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ID: 2690

Lucas 13.10-17

Auxílio Homilético

25/08/2019

Marcia Blasi
Ketlin Lais Schuchardt
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Prédica: Lucas 13.10-17
Leituras: Isaías 58.9b-14 e Hebreus 12.10-17
Autoria: Marcia Blasi e Ketlin Lais Schuchardt
Data Litúrgica: 11º.  Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 25 de agosto de 2019
Proclamar Libertação - Volume: XLIII

Como é viver encurvado?

1. Introdução

Mulher, você está curada – disse Jesus. Palavras simples e fascinantes nos são apresentadas no evangelho previsto para pregação neste domingo. Palavras simples, sem gritaria nem alarde, transformaram a vida da mulher encurvada e das pessoas que presenciaram a cena. O relato não apresenta uma longa lista de pedidos e súplicas manifestados pela mulher. Na verdade, a mulher nem ousou solicitar uma cura. É Jesus quem a vê, chama, toca e cura, libertando-a de viver “encurvada”.

Os textos que acompanham o evangelho também estão centrados na libertação e na promessa de vida boa. Isaías revela como é maravilhosa a promessa de Deus para todas aquelas pessoas que praticam a justiça, que vivem a solidariedade e se auxiliam mutuamente. A comunidade de hebreus também é chamada a viver com esperança e fé: Levantem suas mãos cansadas e fortaleçam os seus joelhos enfraquecidos (v. 12).

Lucas 13.10-17 foi trabalhado no Proclamar Libertação 37. Como já foi dito lá: “O tema que perpassa as leituras é o projeto de libertação de Deus. A libertação acontece em diferentes tempos e lugares, onde as pessoas clamam por ajuda e onde já não têm mais forças para lutar” (Blasi, 2012, v. 37, p.  257).

2. Exegese

A narrativa da cura de uma mulher por Jesus num sábado, enquanto ele ensinava na sinagoga, é contada apenas por Lucas. O texto enfatiza a missão de Jesus e o seu compromisso de vida plena para todas as pessoas. Jesus “usa” a cura para auxiliar as pessoas que estão na sinagoga a pensar como vivem e seguem as leis do sábado.

O texto inicia com a informação de que era sábado e Jesus estava numa sinagoga ensinando. O sábado era dia de descansar, aprender e ouvir a palavra de Deus na sinagoga. Pela tradição, sábado era dia de dedicar-se somente a Deus. Portanto não era permitido trabalhar. Era permitido dedicar-se ao convívio familiar e, aos homens, estudar a Torá.

Enquanto Jesus ensinava, entrou na sinagoga uma mulher que, por apresentar uma enfermidade, provavelmente era vista como impura. Mesmo  assim, podemos suspeitar que a presença dela ali implicasse uma devoção habitual. Isso explicaria também a fé que a tornou capaz de receber o poder curador de Jesus. O texto ressalta que por 18 anos andava encurvada em consequência de um “espírito de enfermidade”. A mulher estava doente e não conseguia se endireitar. Possivelmente tinha dificuldades e não conseguia olhar nos olhos das pessoas.

Essa mulher enferma recebe de Jesus o anúncio de que foi “liberta” (apolyo) de sua doença. Apolyo – no grego – pode ser traduzido por “libertar” ou “mandar embora”. Jesus não aguardou a permissão de quem quer que seja e, repleto de compaixão, proferiu a ordem no meio da reunião, curando a mulher. A consequência das palavras de Jesus é que ela anōrthōthē (foi endireitada novamente ou restaurada). Jesus restaura e liberta a mulher e garante sua pertença ao povo da aliança, mencionando que ela é filha de Abraão. Com a cura, a mulher passou a se movimentar com liberdade e proferir palavras de louvor e gratidão a Deus.

O chefe da sinagoga não se mostrou de acordo com o acontecido. Apesar de Isaías ter profetizado sobre a libertação das pessoas cativas e oprimidas, o chefe da sinagoga não conseguiu perceber a ação de Jesus como cumprimento dessa profecia, como ato de misericórdia, apenas como trabalho e descumprimento da lei. Não sem motivos, o homem é chamado de hipócrita. Em sua fala, ele acusa a mulher de ter vindo buscar a cura num sábado. Segundo ele, a mulher deveria vir à sinagoga para ser curada em dia útil da semana, como se ela já não tivesse feito isso nesses 18 anos. Mas esse texto não revela nenhuma ação da mulher, sendo assim injusta a acusação do chefe da sinagoga.

As palavras sábias de Jesus abriram caminhos para a experiência da graça de Deus. Nesse encontro e cura, Jesus mostra mais uma vez que veio para libertar as pessoas cativas de qualquer cativeiro em que estiverem sendo mantidas. O povo agradeceu a Deus e se alegrou por todas as coisas gloriosas.

3. Meditação

O Evangelho de Lucas conta a história de uma mulher encurvada durante 18 anos. Não foram 18 dias nem 18 meses, mas 18 longos anos! Segundo a cultura e religiosidade da época, a compreensão é que uma pessoa ficava doente por ação de um “espírito mau”, e com isso também era considerada impura. O que fica evidente é que ela não tinha nenhum poder para mudar aquela situação. A mulher vivia numa situação de profunda e dolorosa vergonha.

Viver “encurvada” faz parte da experiência de muitas pessoas. Encurvadas pela violência, pela pobreza, pelo medo, pela doença, pelos sentimentos de culpa e vergonha, ou mesmo uma mistura de tudo isso.

Há uma tendência a culpabilizar as pessoas pelo mal que sofrem. Isso era realidade na época de Jesus, quando doenças eram associadas a pecados e resultado do castigo divino (veja Jo 9.3). Essa compreensão ainda se faz presente na sociedade atual, mesmo que expressa de forma diferente. O preconceito e a discriminação ainda presentes na vida das pessoas que convivem com o vírus HIV, que eram muito mais “visíveis” nos anos 1980 e 1990, revelam que não estamos tão distantes daquela compreensão dos tempos bíblicos.

A culpa e a vergonha colocadas sobre os ombros de pessoas também encurvam e impedem o convívio em família e comunidade. A culpa, resultado de ações ou atitudes, de fazer algo errado, é muito mais fácil de ser remediada e perdoada. Com a vergonha é mais difícil. A vergonha não tem a ver com atitudes, mas com a compreensão de que somos pessoas indignas e não boas o suficiente. A vergonha é o sentimento de que tem algo muito errado com o próprio ser.

No texto de Lucas, a mulher poderia estar encurvada pela vergonha de sua situação. Ela tinha uma doença (espírito mau) e a cura estava fora do seu controle. Durante os longos 18 anos ela deve ter se perguntado muitas vezes: Por que eu? O que foi que eu fiz para merecer isso?

Ela estava tão encurvada na sua insignificância, que entrou na sinagoga e nem pediu pela cura. Talvez nem tenha visto quem ali ensinava. Provavelmente já tinha perdido a esperança de que algo mudaria. Mas Jesus a viu, compadeceu-se da condição dela e a curou. A mulher viveu uma experiência de graça. A graça veio e a encontrou ali onde ela estava: Mulher, você está curada! A mulher é tocada e se endireita. Ela faz a única coisa que alguém profundamente tocada pela graça pode fazer: louva a Deus!

4. Imagens para a prédica

Explorar com a comunidade como é viver encurvado. Antes de iniciar a leitura do evangelho, convide a comunidade a se colocar em pé e se encurvar para ouvir a leitura do texto bíblico. Combine que as pessoas podem se levantar quando ouvirem as palavras de Jesus “Mulher, você está curada!”.

Reflita com a comunidade sobre a experiência de ficar encurvado. Como as pessoas se sentiram? O que elas viram? O que doeu? O que você, como pregadora ou pregador, viu e sentiu? Como seria viver assim por longos 18 anos? Como é ouvir as palavras de libertação? O que faz uma pessoa ficar encurvada?

A pregação a partir daqui pode ser conectada com experiências vivenciadas no ministério local: violência doméstica, luto, doenças graves, racismo, pobreza, medo. O que “encurva” as pessoas na comunidade? Como a vergonha é experimentada pelas pessoas?

É muito importante deixar bastante claro que a libertação é projeto de Deus para todas as pessoas. Muros, preconceitos, interpretações que nós fazemos não limitam o amor e a graça de Deus, mas ferem, desanimam e deixam pessoas encurvadas. Nós somos convidadas e convidados a participar como colaboradoras e colaboradores de Deus para a libertação, servindo com os dons que de Deus recebemos. A partir da fé, podemos confiar no amor e na graça de Deus, afinal há coisas que não conseguimos explicar e que estão fora do nosso controle (isso faz parte de nossa humanidade).

Há muitas maneiras de experimentar a cura, e de graça. Algumas vezes Deus nos fala por pessoas amigas, por abraços carregados de carinho, por visitas que parecem ser de anjos. O amor e a graça de Deus nos encontram onde estivermos, estejamos preparadas e preparados ou não. O certo é que Deus age e liberta.

5. Subsídios litúrgicos

Hinos

Livro de Canto da IECLB, 613: Canto de esperança; 605: Momento novo.

Oração

(Oração pelas coisas que surgem, de Jan Richardson)

Por todas as coisas surgindo
do esconderijo das sombras,
do peso do desespero,
do quebrantamento da dor,
das restrições de conformidade,
da rigidez dos estereótipos,
da prisão do preconceito;
por todas as coisas surgindo
na vida, na esperança,
na cura, no poder,
em liberdade, em justiça;
oramos, ó Deus,
para todas as coisas surgindo.

Bibliografia

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Millennium, 1982. 6 v.
BLASI, Marcia. Lucas 13.10-17. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2012. v. 37, p. 257-261.


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Autor(a): Marcia Blasi e Ketlin Lais Schuchardt
Âmbito: IECLB
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2018 / Volume: 43
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50307

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Nenhum pecado merece maior castigo do que o que cometemos contra as crianças, quando não as educamos.
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