Jesus Cristo destinada não a um só tipo de pessoas (judeus fiéis à Lei – como pensavam os judeus no tempo de Jesus), mas a todas as pessoas (homens, mulheres, crianças, idosos, ricos e pobres), inclusive a pessoas consideradas, pelos judeus, excluídas do relacionamento com Deus (publicanos, prostitutas, pecadores, samaritanos e estrangeiros/gentios). Nesse sentido, muito significativas são algumas das parábolas que encontramos apenas no Evangelho segundo Lucas: o bom samaritano (10.25-37), as parábolas da festa no céu pelos perdidos que foram achados (15), a parábola do fariseu e do publicano (18.1-14) e outras.
Lucas 8.26-39 relata Jesus Cristo fazendo o mesmo movimento que marca toda a sua obra (evangelho e Atos dos Apóstolos): dos judeus em direção aos gentios. Jesus Cristo, vindo dos judeus, se dirige propositalmente aos povos estrangeiros, se manifesta graciosamente a eles e oferece, também a eles, a sua salvação – a reconciliação com Deus para uma nova vida.
2. Exegese
1. Lucas indica claramente que Jesus Cristo se dirige intencionalmente aos estrangeiros / excluídos da religião judaica: a) Sua ida para a região dos gerasenos não foi um acaso ou um acidente. É intencional, por isso a ordem aos discípulos, quando estavam na Galileia: entrou ele num barco em companhia dos seus discípulos e disse-lhes: Passemos para a outra margem do lago (8.22). b) Após a tempestade – enfrentada e acalmada – no mar da Galileia (8.23-25), navegaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galileia (v. 26). Essa região localizava-se exatamente em frente à região Galileia, no lado oriental do mar da Galileia. Sua população era formada por muitos gentios (povos não judeus) e nela predominava a cultura helenística grega (pagã). c) A criação de porcos (v. 32) é um sinal da cultura e religião não judia, visto que para os judeus os porcos eram animais considerados impuros e, por isso, proibidos (Lv 11.7; Dt 14.8). d) O nome com que no relato se identificam os demônios. Legião (v. 30) indica uma provável adesão ao sistema provincial romano naquela região. Era a designação para a maior unidade do exército romano, que contava com seis mil soldados em sua força total. Para os judeus, quem aderia ao Império Romano era considerado inimigo.
Jesus Cristo foi ao encontro e em busca de gente que, na compreensão religiosa e política dos judeus, era impura e inimiga e, por isso, excluída da possibilidade do relacionamento de paz com Deus e com o povo de Deus. Jesus Cristo foi em direção do povo que não perguntava por Deus, que não o buscava, que não se chamava do seu nome (Is 65.1). Lá, Jesus Cristo teve um encontro com um homem que estava “mais além” da exclusão da possibilidade do relacionamento de paz com Deus e com o povo de Deus, um homem possesso de demônios (v. 27), muito demônios (v. 30), tantos que se identificavam como legião (v. 30 – corresponde ao número seis mil) e que, ao terem sido expulsos do homem, dominaram uma grande manada de porcos (v. 32). O evangelista Marcos registrou que eram cerca de dois mil porcos (Mc 5.13). O grande número de porcos é uma evidência do grande número de demônios que estava naquele homem. Em virtude da possessão demoníaca, o homem estava em estado deplorável, não se vestia, não habitava em casa [...] vivia nos sepulcros (v. 27); era uma “não pessoa” que alguns tentavam conservar preso com cadeias e grilhões (v. 29), mas o homem possesso a tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto (v. 29). Sepulcros e deserto eram entendidos como lugares preferidos dos demônios. No pensamento da religião judaica, aquele homem estava, não apenas excluído, mas extremamente excluído, “bem pra lá de excluído”, da possibilidade de relacionamento de paz com Deus e com o povo de Deus.
2. Lucas descreve que àquele povo excluído e àquele homem “bem pra lá de excluído” da possibilidade do relacionamento de paz com Deus e com o povo de Deus Jesus Cristo graciosamente manifesta quem ele é:
a) Jesus Cristo tem total autoridade sobre os demônios. O homem possesso prostrou-se diante dele (v. 28) – essa expressão carrega o sentido de um temor gerado por um reconhecimento (cf. Mc 3.11; 5.33; 7.25; Lc 5.8; 8.47; At 16.29), os demônios temem porque reconhecem que Jesus tem poder para atormentá-los (v. 28) e lançá-los no abismo (v. 31) – essas expressões são usadas para a descrição da execução, por Deus, do juízo final sobre os demônios (tormento: Ap 14.10; 20.10; e lançar no abismo: Ap 20.3 – LOUW; NIDA, 2013, p. 437 e p. 9). É por isso que Mateus registra vieste aqui atormentar-nos antes do tempo? (Mt 8.29). Com autoridade Jesus não fez um pedido, mas ordenou ao espírito que saísse do homem (v. 29); anunciou o que deveria ser feito (LOUW; NIDA, 2013, p. 381). E, por fim, os demônios precisam da permissão de Jesus e só podem fazer o que Jesus permite (v. 32).
b) Jesus Cristo tem compaixão do homem “bem pra lá de excluído” e estende a ele a sua salvação. Pela ação salvífica de Jesus, o homem foi transformado. Lembre-se de suas características antes da libertação que Jesus lhe concedeu (v. 27,29). Agora, liberto por Jesus Cristo, estava sem um demônio sequer, vestido, em perfeito juízo (lit. com capacidade de raciocinar e pensar de forma adequada e sadia – LOUW; NIDA, 2013, p. 316), assentado aos pés de Jesus (v. 35). Sua vida foi restaurada por fora e por dentro. E ele está na posição de discípulo. Assentar-se aos pés de alguém é uma posição de discipulado – cf. Maria, irmã de Marta e Lázaro, diante de Jesus (Lc 10.39) e Paulo diante do Rabi Gamaliel (At 22.3). Por fim, a ação de Jesus fez do homem possesso um homem salvo (v. 38). A expressão tem o sentido de cura após um período de enfermidade (LOUW; NIDA, 2013, p. 241), de resgate do perigo e restauração de estado anterior de segurança e bem-estar (LOUW; NIDA, 2013, p. 216) e da experiência da salvação divina (LOUW; NIDA, 2013, p. 217). Ao que parece, Jesus Cristo concedeu todas essas dimensões da salvação àquele homem “bem pra lá de excluído”.
c) Como parte integrante de libertar e salvar aquele homem “bem pra lá de excluído”, Jesus o acolhe e o envia como seu discípulo. O homem pede para Jesus que o deixasse estar com ele (v. 38), o que é uma dimensão importante e indispensável do discipulado (cf. Mc 3.13-14). Mas Jesus lhe confere outra dimensão importante e indispensável do discipulado: Jesus o despediu dizendo: Volta para a casa e conta aos teus o que Deus fez por ti (v. 38-9). E o homem, como discípulo fiel, obedeceu: então, foi ele anunciando por toda a cidade todas as coisas que Jesus lhe tinha feito (v. 39). Vale observar que a expressão anunciar (kēryssō) é para Lucas uma palavra conceitual que descreve a ação da proclamação do evangelho (Lc 8.1; 24.47; At 8.5; 9.20; 10.42-43, 19.13; 20.25; 28.31). De certa forma, aquele homem “bem pra lá de excluído” que foi liberto e salvo por Jesus experimentou antecipadamente o que os demais discípulos experimentaram em Mateus 28.18-20 (ou mesmo At 1.8): o chamado para viver sob a autoridade de Jesus como discípulo, o envio para fazer novos discípulos, a obediência à palavra de Jesus e a certeza da presença de Jesus aonde quer que fosse.
d) Ainda é preciso observar um detalhe importante da manifestação de Jesus. Por ela, aquele homem reconheceu que Jesus é Deus, o único Deus. Jesus o despediu com a ordem de contar tudo o que Deus fez por ele. E o homem obedeceu e foi anunciando por toda a cidade todas as coisas que Jesus lhe tinha feito. E reconhecendo em Jesus o próprio Deus, o homem salvo por Jesus faz o que o povo de Deus deve fazer: ser testemunha de Jesus Cristo e sua salvação.
Somente em Jesus Cristo se encontra Deus como Deus gracioso que liberta e salva, que restaura a vida por dentro e por fora, que dá direção correta para viver em sintonia com Deus e com o povo de Deus. E só é possível encontrar Jesus Cristo porque ele vem ao nosso encontro. No caso do homem “bem pra lá de excluído”, o encontro foi em carne e osso; em nosso caso, o encontro se dá pela sua palavra e pelos sacramentos.
3. Lucas demonstra que a ação salvífica de Jesus entre os excluídos recebeu duas respostas distintas: aceitação e rejeição:
a) Após a libertação do homem possesso pela expulsão dos demônios realizada por Jesus, o homem creu em Jesus. Lucas não utiliza a expressão “crer” para descrever a reação do homem liberto, mas a sua resposta – aos pés de Jesus, o desejo de estar com Jesus, a obediência à palavra de Jesus, o testemunho do que Jesus fez e de que Jesus é Deus – corresponde ao que a Bíblia chama de fé em Jesus Cristo.
b) A população em geral também recebeu a ação salvífica de Jesus. Não da mesma maneira que o homem possesso que foi liberto, mas presenciaram a autoridade e o poder salvífico de Jesus de forma marcante, tanto é que foram anunciar (o acontecimento) na cidade e pelos campos (v. 34), ao voltar com o povo acharam o homem de quem saíram os demônios, vestido, em perfeito juízo, assentado aos pés de Jesus; e ficaram dominados de terror (v. 35) e podiam contar aos outros como fora salvo o endemoniado (v. 36). Mas sua resposta foi diferente do homem possesso que fora liberto: todo o povo da circunvizinhança dos gerasenos rogou-lhe que se retirasse deles, pois estavam possuídos de grande medo (v. 37). Apesar de nenhuma tradução fazer essa opção, a expressão retirasse (aperchomai) pode ser traduzida por deixar de existir ou desaparecer (LOUW; NIDA, p. 144). Em todo caso, a população não quer estar com Jesus, não quer ouvir sua palavra, não quer aderir ao discipulado; não quer obedecer-lhe, não quer reconhecê-lo como Deus; não quer testemunhar a respeito dele. E Jesus os atende, tomando de novo o barco, voltou (para a margem da região da Galileia) (v. 37). Chama a atenção que Lucas descreve a conversa de Jesus com o homem possesso que foi liberto somente depois de Jesus atender a resposta do povo que o rejeitou. Fica evidente que vida com Jesus Cristo e identificação com Jesus Cristo só existe mediante a fé em sua graciosa salvação (cf. em Efésios 2 a distinção da vida “sem Cristo” e a vida “em Cristo”).
A ação salvífica de Jesus foi manifestada para todas as pessoas, até para as consideradas excluídas e “bem pra lá de excluídas”, mas só experimentaram a reconciliação com Deus e a inclusão no povo de Jesus aquelas pessoas que creram nele. Essa realidade é a mesma que acontecia entre os judeus [que se julgavam incluídos no povo de Deus pela etnia e pela tradição religiosa]: ao receber (abundantemente) a manifestação salvífica de Jesus, alguns creram e outros rejeitaram; alguns, pela fé, foram incluídos no discipulado (no povo de Jesus), outros, pela descrença, permaneceram fora do discipulado (do povo de Jesus).
3. Meditação
Nesse tempo após Pentecostes, o texto indicado e as leituras bíblicas nos levam a refletir sobre três verdades fundamentais reveladas em Jesus Cristo e sua ação salvífica e nos convidam, como comunidade formada, discipulada, capacitada, dirigida e movida pelo Espírito Santo, a viver em sintonia com Jesus Cristo e sua obra salvífica.
1. Jesus Cristo vai ao encontro (e quer ir ao encontro) de quem nós não iríamos. Como cristãos, confessamos crer que Jesus Cristo conquistou a salvação e a destina e oferece para todas as pessoas, sem distinção. Confessamos que Jesus Cristo quer acolher todas as pessoas, sem distinção, em seu Reino. Contudo, é muito fácil cairmos na tentação de negar essa fé ao elaborar “listas” de quem pode e de quem não pode ser salvo. Facilmente caímos na tentação de configurar o evangelho à nossa imagem e semelhança e por ele julgar que podem ser salvas somente aquelas pessoas que, no plano das coisas inferiores, como diria Lutero (p. ex. organização social, modelo econômico, opção política, costumes, estilo de vida etc.), pensam como pensamos; que defendem os mesmos princípios que defendemos; que apoiam as mesmas propostas que apoiamos; que têm o mesmo estilo de vida que temos (ou, pelo menos, parecido com o nosso estilo de vida). Facilmente caímos na tentação de colocar no evangelho aquilo que não vem da Palavra de Deus, mas de nossas convicções e preferências, e, com isso, elaboramos listas de quem está incluído na oferta de salvação e que está excluído da oferta de salvação em Jesus Cristo.
Para os judeus (inclusive para os discípulos), os gerasenos e os gentios em geral estavam na lista dos excluídos da oferta da salvação. E o geraseno possesso de uma multidão de demônios, então, estava na lista dos “bem pra lá de excluídos” da oferta da salvação. Mas Jesus os tinha na sua lista de incluídos da oferta de salvação. Jesus foi em direção a eles. Jesus intencionalmente quis alcançá-los e oferecer a eles sua salvação; a reconciliação com Deus.
Somos lembrados que fomos alcançados, como pessoas individuais e como comunidade, por Jesus, sem que ele fizesse primeiro um exame de seleção para verificar se merecíamos ou não a sua salvação. Pela pregação do evangelho, Jesus, no poder do Espírito Santo, nos chamou e iluminou, nos concedeu a fé e nos incluiu no seu povo. É desejo de Jesus que por meio de nós outras pessoas sejam alcançadas com o evangelho, com o anúncio da salvação. É desejo de Jesus que não tenhamos listas de quem pode e de quem não pode ser salvo. É desejo de Jesus que anunciemos o evangelho e convidemos para salvação todas as pessoas, sem distinção, inclusive as que consideramos excluídas e até as que consideramos “bem pra lá de excluídas”.
Estamos em sintonia com nosso Senhor e sua salvação? Estamos em sintonia com seus planos conosco? Estamos vivendo guiados pelo Espírito Santo, ou seja, desejosos pela salvação de todas as pessoas e agindo de acordo? Fazemos listas de quem pode ser salvo e de quem não pode ser salvo? Quem são as pessoas na nossa lista de excluídos e dos “bem pra lá de excluídos”? Cremos que Jesus quer que levemos o anúncio da salvação para essas pessoas também? Nossos olhos estão abertos e nossos corações estão voltados para as pessoas que ainda não receberam o anúncio da salvação em Jesus Cristo? Nossos pés se movem em direção a elas?
Deixemo-nos questionar e julgar por essa verdade – toda e qualquer lista que julga quem pode e quem não pode ser salvo merece o juízo e a condenação de Deus. Mas também deixemo-nos consolar, motivar e impulsionar por ela. Jesus Cristo nos convida, ainda hoje, a ter apenas a lista dele. Ele nos convida, ainda hoje, a anunciar o evangelho e convidar à salvação todas as pessoas, sem distinção.
2. Jesus Cristo fez tudo o que é necessário e suficiente para a salvação / reconciliação com Deus em favor de todas as pessoas. O texto nos faz lembrar questões básicas da salvação em Jesus Cristo. Sua salvação não depende das pessoas a quem é oferecida, mas depende do que Jesus Cristo fez e faz pelas pessoas. Jesus não exigiu que o geraseno possesso de demônios primeiro melhorasse a vida para depois realizar sua ação salvífica em favor dele. Aliás, o geraseno possesso de demônios nem poderia fazer isso por si mesmo. Precisava da salvação de Jesus. E Jesus, por sua misericórdia e graça, fez tudo o que era necessário e suficiente para libertar aquele homem – também para todas as pessoas na região de Gadara e para seus discípulos.
Pela obra salvífica de Jesus é possível novidade vida. O que aconteceu com o geraseno que foi liberto por Jesus nos mostra que a resposta de fé à ação salvífica de Jesus se concretiza em colocar-se sob a autoridade de Jesus – Ele é o Senhor; viver como discípulo ou discípula dele; ouvir sua voz com confiança; obedecer a sua vontade; fazer novos discípulos e novas discípulas); contar com sua presença todos os dias até a consumação dos séculos – a vinda do Reino de Deus em sua totalidade.
Somos lembrados que ser incluído na reconciliação com Deus e no povo de Deus pela salvação em Jesus Cristo sempre se desdobra em viver novidade de vida: de inimigo de Deus para filho e filha de Deus; de separado de Deus para reconciliado com Deus; de escravo do diabo, do pecado, da morte e do inferno para liberto que pertence a Jesus Cristo; de viver a partir das próprias verdades, vontades e planos para viver a partir da verdade, vontade e plano de Deus revelados em Jesus Cristo; de viver para si mesmo para viver com Jesus e para Jesus, em testemunho do seu nome e em serviço ao próximo; de guiar-se por seu próprio espírito para ser guiado pelo Espírito Santo.
Temos vivido pessoal e comunitariamente essa realidade? Confiamos na ação salvífica de Jesus ou confiamos em nossas qualidades para a salvação? A salvação é apenas uma mensagem que recebemos ou uma realidade na qual vivemos pela ação do Espírito Santo? Na comunidade, cuidamos uns dos outros e motivamos uns aos outros a viver essa novidade de vida? Permanecemos nós em discipulado? Conduzimos nossos filhos e nossas filhas ao discipulado? Conduzimos ao discipulado as novas pessoas que chegam à comunidade? A salvação, dada a nós, tem se tornado viver em novidade de vida (cf. Rm 6.1-14)? Anunciamos a salvação sem perguntar a qualidade das pessoas a quem nos dirigimos?
Deixemo-nos questionar por essa verdade. Que ela nos julgue e nos acuse se precisarmos. Mas também deixemo-nos confortar por essa verdade. O convite para novidade de vida, pela salvação em Jesus Cristo, continua valendo.
3. Jesus Cristo (e sua salvação) pode ser aceito ou rejeitado. Sem dúvida e com muita evidência o texto nos revela que Jesus Cristo quer a salvação de todas as pessoas, sem distinção – das pessoas que estão em nossa “lista de incluídos”, em nossa “lista de excluídos” e, até em nossa “lista de bem pra lá de excluídos”. Mas também é muito evidente que as pessoas não são incluídas na salvação pelo fato de estarem em uma de nossas listas (“de incluídas” ou “de excluídas” ou “de bem pra lá de excluídas”). As pessoas (não importa em qual de nossas listas estejam) são incluídas – desfrutam a salvação – somente pela fé em Jesus Cristo. Jesus manifestou sua graciosa salvação diante de judeus, de gerasenos, de gentios, de possessos de demônios, de publicanos, de prostitutas, de fariseus, de pecadores, de sacerdotes, de pobres, de ricos, de homens, de mulheres, de crianças... de todas as pessoas. Todas as pessoas, sem distinção, receberam essa manifestação. Mas apenas as pessoas que confiaram em Jesus experimentaram a salvação – a novidade de vida.
É necessário destacar essa dimensão da salvação – aceitação e rejeição – em virtude de um pensamento presente nas modernas teologias genitivas. Em geral, as teologias genitivas afirmam e defendem que determinados grupos são incluídos e desfrutam a salvação pelo fato de serem de um determinado grupo: o branco é salvo porque é branco; o negro é salvo porque é negro; o germânico é salvo porque é germânico; o indígena é salvo porque é indígena; o homem é salvo porque é homem; a mulher é salva porque é mulher; o heterossexual é salvo porque é heterossexual; o homossexual é salvo porque é homossexual; o LGBT é salvo por ser LGBT; o pobre é salvo porque é pobre; o rico é salvo porque é rico; o popular é salvo porque é popular; a elite é salva porque é elite; o que não usa linguagem inclusiva é salvo porque não usa linguagem inclusiva; o que usa linguagem inclusiva é salvo porque usa linguagem inclusiva... e por aí vai. Quem quiser defender algo desse tipo é livre para defender, mas aí o evangelho não é mais evangelho revelado em Jesus Cristo. É evangelho configurado ao ser humano, no qual a dignidade humana está no ser humano em si e não no amor de Deus pelo ser humano, o pecado está apenas nas estruturas opressoras (no ambiente) e não no ser humano, e a salvação está apenas na libertação de opressões e não na restauração do relacionamento com Deus – que é o que gera nova vida e possibilita transformação do mundo, em pequenos sinais por enquanto e na sua totalidade quando o reino for consumado.
Somos lembrados que nada podemos fazer por nossa salvação e que nenhuma característica ou qualidade em nós nos faz merecedores de salvação e nos garante salvação. O amor de Jesus Cristo nos faz aceitáveis para a salvação. Jesus Cristo fez tudo para nossa salvação, nos anuncia isso no evangelho e, pelo evangelho, nos convida a crer e a desfrutar, pela fé, da salvação em novidade de vida – criada, mantida e guiada pelo Espírito Santo.
Em que evangelho depositamos nossa fé? Qual é a nossa resposta pessoal diante da salvação realizada por nós em Jesus Cristo? Que novidade de vida tem sido gerada em nós pela ação do Espírito Santo? Que evangelho anunciamos? O anúncio do Evangelho de Jesus Cristo, de nossa parte, tem sido puro e reto – tem oferecido salvação gratuita e tem evocado para uma resposta pessoal?
Deixemo-nos questionar por essa verdade. Que ela nos julgue e nos acuse se precisarmos. Mas também deixemo-nos confortar por ela. O convite para vida em sintonia para com o evangelho revelado em Jesus continua valendo. O convite para o seu anúncio puro e reto continua valendo.
4. Imagens para a prédica
Pode ser utilizada a imagem de um aparelho de rádio. Ele tem sua razão de existência e seu serviço adequado só quando está sintonizado com a rede de transmissão. Além disso, o aparelho, por si só, não cria mensagem e não transmite mensagem alguma – só ruído. Ele recebe mensagem e a transmite. A prédica nos convida a buscar por sintonia com Jesus Cristo e o seu Evangelho – o que pode ser feito pela oração, leitura e estudo da bíblia e meditação na palavra de Deus. A prédica convida-nos a transmitir o evangelho de forma pura e reta para todas as pessoas, sem distinção – o que nos desafia a não fazer nossas listas de “incluídos”, “excluídos” e “pra lá de excluídos”. Roguemos que Deus, no poder do Espírito Santo, nos faça pessoa, comunidade e igreja sintonizada com Jesus Cristo. 5. Subsídios litúrgicos
Liturgia de entrada: Hino HPD 1, 76 (LCI 461). É um hino próprio do tempo de Pentecostes. É um pedido pela ação graciosa do Espírito Santo que coloque e preserve a igreja em sintonia com o evangelho revelado em Jesus Cristo.
Liturgia da palavra: Hino HPD 1, 195 (LCI 170). É um hino de missão e evangelização adequado ao tema do texto indicado para a prédica. Expõe de modo evidente que a oferta da salvação é Jesus Cristo é destinada a todas as pessoas. Diante dela há pessoas que recebem pela fé e pessoas que rejeitam incrédulas.
Liturgia de saída: Hino HPD 1, 196. É um hino de missão e evangelização que anima a comunidade a viver em sintonia com a ação do Espírito Santo na proclamação do evangelho.
Bibliografia
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudos Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo NAA. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2018.
BÍBLIA. Português. Bíblia de estudo NTLH. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.
LOUW, Johannes; NIDA, Eugene. Léxico grego-português do Novo Testamento baseado em domínios semânticos. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.
NESTLE-ALAND. Novum Testamentum
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